Como o nazismo começou na Alemanha - 2

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Publicado Quarta, 12 de Janeiro de 2022 às 10:18, por: CdB

Em 2013, houve, no Brasil, manifestações públicas comuns a várias tendências do pensamento político que, reprimidas violentamente pelos governos estaduais (com o beneplácito da Dilma Rousseff), descambaram para uma insanidade em 2018. Felizmente, o enredo do que correu na Alemanha anteriormente à 2ª Guerra Mundial não se reproduziu por aqui. Ainda assim, é sempre bom relembrarmos os exemplos negativos da história, pois isto nos ajuda a evitarmos que se repitam. (Esse foi o início, publicado em 4 de janeiro. Hoje, a sequência 2)

Por Dalton Rosado
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Dalton Rosado conta como depois da depressão surgiu Hitler
Em 1929 começou a grande depressão, que se prolongaria até o início da 2ª Guerra Mundial. Ainda combalida, a Alemanha sentiu duramente o novo baque. As análises nazistas de que os partidos próximos ao poder seriam incapazes de promover o almejado resgate da superioridade alemã passaram a ganhar força e apoio entre o povo alemão.
Nas eleições de 1932, Paul von Hindenburg, embora doente, concorreu à reeleição como único capaz de evitar a vitória do Partido Nazista e seus métodos violentos. O dito cujo ganhara notoriedade e prestígio à medida que se confirmavam suas previsões de depressão econômica. Assim apresentou Hitler como candidato.
O resultado confirmou o prestígio de Paul von Hindenburg, da coalizão de direita, com 53,05% dos votos no 2º turno, à frente de Hitler (36,77%) e Ernest Thälmann, do Partido Comunista (10,15%).
Já as eleições parlamentares de março de 1933, com 647 cadeiras em disputa, ocorreram sob violenta pressão dos hilfspolizei (polícia auxiliar), seis dias após o incêndio do Reichstag. Nelas se confirmou a ascensão do Partido Nazista, que obteve 43,91% dos voos e 288 cadeiras. O Partido Social-Democrata ficou com 120 cadeiras,  o Comunista com 81, o de Centro (católico) com 73 e o Popular Nacional Alemão com 52. As 33 restantes couberam, pulverizadas, a seis partidos menores.
O incêndio do Reichstag, ateado por um Adélio Bispo de Oliveira da época, deve igualmente ter sido uma farsa. 
Com a recuperação da economia e apoio dos capitalistas alemães que queriam também minar o poderio econômico judeu (combatido pelos nazistas), o poder político e influência do nazismo passou a ser poderoso e sua máquina de propaganda funcionava com os novos recursos midiáticos, inclusive pelas ondas do mais novo meio de comunicação – o rádio, bem aproveitado por Goebbels. (1)
Hindenburg não gostava de Hitler a quem se referia pejorativamente como cabo boêmio. Mas em política o jogo de pesos e contrapesos de interesses políticos e, principalmente, os econômicos, é que dita os comportamentos. A recuperação econômica alemã ocorria paralelamente ao aumento da influência nazista, o que lançava os grandes capitalistas alemães nos braços de Hitler.
Por livre e espontânea pressão, Hindenbrug, que dissolvera o Rechstag por duas vezes em 1932, fragilizado politicamente e doente, nomeou Hitler como chanceler em 1933, concedendo-lhe poderes de controle do parlamento alemão pelo Decreto de Fogo do Reischstag (o incêndio ardilosamente atribuído aos comunistas).
Com a morte de Hindenburg em 1934 Hitler deu o autogolpe. Absorveu o comando dos poderes Executivo e Legislativo tornando-se o führer und reichskanzier, uma espécie de guia supremo do que viria a ser o 3º Reich, que, projetado para durar mil anos, sucumbiu em 1945 sob os escombros de uma Berlim ocupada pelo Exército Vermelho.
Mentor intelectual de Hitler, o político escritor e dramaturgo Dietrich Eckart leva a fama de o haver inventado.
Desde já a exclusão social internacional, fundada na pretensão de um socialismo só para o povo alemão, bem demonstra o equívoco doutrinário de um pensamento:
— que combatia as teses comunistas de Karl Marx (um pensador judeu); e
— que, como todo trabalhismo, favorecia a permanência do trabalho produtor de valor.
[Ou seja, que necessitava do alimento primeiro e primário do capitalismo, a categoria primordial do universo da forma-valor: o trabalho abstrato, sem o qual não há capitalismo.]
O trabalhismo do nacional-socialismo alemão tinha um quê de apelo ao resgate do pleno emprego numa nação devastada pela inflação e pelo desemprego. A penúria do povo alemão era o combustível para o surgimento de um pretenso salvador da pátria que fosse capaz de personificar o führer (guia condutor) da glória alemã que pululava nas mentes dos formuladores de teses políticas e no subconsciente da massas que havia sido contaminadas desde há muito pelas fantasias sobre a potencialidade germânica.
Numa destas reuniões Dietrich Eckart conheceu o jovem, entusiasta e eloquente tribuno que levava os presentes ao júbilo com suas previsões grandiosas de resgate do orgulho alemão. Tratava-se do jovem Hitler, austríaco, artista plástico amador sem sucesso e que fora cabo do exército durante a 1ª Guerra Mundial.
O grande momento que marcaria o surgimento localizado do movimento baseado nas teses daquele grupo de pessoas auto-intituladas de nazista ocorreu durante um putsch planejado na cervejaria Burgebräukeller de Munique.
Nada mais era do que uma tentativa armada de tomada do poder estadual da Baviera (os estados tinham relativa autonomia) que foi sufocada pela polícia da cidade de Munique e que resultou na morte de 16 militantes, no ferimento à bala de outros e na prisão dos líderes do movimento.
Goebbels montou um formidável aparato de manipulação política, inspirador das redes bolsonaristas de fake news
Entre os feridos estava um herói da 1ª Guerra, o aviador Hermann Göring  (2), que conseguiu fugir para a Áustria e por lá ficou até que os acontecimentos se acalmassem ou tomassem outro rumo.
Foi na convalescência da doença e para minimizar as dores causadas pelos ferimentos que Göring se viciou em morfina, tormento que o acompanharia pelo resto dos seus dias.
PorDalton Rosado, advogado, jornalista, escritor, colaborador do blog Náufrago da Utopia)
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.
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