Cientistas rejeitam extinção de institutos ambientais em SP

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Publicado Sexta, 26 de Novembro de 2021 às 11:25, por: CdB

Governo de São Paulo quer fundir os institutos Geológico, Botânico e Florestal de São Paulo por meio da criação do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA). Em audiência na Câmara dos Deputados, entidades alertam para o impacto na produção de conhecimento.

Por Redação, com RBA - de São Paulo

 Em audiência pública realizada na tarde de quinta-feira na Câmara dos Deputados, parlamentares, entidades e ambientalistas repudiaram a extinção dos Institutos Geológico, Botânico e Florestal de São Paulo que o governo João Doria (PSDB) pretende realizar, criando pela fusão o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA). A extinção dos três órgãos consta no pacote fiscal da gestão tucana, aprovado pela Assembleia Legislativa em outubro de 2020.
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Criação do IPA "subordina toda a ciência e tecnologia, as instituições de pesquisas que se relacionam com o meio ambiente à política do agronegócio", aponta o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP)
Já em junho deste ano, um decreto determinou a criação do IPA, a despeito dos alertas da comunidade científica que qualificam a mudança como um “retrocesso”. Idealizador do debate, o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP) também critica a ideia do governo Doria. – Com a extinção desses institutos e a criação do IPA, São Paulo adota a mesma política que vem sendo adotada em âmbito federal – aponta. “Que é subordinar toda a ciência e tecnologia, e as instituições de pesquisas que se relacionam com o meio ambiente, à política do agronegócio, ao setor de exportação de commodities. Evidentemente isso é um prejuízo para o povo paulista e para o Brasil neste momento em que nós temos desafios na produção de alimentação sadia e principalmente para enfrentar a crise climática que São Paulo poderia estar contribuindo a partir de suas instituições”, contesta.

Produção de conhecimento em risco

Publicada em março, uma moção também observa que os órgãos de Botânica, Florestal e Geológica “possuem missões distintas”. O manifesto é encabeçado pelo Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) e conta com a assinatura de mais de 300 representantes da sociedade civil. “Não há sobreposição entre eles e nenhum fundamento ou motivação para a fusão em uma única instituição”, aponta o documento. Presidente do Proam, Carlos Bocuhy explica que a mudança promovida por Doria tem impactos na produção de conhecimento do estado. – O que percebo com essa perda com a fusão dos institutos é justamente esse caráter da especialização das áreas técnicas-científicas do estado para a formulação das políticas ambientais. Nós ficamos com pesquisas aplicadas que são muito mais interessantes para o setor privado. Por exemplo, plantio de pinos, eucalipto no cerrado paulista e outras possibilidades voltadas ao interesse econômico e não ao interesse estritamente público, que seria no momento defender a sociedade de um cenário adverso de mudanças climáticas. A fusão dos três institutos é extremamente negativa do ponto de vista operacional. E também do ponto de vista da geração de conhecimento em defesa da coisa pública – adverte Bocuhy.

Legado apagado

Com a criação do IPA, o estado de São Paulo alega, no entanto, que busca modernizar a gestão administrativa. A gestão paulista afirma que busca criar meios para aumentar a produção de pesquisas ambientais focadas nas necessidades contemporâneas da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. O argumento, porém, não é validado pela comunidade científica, que ressalta os avanços ao longo de décadas dos órgãos que foram extintos. Para a pesquisadora da área de Ecologia Helena Dutra, ao criar o IPA, o que o governo Doria faz é “apagar o legado e a história das demais instituições”. – Essas instituições têm muitos anos de existência, e isso não significa que elas sejam arcaicas, antigas, ou antiquadas. São instituições que caminharam, se modernizaram, acompanharam os avanços da ciência, da tecnologia, sempre produzindo conhecimento. Inclusive não só acompanhando os avanços da ciência, mas principalmente contribuindo para que eles acontecessem – garante. – O que se faz agora é tentar apagar o legado e a história dessas instituições, alegando uma modernização que não é real. O IPA não funciona, ele não existe de fato, não tem uma história. Não tem um legado científico para a sociedade e o meio ambiente. O IPA faz parte de um programa desse governo, específico do senhor João Doria, veio para que alguns pudessem carimbar seus nomes, achando que vão marcar seus nomes na história como criadores do Instituto de Pesquisas Ambientais, instituto esse que não vai além desse governo – lamenta a pesquisadora.
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