Angelo Rovati, um conselheiro do primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, que tinha recomendado que o Estado comprasse parte da Telecom Italia, renunciou nesta segunda-feira com o aumento das tensões ante a radical mudança estratégica do grupo. A renúncia de Rovati foi anunciada três dias depois do acionista controlador da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, ter abruptamente abandonado o posto de chairman do quinto maior grupo de telecomunicações da Europa.
As duas renúncias ressaltam as disputas políticas e econômicas do confronto entre a maior companhia de telecomunicações da Itália e o governo de centro-esquerda de Prodi, que se opõe fortemente à estratégia proposta pela Telecom Italia. O conflito colocou Prodi na defensiva política e o forçou a concordar em levar o assunto para o Parlamento em meio a acusações de que seu governo quer renacionalizar a Telecom Italia e outros setores-chaves.
As ações da Telecom Italia, sendo negociadas pela primeira vez desde a renúncia de Tronchetti, operavam em alta nesta segunda-feira enquanto o mercado aposta que o grupo vai eventualmente vender sua unidade móvel TIM, valorizada em cerca de 35 bilhões de euros, para reduzir suas dívidas. Às 9h30 (horário de Brasília), os papéis da Telecom Italia ganhavam 1,54 por cento. “Agora a venda da TIM é mais crível”, afirmou um operador.
– São notícias positivas – disse a analista do Rasbank Oriana Cardani, referindo-se à expectativa de que a Telecom Italia vá decidir vender a TIM.
A Telecom Italia, que por dois anos tentava integrar seus negócios de linha fixa e telefonia móvel, informou que planeja criar companhias separadas para suas redes e para sua unidade de telefonia celular TIM, como parte de novo controverso foco em banda larga e mídia. Seguindo adiante com essa estratégia, apenas dois dias depois da renúncia de Tronchetti, a Telecom Italia anunciou no domingo que concordou em comprar o negócio de acesso à Internet da AOL, controlada pela Time Warner, na Alemanha por 675 milhões de euros em dinheiro.
Venenosa
Rovati desencadeou uma tempestade política na semana passada quando veio a público que ele tinha enviado um relatório para Tronchetti recomendando que a Telecom Italia vendesse suas redes para o Estado. Críticos de Prodi aproveitaram a oportunidade e afirmaram que o primeiro-ministro estava interferindo na Telecom Italia e pretendia renacionalizar importantes setores da economia italiana.
Rovati afirmou que seu relatório foi feito por conta própria sem o conhecimento de Prodi. Mas no final, ele foi forçado a renunciar em meio ao crescente distúrbio político, dizendo que os inimigos do premiê italiano tinham manipulado seu relatório para prejudicar o primeiro-ministro.
– Vamos ver se isso ajuda a amenizar a atmosfera venenosa – afirmou Rovati em Pequim, onde Prodi se reuniu com o premiê Wen Jianao.