Com esquerdas unidas, Marina será eleita

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Publicado domingo, 15 de abril de 2018 as 20:02, por: CdB

Quem sabe chegou a hora do PT ter coragem de fazer sua autocrítica, reconhecer não ter o monopólio da esquerda e das lutas sociais. Mas, nesta altura, embora tendo sido um partido de diversas esquerdas na sua criação, é legítima a pergunta: o PT é ainda um partido de esquerda ou um partido populista que apostou no culto pessoal, perdeu seu programa e não preparou ninguém para ocupar o lugar de Lula?

Por Rui Martins, de Genebra:

Uma chapa Marina-Barbosa será imbatível

O candidato Bolsonaro da extrema-direita brasileira, uma espécie de ressurreição do PRONA, do Enéas Carneiro, e dos integralistas, conhecidos como galinhas verdes de Plínio Salgado, sofre da mesma rejeição da extremista francesa de direita, Marine Le Pen: tem um entusiasmado eleitorado conservador, nacionalista e reacionário, capaz de levá-lo até a vencer o primeiro turno das eleições presidenciais, porém não irá além de um máximo de 30% dos votos, um terço do eleitorado.

Na França, por duas vezes a Frente Nacional, o partido da extrema-direita, chegou ao segundo-turno. Na primeira, com seu fundador, Jean-Marie Le Pen; e, na segunda, com sua filha, Marine Le Pen.

A possibilidade de ter na presidência da França alguém considerado como próximo do nazifascismo fez com que, nessas duas vezes, todos os partidos democráticos, de direita e de esquerda, se unissem para evitar o desastre.

Assim, Jacques Chirac venceu com 82% dos votos e Macron, um neoliberal, recebeu 66% dos votos deixando para Marine Le Pen 34%. Mesmo a contragosto, o eleitorado de esquerda foi votar em Chirac e Macron, barrando assim o caminho aos que representam as ideologias derrotadas na Segunda Guerra.

Diante da ameaça Bolsonaro, acredito que as lideranças de direita e de esquerda pedirão aos seus eleitores para votarem juntos, no segundo turno, impedindo assim uma vitória da extrema-direita. Imagino eleitores petistas, do Psol ou da Rede votando no Alkmin ou Dória, e eleitores dos partidos de direita votando em Ciro, Marina ou Wagner, no segundo turno.

Diante da eliminação da candidatura Lula, a esquerda só terá chance de ir para o segundo turno na hipótese de um candidato único, hipótese atualmente remota. Entretanto, se Marina conseguir convencer o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, a ser seu vice, ou se Marina for vice de Barbosa, as primeiras sondagens mostram que essa chapa poderá chegar mesmo em primeiro lugar no primeiro turno, na frente de Bolsonaro.

É simples, as sondagens divulgadas hoje pela Folha dão 14% para Marina e 8% para Joaquim Barbosa. Unindo-se os dois, termos 22% bem na frente de Bolsonaro. Esperemos que o PT, na campanha eleitoral, não queira destruir, como fez em 2014, a concorrente de esquerda, para ser possível uma união no segundo turno.

É verdade que sem Lula, o PT perdeu sua força, pois em lugar de ter se construído em cima de um programa e ideologia, se baseou no culto de uma pessoa e por isso dificilmente irá ao segundo turno.

Quem sabe chegou a hora do PT ter coragem de fazer sua autocrítica, reconhecer não ter o monopólio da esquerda e das lutas sociais. Mas, nesta altura, embora tendo sido um partido de diversas esquerdas na sua criação, é legítima a pergunta: o PT é ainda um partido de esquerda ou um partido populista que apostou no culto pessoal, perdeu seu programa e não preparou ninguém para ocupar o lugar de Lula?

Rui Martinsjornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e  RFI.

Editor do Direto da Redação.