China e Índia são principal entrave ao BRICS, afirmam especialistas

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Publicado Sexta, 09 de Abril de 2021 às 14:22, por: CdB

Entre junho e julho de 2020, soldados da China e da Índia entraram em confronto na região contestada de Ladakh. Além de vítimas, o conflito gerou uma onda de provocações mútuas, notícias falsas e desconfiança. A análise dos fatos ocorreu durante encontro de especialistas, na capital russa, em seminário sobre o futuro dos BRICS.

Por Redação, com Sputnik Brasil - de Moscou

Apesar de o BRICS representar "o tipo de relações entre países que o mundo deseja, no século XXI, a rivalidade entre Índia e China ainda é obstáculo para maior integração, disseram especialistas durante debate realizado, na véspera, sobre as relações entre o BRICS e a União Europeia, ao longo do seminário organizado na capital russa pelo Clube Valdai de Discussões Internacionais. As relações entre a Europa e diversos integrantes do BRICS, como Brasil, Índia e África do Sul, foram historicamente marcadas pelo colonialismo.

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O Brasil é hoje um integrante apagado no BRICS, por conta das atitudes unilaterais do governo Bolsonaro contra os demais integrantes do grupo de países

— A Rússia diverge dos demais países do BRICS, uma vez que enfrentou e enfrenta conflitos em fase aguda com a Europa. Atualmente, a Rússia já não trata a Europa como um 'outro significativo'. Suas relações com a China, Índia e Brasil não são mais usadas como moeda de troca para seu relacionamento com o Ocidente — notou o diretor do programa Política Externa da Rússia da Escola Superior de Economia de Moscou, Dmitry Suslov.

Policentrismo

Além disso, "a Rússia nem sempre enxerga a Europa como um ente independente, mas sim como um ator fortemente influenciado pelos EUA”, acrescenta. Para o catedrático, diferente da União Europeia, os BRICS garantem um espaço de diálogo equitativo entre os membros.

— As relações entre os países do BRICS representam exatamente o que a Rússia espera de uma nova ordem mundial: policentrismo, diversidade e respeito às diferenças — frisou Suslov.

O diretor do Clube Valdai, Timofei Bordachev, concordou, dizendo que "no BRICS nenhum país pode impor seu ponto de vista a outro, nem se portar de maneira hegemônica, ao contrário do que vemos em alguns organismos ocidentais modernos".

— Os BRICS representam o tipo de relações entre países que queremos ver no século XXI — sublinhou Bordachev.

Pedra no sapato

Apesar do potencial, um dos maiores obstáculos para maior integração entre os países do BRICS é a rivalidade entre Índia e China.

— Mesmo que a China seja o maior parceiro comercial da Índia, essas relações econômicas não estão se traduzindo em um melhor relacionamento político", disse a pesquisadora Nivedita Kapoor, da Observer Research Foundation, à agência russa de notícias Sputnik Brasil.

Para o pesquisador Vasily Kashin, da Escola Superior de Economia de Moscou, em entrevista à agência russa, "para que as relações comerciais possam garantir melhores relações políticas, é necessário que essas relações econômicas sejam relativamente equilibradas”.

— O volume de comércio entre China e Índia é enorme, mas geram um déficit considerável para Nova Deli. Para fazer da economia uma base para as relações políticas, as partes terão que trabalhar muito — ponderou Kashin.

Provocações

Para Kapoor, "uma relação comercial forte não é o suficiente" para aplacar a rivalidade sino-indiana.

— Os acontecimentos no leste de Ladakh, que ocorreram no meio da pandemia, realmente estremeceram as bases políticas das relações entre Índia e China — disse a analista.

Entre junho e julho de 2020, soldados da China e da Índia entraram em confronto na região contestada de Ladakh. Além de vítimas, o conflito gerou uma onda de provocações mútuas, notícias falsas e desconfiança.

— A Índia atualmente tem uma forte percepção de que a ascensão da China como potência representa uma ameaça a sua segurança, especialmente porque (Pequim e Nova Deli) têm disputas territoriais — anotou Kapoor.

Tecnologia 5G

China e Índia não possuem fronteiras claramente delimitadas tanto na região de Ladakh, quanto na Caxemira, onde o contencioso ainda envolve o Paquistão.

— Os russos devem entender isso bem, uma vez que suas relações com a China só deslancharam depois de resolvidas as disputas fronteiriças — ressalta a especialista, fazendo referência aos conflitos sino-soviéticos de 1969 na parte leste da fronteira entre os países.

Para ela, "existem questões de segurança que não podem ser sanadas pelas relações econômicas".

— Por isso, a Índia está agora colocando sob escrutínio rígido os investimentos chineses no país, inclusive na questão sobre a (tecnologia) 5G — lembrou Kapoor.

Debates

De acordo com Kashin, "esses problemas poderiam ser resolvidos através do diálogo, mas as partes precisariam estar prontas para fazer concessões, o que nem sempre é o caso".

— A rivalidade entre Índia e China exigirá "trabalho diplomático árduo — por parte do BRICS, resumiu o especialista.

Especialistas em relações entre os países do BRICS estiveram reunidos em Moscou para debater os rumos do agrupamento e apresentar um relatório sobre suas relações com a União Europeia.

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