Para o político paulista, ex-executivo da companhia ferroviária Transnordestina e cearense de coração, ele é o político brasileiro “mais preparado” para dirigir os destinos do país. “Mais que todos”, afirma Ciro Gomes.
Por Redação, com BBC – de Londres
No berço do capitalismo, falando à velha British Broadcasting Corporation (BBC) — fundada no auge do império britânico, em 1922 — o ex-ministro do governo FHC Ciro Gomes, hoje no PDT, não poupou críticas ao líder petista Luiz Inácio Lula da Silva. No vídeo, publicado nesta segunda-feira, Ciro falou durante o Brazil Forum UK. O encontro reuniu, ainda, Claudia Sender, vice-presidente da companhia aérea Latam, Ester Dweck, PhD em Economia, e Sérgio Moro, juiz federal do Paraná, que coordena a Operação Lava Jato.
Para o político paulista, ex-executivo da companhia ferroviária Transnordestina e cearense de coração, ele é o político brasileiro “mais preparado” para dirigir os destinos do país. “Mais que todos”, afirma à interlocutora da BBC, a jornalista Fernanda Odilla. E acrescenta que o fato de aparecer com apenas 5% na preferência do eleitor “é provisório”.
Leia, adiante, algumas declarações de Ciro Gomes:
— O senhor estava trabalhando para a Transnordestina Logística, da CSN. Largou o emprego logo após a posse do governo então interino Michel Temer e voltou a fazer política em tempo integral. O senhor se considera uma antítese do que muito eleitor parece estar procurando neste momento? Já que está na moda eleger iniciantes ou aqueles que insistem em dizer que não são políticos?
— Alguns defeitos assim chamados meus, da minha vida pública, tipo uma certa franqueza, uma certa aspereza nas palavras, hoje são vistos como um valor, como não-hipócrita. E esse é um valor procurado. Mas eu, evidentemente, não aceito entrar nessa onda mentirosa, mistificadora de que um político não faz política ou quem faz política é um não-político. Isso é tudo uma leitura de marketing barato para tentar ser idiota e presumir que o povo é idiota. Na verdade, eu represento um projeto alternativo para o Brasil há muitos anos. Esse projeto tem se aperfeiçoado, tem se aprofundado, tem um pouco mais de lucidez, com os pontos nevrálgicos da questão socioeconômica brasileira e isso faz a diferença da minha personalidade no processo de debate no Brasil.
Provisório
— Falando em se colocar como uma terceira via, ou como uma possibilidade, o senhor tem dito que só sai candidato à presidente da República se o seu atual partido, o PDT, quiser. Mas as pesquisas mais recentes colocam o deputado federal Jair Bolsonaro e o prefeito de São Paulo, João Doria, como os únicos em condições de competir com o ex-presidente Lula. Como o senhor avalia esses resultados? O fato de o senhor estar estanque nos 5% das intenções de votos hoje pode ser motivo suficiente de o PDT desistir de lançar o seu nome?
— Sei bastante bem com minha experiência o que isso significa. Uma pessoa que pensa o que eu penso, que fala o que eu falo, que tem os conflitos que eu tenho ao longo de uma vida de 37 anos de experiência… Não tenho sequer um inquérito para ser absolvido e isso não é nada mais que uma obrigação. Mas nesses tempos horríveis que o Brasil está vivendo é um adicional de atributos que o país está procurando. Essas pesquisas, com a experiência que tenho, não representam absolutamente nada, a não ser o retrato desse momento.
E esse retrato é o de um povo machucado, 14,3 milhões de desempregados, quase 9 milhões de brasileiros empurrados para a informalidade, para o biscate, o trabalho na rua. A política para essas pessoas é um ruído, associado com esse escândalo de corrupção e, na hora própria, isso vai se alterar profundamente. Isso não quer dizer que eu inverta as coisas, mas isso tudo é provisório.
Rejeição
— E quando é a hora própria quando a gente pode começar a considerar as pesquisas, de fato?
— No Brasil, quando você começa a colocar na prateleira as alternativas concretas, reais e suas personas políticas, seus acompanhamentos e seus signos. O que que representa A, B, C ou D… Você vai ver claramente que isso só vai acontecer lá para julho de 2018. Hoje, por exemplo, se você fizer uma pesquisa espontânea, que você não induz as pessoas a repetirem o nome mais conhecido, o nome mais comentado presentemente, você vai ver que está todo mundo ali meio que japonês.
— Mas tem algo que pesa contra o senhor que é a rejeição. Pesquisa recente, divulgada essa semana, colocou o senhor com 56% de rejeição. O senhor se considera um adversário de si mesmo?
— Não, não. Hoje você deveria ler as pesquisas com uma mistura de notoriedade, ou seja, de nível de conhecimento, menção espontânea, que é preferência, e rejeição espontânea, que é aquela que conhece, mas não aceita. Evidentemente, a minha rejeição nesse momento é que eu não sou conhecido. Não estou no elenco de opções das pessoas, apesar de estar na estrada há tanto tempo e de ter sido candidato.
Sangue quente
— O senhor atribui a rejeição à fama de destemperado?
— Eu deveria merecer. Mas sou atacado não pelo que falo eventualmente de sangue quente. Eu realmente sou uma pessoa indignada. Na verdade, é uma coisa que se faz para desqualificar o que digo de sangue frio. Eu vivo contando aos brasileiros com números aquilo que é uma grande perversão do nosso país: o estado nacional brasileiro está montado como mecanismo de transferência de renda de quem trabalha e produz para quem especula. Só que os especuladores são dez mil famílias abastadas do país que controlam a grande mídia, que controlam os financiamentos das campanhas, as mediações tradicionais do país.
— O senhor acha que essas posições mais à esquerda repercutem ou soam de forma diferente para quem compartilha dessas ideias? Minha pergunta é: quem é de direita ou mais conservador, tolera determinadas coisas, por exemplo, o Bolsonaro, e quem é de esquerda tem um pouco mais de resistência?
— Com certeza. Eu sou considerado um comunista para a direita e sou considerado um direitista para a esquerda. Ou seja, estou na posição correta.
Socialista
— O que o senhor é? Como o senhor se define?
— Sou um socialista democrático em permanente revisão. No Brasil, até os adjetivos esquerda e direita são mal versados. Se você olhar, por exemplo, a economia política do PT, dos 13 anos Lula-Dilma, foi extremamente conservadora. Evidentemente com políticas sociais compensatórias de largo alcance que não estavam previstas no Consenso de Washington ou no Tatcherismo. No Brasil tem essa peculiaridade, é uma política social compensatória aquilo que qualifica a solidariedade aos mais pobres.
— Se eu entendi direito, o senhor acha que o Estado tem um papel importante a cumprir, principalmente para fazer justiça social. Mas do ponto de vista da moral e dos costumes, o senhor tem posições claras sobre aborto, união homoafetiva…
— É claro. A gente precisa aprender no século XXI a ser tolerante, a respeitar a diversidade, a respeitar as diferenças. E o chefe de Estado tem que dar exemplo disso. Evidentemente não tem que ser candidato a guru de costumes. Eu respeito a sociedade brasileira como ela é. Temos uma igreja católica que é extremamente solidária com os pobres, mas extremamente cripto-conservadora nesses termos de costumes. O chefe de Estado tem que entender isso, tem que compreender e respeitar isso. Mas, evidentemente, ninguém vai contar com minha opinião para estigmatizar seja quem for diferente, seja por qual razão.
Tolerância
— Se o senhor tiver que se definir: união homoafetiva, a favor ou contra?
— Eu pessoalmente já tenho uma opinião disso publicada em todas as áreas e a ideia é ser tolerante. Respeito a tolerância e a diferença, respeito todas as formas de amor. Acho que a mulher tem direito ao respeito a seu próprio corpo. O aborto é uma tragédia humana, social, mas, antes de tudo, é uma tragédia de saúde pública. As ricas fazem (aborto) na hora que querem nas clínicas clandestinas, sem problemas, e as pobres estão morrendo.
Tenho certeza que se o Estado acolhesse, aconselhasse, oferecesse uma adoção, se fizesse a mediação dos traumas familiares que as adolescentes experimentam ao se verem grávidas sem planejar, a quantidade de abortos cairia profundamente.
— Retomando o que o senhor disse, que é um comunista para a direita e um conservador para a esquerda. O senhor acha que o seu desempenho por ora nas pesquisas pode estar relacionado ao fato de ter passado por vários partidos? As pessoas têm um pouco de dificuldade de identificar o senhor…
— Em absoluto, se tem um político que tem uma linha de vida coerente, sou eu. Agora, de novo, como não podem dizer que sou um imoral, envolvido em corrupção, num escândalo, seja qual for. Como não se pode dizer que não fui um governante eficiente. Fui o mais popular, o melhor aprovado prefeito das capitais ao meu tempo. Quando ministro da Fazenda, administrei a economia brasileira e entreguei com inflação zero, praticamente com pleno emprego. Tem que se inventar um estigma qualquer…
Identidade
— Mas lhe falta identidade partidária?
— Falta a todos os políticos brasileiros, a 100% deles.
— Ao Lula também, por exemplo?
— Absolutamente. Olhe o que o Lula dizia, o que pensava e o que o PT representava antes do poder e o que é hoje. Veja a enorme distância entre uma coisa e outra. Veja o que o PSDB representava, quando nós fundamos o PSDB, e veja o que é hoje. Só mudo de partido para me manter coerente com minha linha de raciocínio, princípios, minha integridade moral e com meus compromissos ideológicos.
Veja como os critérios são diferentes. Pergunto qual político, tirando aqueles que não fizeram seu próprio partido como o Lula, que fez sua própria central sindical, qual o político brasileiro não mudou de partido nos últimos 20 anos? Nenhum. A Marina esteve em três partidos nos últimos três anos.
Coerência
— O senhor já passou por 7 partidos. Sete é muito.
— Mas eu tenho 37 anos de vida pública.
— Vamos dividir 37 por 7…
— Não é essa a questão não. Já fui incoerente alguma vez na vida? Veja uma opinião minha dita há 25 anos e compara com hoje.
— Falando em incoerência. Numa entrevista, em maio do ano passado, na qual lhe perguntaram se queria ser candidato e se o senhor concorreria contra o Lula, o senhor disse que se o ‘Lula for, melhor ainda’. Em entrevistas mais recentes, percebi que o senhor tem adotado uma outra posição. O senhor mudou de ideia do ano passado pra cá?
— Não. Se você reparar, é a mesma. Os fatos são complexos. Enquanto isso, uma certa imprensa nacional brasileira gosta muito de resumo e explicitações maniqueístas. Às vezes pago um pouco por isso. Não faz mal, estou acostumado. Eu só dependo de uma circunstância para ser candidato ou não: o PDT, o meu partido decidir que eu sou. Dito isso, tenho dito que não gostaria de ser candidato se o Lula for.
Por quê? Não é propriamente uma homenagem a ele, é porque na hora em que for candidato ele racha o país em bases odientas, rancorosas, violentas, como nós estamos assistindo aos lulistas e antilulistas. E o país não tem ambiente para discutir seu futuro. O Brasil precisa desesperadamente de um projeto novo, de novas práticas, de experimentar novas premissas do jogo político. Desesperadamente, precisamos disso.
Novela moralista
— Desculpa insistir com o senhor, mas o senhor falou claramente: se for com o Lula, melhor ainda…
— Às vezes você diz isso no calor da emoção. Mas eu estou dizendo a você que eu tenho me preparado para ser presidente do Brasil. Correndo o risco de ser mal compreendido, eu duvido que alguém tenha treinado mais do que eu, tenha se qualificado mais do que eu ou conheça mais do que eu as alternativas para o país. Mas isso é minha presunção. O povo brasileiro está hoje induzido por essa novela moralista, explosiva, em tempo nobre da televisão, a olhar o mundo pelo filtro do lulismo e do antilulismo. Isso acaba com o país.
— Falando nesse escândalo que está desde 2014 no noticiário, o senhor já foi professor de direito constitucional. O senhor acha que há tempo hábil para condenar o Lula em segunda instância e tirá-lo do jogo eleitoral?
— Nenhuma chance. Nem seria justo que acontecesse. Pelos tempos processuais brasileiros. Veja que o Lula está acusado em cinco processos e em nenhum deles ele foi julgado em primeira instância ainda. Não é provável. Nesse processo em que ele depôs recentemente, ele tem 86 testemunhas para serem ouvidas. Demora bastante.
Moro perdeu
— Como o senhor avaliou o depoimento dele em Curitiba, ao juiz Sergio Moro? E o juiz?
— Ele é um campeão da psicologia popular e o Moro um garoto. Não duvido que tenha boa fé, boa intenção. Esse negócio de aplauso demais e juventude acabam deformando demais as pessoas. Eu sei bem o que estou falando. O Lula trouxe o Moro para o campo dele, onde ele reina. O Moro seria um rei se fosse um juiz, um juiz severo, restrito aos autos, às leis, aos códigos. Aí ele seria absolutamente imbatível, mas não… Ele preferiu trocar ideias com o Lula, aceitar ser visualizado em capas de revista como antagônico.
Onde o juiz é antagônico, ele já perdeu. O juiz só merece respeito e acatamento se ele for um magistrado, se ele for a terceira parte, isenta, obediente à lei, severo na presunção da inocência dos acusados, garantidor da ampla defesa, do contraditório, e justo na hora de afirmar a sentença. Ele arrastou o Moro para a política.
‘Gravatinha borboleta’
— O senhor acha que o Moro sucumbiu?
— Sucumbiu completamente. Se ele condenar o Lula, todos os simpatizantes do Lula e nós outros que observamos o direito do ponto de vista profissional, acharemos injusto. A questão básica é a seguinte: como é que as capas das revistas nacionais põem num ringue um réu contra o juiz, isso já matou o juiz. O juiz não pode lutar, ele observa a luta, sentado numa cadeira, fora. O antagônico não pode ser o juiz. A direita brasileira é basicamente imbecil. Faz isso, acabou.
— Mas o senhor acha que o Sergio Moro tinha como se afastar disso?
— Claro, bastava que ele fosse um juiz. Parar de usar gravatinha borboleta, de circular por aí afora onde há holofotes, confraternizando com potenciais réus aos risos, isso não é juiz.
Vice de Lula
— O senhor recentemente disse que não queria ser vice de ninguém, mas nem do Lula, ou principalmente do Lula?
— Principalmente do Lula. Não há menor chance. Eu não concordo com a visão dele. Acho que nesse momento a candidatura dele desserve ao país e desserve a ele próprio. É evidente, para que amanhã não haja uma contradição no que eu estou dizendo, que na eleição você vota no que você quer, mas também naquilo que você nega. Então, eu no primeiro turno serei candidato, se o meu partido quiser, e no segundo turno, se eu não estiver presente, vou votar naquele que me parecer vizinho às minhas ideias e convicções.
— O senhor ainda acha que o Lula brincou de Deus e que ele é o grande responsável por tudo o que está acontecendo?
— Sem dúvida! O grande responsável por este momento político trágico que o Brasil está vivendo é o Lula, por que foi ele quem botou o Michel Temer na linha de sucessão. Ele que empoderou esse lado podre do PMDB, entregando, por exemplo, Furnas, e as “burras” de dinheiro de Furnas, pro seu Eduardo Cunha subornar parlamentares e virar presidente da Câmara.
Isso eu fui dizendo pra ele muitas vezes durante o processo todo. Por exemplo, quando circulou a notícia de que seria dada Furnas pra ele, eu fui ao Lula pessoalmente. Abri a biografia do Eduardo Cunha como ladrão, ladrão da Telerj, ladrão da Cedae, ladrão do fundo de pensão da Companhia Habitacional do Rio de Janeiro. E ele me disse categoricamente que estava sendo chantageado e que não daria, e no dia seguinte nomeou.
— Ele disse que estava sendo chantageado?
Eduardo Cunha
— Isso. Mas que não daria Furnas, e deu.
— Vamos pensar num cenário com o senhor como presidente. O senhor já disse que o PMDB seria automaticamente afastado para a oposição…
— O primeiro indício de que o meu governo fará história é que o PMDB será, pela primeira vez na história, oposição. E eu vou partir para destruir isso.
— Como é que isso pode ser possível? Porque ninguém nunca conseguiu governar sem o PMDB. O Lula começa, mas em 2003 …
— Ninguém conseguiu governar? Não é verdade não. O Itamar Franco governou sem essa escória. E eu servi a esse grande brasileiro como seu ministro. E um exemplo prático: Quando o Hargreaves (Henrique Hargreaves, ministro da Casa Civil de Itamar Franco), foi acusado de corrupção, Itamar o afastou, apesar de ser homem de confiança estrita dele, mandou apurar preventivamente e depois desagravou o Hargreaves e voltou.
E essa é a chave. No Brasil, já que o PT e o PSDB impuseram micro projetos de poder, se você tiver um projeto de nação tem que conseguir comunicar as bases desse projeto ao conjunto da sociedade, aí, o nível de chantagem a que você se obriga a se submeter será muito reduzido.
Elite estúpida
— Mas ainda assim, da forma como o modelo brasileiro está estruturado, o presidente é muito dependente do Congresso, quase refém.
— Ótimo que seja. O presidente não deve ser dono da bola, nem dono da verdade. Ele deve negociar com a sociedade, deve negociar com sua representação legítima. Eu não tenho nenhuma dificuldade nisso. Eu fui deputado estadual duas vezes, fui deputado federal, eu tenho muita experiência. Então o problema não é negociar, é em que linguagem você negocia. Quais são os limites de ética, de projeto e de valores com os quais você transige e aqueles em que você passa a linha e daí é pra trás.
E o Brasil não pode mais transigir pois está demonstrado que não dá em nada. Aliás, o Fernando Henrique perdeu a eleição para o Lula e a Dilma acabou com a democracia brasileira. Ambos caíram, ambos os projetos ruíram em desmoralização. Olha aí o que resta do PSDB. Ainda vai se defender que esse é o modelo?. Só uma elite estúpida como a nossa.
— O senhor acha que o PMDB é responsável por essa degradação?
— Não, o PMDB não. O PMDB apenas representa, na sua maioria, porque tem muita gente boa lá também, no (plano) simbólico, uma escória que hoje é hegemônica na política brasileira. Mas isso também inferniza muitos outros partidos.
— Mas perturba também quem está ocupando a cadeira no Palácio do Planalto…
— Mas isso é porque se entregou, ao longo dos últimos 20 anos, o poder a essa gente, poder central. Quem era o líder do governo Fernando Henrique no Senado?
— Romero Jucá.
Mocinha no bar
— O Romero Jucá foi líder no governo Lula e no governo Dilma. Então como é que pode? Está certo isso? Olha o que está acontecendo com o nosso país. Tem que mudar.
— Mas é justamente por isso que eu pergunto. Eles não conseguiram se livrar do PMDB…
— Não conseguiram, não. Eles quiseram subornar políticos para ter mais tempo de televisão e quiseram amordaçar as possibilidades de CPI. Essas são as duas únicas razões pelas quais se montou essa máquina de podridão no país, que está sangrando o Brasil. E não deu certo. Se tivesse dado certo, OK. É uma sabedoria, é uma transigência, uma concessão que se faz ao realismo político. Eu sou do ramo. Eu não sou uma mocinha que chegou ontem ao bar. Eu conheço tudo isso aí. Mas isso é mentira. Isso é a ciência do fracasso. É o oposto.
— Será possível um dia?
— Para sua geração é difícil. Mas repare, eu fui governador do Ceará, fui prefeito, tinha cinco vereadores em 41, o meu partido tinha. Governei praticamente com unanimidade. Então eu conheço o ramo. Agora se você fizer uma negociação correta… No caso brasileiro, as grandes mediações passam pelo pacto federativo, pelos governadores dos Estados. Se você fizer uma negociação ao redor de qualidade de teses
Bolsonaro
— Falando em personagens de peso e no Congresso, vamos falar sobre o deputado Jair Bolsonaro. Ele tem crescido, tem se destacado e ganhado uma visibilidade que nunca teve e ele está na Câmara há muitos anos. O senhor já chamou o Bolsonaro de tosco e disse que ele é franco. Também disse que ele ocupa uma função tática porque ele atrai parte daqueles que estavam alinhados com o PSDB. O senhor acha que quem verbaliza sem pudor uma posição extrema, controversa, é bom ou ruim?
— Para o país? É bom, claro. Sou um democrata visceral, de raiz. E fato ou não, há no Brasil um conjunto de pessoas – rapazes normalmente com um grave problema afetivo em casa, com crise de autoridade com o pai ausente – que precisa se expressar, categorias que inferiorizem os outros para que eles não se sintam tão nada. Eu entendo isso com meu coração.
O Jair representa isso. Ele fala com franqueza, com um certo caráter tosco, essas coisas. Ele cumpre um papel, na minha opinião, importante, porque ele aclara, ele tira o véu. E, basicamente, ele dá uma parada técnica, um pit stop, para esse eleitorado conservador que votava por antipetismo visceral no PSDB e que percebeu que o PSDB é uma grande fraude.
— Há quem diga que o senhor mede um pouco as palavras para falar do Bolsonaro.
— Eu meço primeiro e vou te explicar por quê. Primeiro, por isso que acabei de te dizer e segundo, porque ele votou em mim na eleição de 2002.
— O senhor tem medo de bater nele?
— Eu tenho medo de quê, mulher? Eu tenho coragem de mamar em onça. A guerra entre a turma dele e a minha na internet é uma coisa selvagem. Mas eu não. Tu achas que vou me preocupar com isso? Estou preocupado é com o Brasil.
O Doria
— Já o Doria… o senhor tem uma posição bem diferente em relação a ele…
— Porque esse é um farsante, perigoso. Certa elite brasileira, desencantada com a podridão do PSDB oficial, está embalando um novo Collor. É um farsante, perigoso para o país.
— Por que o senhor acha que ele é um farsante?
— Ele é um cara que encheu a burra de ganhar dinheiro com lobby. Como o cara é milionário e não tem uma roça, não tem um comércio, nunca produziu um parafuso? É uma fortuna, rodando de jatinho por aí afora. De onde veio esse dinheiro? Eu sei, lobby.
— Lobby do bem ou lobby do mal?
— Lobby puro e mal. Lobby de dinheiro público. Dinheiro dos cofres públicos de cofres públicos do PSDB, dos governos controlados pelo PSDB de São Paulo, Minas Gerais e muitos outros. Esses piqueniques todos são negócios de aproximação de empresário e de político, que é a arte dele. Ele foi presidente da Embratur e eu era prefeito de Fortaleza. Agora vem se apresentar de não-político? É um farsante.