O jornalista Merval Pereira, da Globo, um dos principais críticos das palestras conferidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, experimenta agora do próprio veneno.
Por Redação, com Viomundo e Intercept - de São Paulo
“Lula tinha toda condição de ser milionário, diante do preço que cobrava pelas palestras que diz ter feito a partir de 2010, mas precisa comprovar que elas existiram e que não eram alguma contrapartida de empreiteiras. A explicação fica complicada porque um dos diretores da Odebrecht afirmou ter sido preparado um esquema, com as palestras, para que o ex-presidente tivesse uma boa aposentadoria”, escreveu o jornalista Merval Pereira, de O Globo, GloboNews e Rádio CBN, sobre as palestras do ex-presidente. O trecho foi citado em reportagem do site Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha.
“Agora, o nome do global está metido num imbroglio entre a Fecomércio-RJ e a Confederação Nacional do Comércio (CNC), por causa de palestras contratadas sem licitação e fora dos objetivos do Senac. O caso deriva de uma auditoria na gestão de Orlando Diniz, amigo do ex-governador Sergio Cabral, que dirige o Senac-RJ e o SESC-RJ”, afirma.
Auditores
O relatório, publicado pelos repórteres George Marques e Ruben Berta no site de notícias brasileiro e norte-americano Intercept, pode levar à intervenção no Senac local; se o Conselho Fiscal do Senac nacional considerar que houve irregularidades. Segundo o Intercept, desde janeiro de 2016 o Senac do Rio já demitiu mais de mil funcionários.
O relatório da auditoria chama a atenção por várias dúvidas levantadas. Uma das principais diz respeito aos gastos com propaganda. Segundo os auditores, em 2015 o Senac-RJ gastou R$ 89,9 milhões em sua principal missão institucional, educação profissional, e R$ 74,5 milhões em eventos e publicidade.
Uma empresa de intermediação de publicidade recebeu R$ 91,1 milhões adiantados nos anos de 2015 e 2016. Seria dinheiro repassado depois a empresas de mídia. A Fecomércio-RJ é uma das patrocinadoras do RJ-TV, o principal telejornal local da Globo.
Globo envolvida
Outro ponto chamou a atenção dos auditores. Foi o gasto com palestras sem a realização de licitação e fora dos objetivos da entidade; sempre de acordo com a auditoria.
O objetivo do Senac: “Promover educação profissional com objetivo de gerar empregabilidade; competitividade e desenvolvimento econômico e social para o setor de comércio de bens, serviços e turismo do Estado do Rio de Janeiro”. Os auditores sugerem que seja devolvido aos cofres do Senac-RJ o dinheiro pago por palestras fora deste âmbito.
A devolução caberia aos responsáveis pela contratação irregular, não àqueles que foram contratados. Foram R$ 2,979 milhões pagos a jornalistas, comentaristas e analistas, todos ligados à Globo.
Auditoria
“Verificamos que a ligação dos prestadores de serviços com as Organizações Globo é uma das características singulares apresentadas com vistas a justificar a não observância do dever de licitar”, diz o texto da auditoria.
Quem mais recebeu em palestras foi Merval Pereira: R$ 375 mil.
Merval fez “análise prospectiva sobre o que o Governo Dilma pode fazer para evitar o impeachment no Congresso. E avaliação do que seria um novo governo de união nacional com a derrubada da presidente e a chegada de Michel Temer ao governo”. O governo de “união nacional” é supostamente aquele liderado por Temer em parceria com o PSDB.
No caso de Giuliana Morrone, apresentadora do Bom Dia Brasil em Brasília, os auditores apontaram falta de “eficiência, economicidade e razoabilidade” do Senac-RJ. Este aceitou romper contrato firmado e fechar um novo — com aumento de 94% no cachê das palestras.
Os auditores também questionam R$ 330 mil pagos à comentarista Cristiana Lobo, da GloboNews; “sem a comprovação da natureza singular dos serviços prestados”, o que exigiria licitação.
Palestras
A auditoria também sugere que sejam devolvidos aos cofres da entidade R$ 464 mil referentes à Semana Fecomércio de 2013; realizada no Copacabana Palace, que contou com uma palestra do ex-presidente Lula. Procurada pelo Intercept, a Fecomércio se disse vítima de perseguição política:
“Desde 2011, temos a convicção de que a CNC, que tem como presidente Antonio Oliveira Santos e Gil Siuffo na tesouraria, patrocina uma perseguição política contra a Fecomércio-RJ”.
Depois, disse que já encaminhou um relatório de 238 páginas rebatendo ponto-a-ponto a auditoria.