É chegada a hora de uma CPI para Moro e Lava Jato

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Publicado Terça, 11 de Junho de 2019 às 06:42, por: CdB

Mensagens vazada para o site The Intercept Brasil, divulgadas no domingo, revelam o que os críticos da Operação Lava Jato denunciaram exaustivamente: Sergio Moro não agiu como um juiz, combinou com os procuradores e os instruiu sobre o que fazer para condenar e prender o ex-presidente Lula, impedindo sua candidatura à Presidência.

Por Umberto Martins - de São Paulo O ex-juiz, atual ministro da Justiça, incorreu em notórias ilegalidades e a cúpula do Congresso Nacional já admite a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os fatos, de acordo com reportagem do jornal Folha de São Paulo.
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Sergio Moro
Jair Bolsonaro, por sua vez, não se mexeu para defender seu funcionário. Prefere manter distância e a sensação que hoje predomina nos círculos políticos de Brasília é de que Moro pode ser jogado às feras do Congresso, onde tem poucos amigos, já que construiu sua fama enlameando a política e perseguindo políticos, especialmente Lula e outros líderes do PT. O ministro do governo de extrema direita trocou informações com o procurador Delton Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, a quem também instruiu na conspiração contra Lula e cobrou mais ação: “não é muito tempo sem operação?”, chegou a indagar numa das conversas vazada para o Intercept. A ilegalidade é transparente. Em um bate-papo Dallagnol confessou que não tinha certeza da ligação entre o processo do apartamento em Guarujá e a corrupção na Petrobras, alegada para que a ação contra Lula continuasse nas mãos do algoz Moro. A Constituição de 1988 não considera o Ministério Público parte integrante do Judiciário, atribuindo à instituição a representação da sociedade, enquanto ao Judiciário cabe julgar imparcialmente com base na denúncia e na defesa. O artigo 8º do Código de Ética da Magistratura dá a seguinte definição sobre o juiz imparcial: “É aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”. Já o Código Penal em seu artigo 254 prevê que o juiz se declare suspeito “se tiver aconselhado qualquer das partes”. E, finalmente, o mesmo código, prevê a nulidade do processo se ficar comprovada a suspeição do juiz. Ou seja, o respeito à Lei exige a anulação do julgamento que condenou Lula e sua imediata libertação. Sabemos, porém, que Lula é um preso político, e o novo escândalo é mais uma prova desta verdade. Por trás de sua detenção escondem-se interesses e forças poderosas. Se não fosse preso e impedido de participar das eleições de 2018 o maior líder popular da história do Brasil estaria hoje na Presidência da República. Sua prisão foi simplesmente fundamental para viabilizar a vitória de Jair Bolsonaro, que demonstrou consciência disto ao recompensar Sergio Moro com o Ministério da Justiça e lhe prometer uma vaga no STF, que a esta altura parece muito pouco provável. Moro agiu como um juiz fora da Lei em diferentes ocasiões. Uma das mais famosas foi quando vazou o conteúdo de um grampo ilegal de uma conversa entre Lula e a ex-presidente Dilma. Levou, então, um puxão de orelha do ex-ministro do STF, Teori Zavascki (morto em 2017), e se viu constrangido a pedir desculpas publicamente. Agora sua situação é bem mais delicada que à época. Para o governador do Maranhão, Flavio Dino, que também é jurista, "Sergio Moro deve se afatar ou ser afastado do Ministério da Justiça. Como que por ironia da história, o ex-juiz e os procuradores estão agora praguejando contra o “vazamento ilegal”, esquecendo-se de que inauguraram e defenderam a prática durante a implacável perseguição a Lula. Isto tudo remete a uma frase da canção “Aroeira” de Geraldo Vandré: “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Umberto Martins, é jornalista e autor do livro O golpe do capital contra o trabalho.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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