Van der Bellen, ambientalista e independente, foi eleito na Áustria com discurso que flertava com conservadorismo e o patriotismo. No poder, ele terá que conquistar a confiança da metade mais radical do eleitorado austríaco
Por Redação, com agências internacionais – de Viena
Como chefe dos verdes, Alexander Van der Bellen – eleito como presidente da Áustria neste domingo, segundo prognósticos – sempre defendeu uma sociedade aberta e multicultural. Durante a campanha eleitoral, ele também deu continuidade a esse curso.
— Resistamos à tentação de levantar novamente velhas cercas — declarou, sobre a política migratória.
Ao mesmo tempo, o professor de economia levou em consideração o clima crítico à imigração em seu país. Embora a Áustria seja um país aberto, argumentou durante a campanha, ali não há mais espaço para migrantes econômicos.
Túnel para rãs
Em sua página de internet, Van der Bellen se apresenta como um adepto das caminhadas, acompanhado com seus cachorros, na região do Tirol. Uma imagem ambígua. Tanto alude ao seu passado verde – ele participou da campanha eleitoral como candidato independente – quanto o mostra como um cidadão ligado às coisas de sua terra natal.
Em tempos de migração em massa, o conceito de “pátria” ganhou especial importância principalmente entre os eleitores conservadores.
— Acredito na nossa Áustria — anunciou Van der Bellen.
Para ele, não é especialmente difícil lidar com os conservadores. Pelo contrário: “Van der Bellen era o bem-humorado intelectual entre os ecologistas”, escreveu a revista Profil. “Podia-se dizer com razoável certeza que ele não investia seu tempo em construir túneis para rãs. Além disso, como professor, ele trouxe certo senso de realidade ao mundo maravilhoso dos verdes”.
Discurso de mudança
Consequentemente, durante sua campanha eleitoral, “VdB” perseguiu o caminho do meio-termo. “Precisamos de mudança, mas não de uma destruição das atuais circunstâncias”, lia-se em sua página de internet. No texto, também se afirmava que esta eleição presidencial apontaria um caminho. “Ou mais polarização e destruição do sistema ou mais cooperação e modificação do sistema. Eu sempre vou colocar a experiência unificadora à frente da separatista”.
Van der Bellen entrou relativamente tarde na política. Durante muito tempo, o professor de economia nas Universidades de Innsbruck e Viena simpatizou com os social-democratas. O plano de se construir uma usina hidrelétrica no rio Danúbio em 1984 foi a razão de ele se juntar aos verdes, que queriam impedir o projeto. Dez anos mais tarde, ele entrou no Parlamento austríaco pelo Partido Verde. O ponderado Van der Bellen contribuiu decididamente para a reunificação de um partido que se encontrava esfacelado.
Depois de seu partido, sua tarefa agora é reunificar o seu país. A apertada vitória de Van der Bellen, com apenas 53,3% dos votos, segundo prognósticos, mostra que ele ainda terá de convencer muitos austríacos de sua pessoa e de suas preferências políticas. Agora, Van der Bellen terá de ajudar sua pátria a reencontrar o equilíbrio político.
Onda neonazista
Apesar do discurso conservador, VdB esvazia a onda neonazista, de ultradireita que vem varrendo as democracias ocidentais. A apertada eleição do líder ‘verde’ foi ainda mais dramática, após a saída do Reino Unido da União Europeia e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Quando Norbert Hofer, do partido anti-imigração, anti-Islam Liberdade (FPO) perdeu, há seis meses, por uma pequena margem – teve 49,65% dos votos – os governos europeus respiraram aliviados. Enquanto isso, partidos de extrema direita como o Frente Nacional francês, comemoraram o desempenho recorde.
Enquanto parte dos trabalhadores austríacos apoiaram Hofer, eleitores com alto nível de formação preferiram seu oponente, Alexander Van der Bellen. Aos 72 anos, ele colocou o Brexit no centro da sua campanha, argumentando que Hofer quer propor também um referendo de saída da UE. Isso colocaria empregos em risco no país, pequeno e altamente dependente do comércio exterior.
Uma vitória de Hofer aumentaria o risco de dois ataques simultâneos para as bases políticas da UE.