Chefe dos Jogos de Tóquio renuncia após fala sexista

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Publicado Sexta, 12 de Fevereiro de 2021 às 07:15, por: CdB

Yoshiro Mori gerou críticas generalizadas ao dizer que mulheres falam demais e atrasariam cronograma do evento. Incidente realça o debate sobre igualdade de gênero no Japão, um dos piores países no mundo neste quesito.

Por Redação, com DW - de Tóquio O presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o ex-primeiro-ministro Yoshiro Mori, renunciou ao cargo nesta sexta-feira, após fazer comentários sexistas que causaram uma onda de indignação internacional.
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"Meus comentários inadequados causaram um grande problema. Sinto muito", disse Yoshiro Mori em reunião do comitê
– Meus comentários inadequados causaram um grande problema. Sinto muito – disse Mori em uma reunião entre funcionários do alto escalão do comitê organizador. "Se minha presença causa problemas, nossos esforços alcançados até agora foram reduzidos a nada." A polêmica fala em questão foi uma resposta de Mori quando questionado sobre os planos do Comitê Olímpico do Japão em aumentar o número de mulheres de 20% para 40% em suas fileiras. "Ouvi alguém dizer que, se aumentarmos o número de mulheres no conselho, temos que regular o tempo de uso da palavra de alguma forma, ou nunca terminaremos", disse ele, na época. Inicialmente, Mori se desculpou, mas se recusou a renunciar. A postura do ex-primeiro-ministro atraiu críticas do Comitê Olímpico Internacional (COI), de patrocinadores, especialistas e provocou uma petição online que recolheu mais de 150 mil assinaturas.

"Absolutamente inadequado"

"O comentário (de Mori) é diferente de nossos valores e o consideramos lamentável", disse o presidente da Toyota Motor Corp., Akide Toyoda. A construtora japonesa é um dos principais patrocinadores do Comitê Olímpico Internacional e raramente fala sobre questões políticas. O próprio COI classificou a declaração de Mori como "absolutamente inadequada" e "em contradição" com suas diretrizes. As palavras de Mori também motivaram a retirada de centenas de voluntários japoneses inscritos para ajudar na organização dos Jogos e de corredores que iam participar do revezamento da Tocha Olímpica no Japão, cujo percurso está programado para o final de março. Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram adiadas no ano passado devido à pandemia do coronavírus. No momento, estão programadas para julho, seguidos pelos Jogos Paralímpicos um mês depois. O presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Andrew Parsons, afirmou esperar que todo o alvoroço em torno das declarações de Mori leve a uma mudança positiva na diversidade e inclusão. – Acredito firmemente que, de todas as situações ruins, algo bom deve sair disso – disse Parsons. "Espero sinceramente que a reação nacional e internacional dos últimos sete dias possa ser aproveitada para que a sociedade dê maior ênfase à diversidade e inclusão, não apenas em termos de representação de gênero, mais também de raça, sexualidade e pessoas com deficiência." Uma pesquisa recente no Japão apontou que 80% das pessoas preferem que os Jogos Olímpicos sejam cancelados ou adiados para o ano seguinte.

Substituto de Mori barrado

Como seu substituto, Mori indicou Saburo Kawabuchi, de 84 anos, ex-presidente do órgão regulador do futebol japonês e também ex-jogador de futebol. No entanto, após relatos de que o governo bloquearia a indicação, Kawabuchi recusou o pedido para assumir a chefia do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Analistas questionaram por que uma mulher não foi nomeada. A mídia japonesa apontou três candidatas, Kaori Yamaguchi, Mikako Kotani e Naoko Takahashi, todas ex-atletas, medalhistas olímpicas, qualificadas para o cargo e uma geração mais jovem. A questão levou a um amplo debate sobre o preconceito de gênero na sociedade japonesa. O Japão ocupa a 121ª posição entre 153 países nas classificações de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial. – Uma clara maioria dos japoneses considerou os comentários de Mori inaceitáveis, portanto o problema tem mais a ver com a falta de representação de mulheres em cargos de liderança. Este triste episódio pode ter o efeito de fortalecer o apelo por uma maior igualdade de gênero e diversidade nos corredores do poder – disse Koichi Nakano, cientista política da Universidade de Sophia, localizada em Tóquio. Após a renúncia, o Comitê Olímpico Internacional comunicou que está "mais comprometido do que nunca" em organizar os Jogos em meados deste ano. "O COI continuará trabalhando lado a lado com seu sucessor para garantir a segurança dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em 2021", disse o presidente da entidade, o alemão Thomas Bach, em comunicado.
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