Coronel denunciado por atentado ao Riocentro não responde Comissão

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Publicado quinta-feira, 31 de julho de 2014 as 14:07, por: CdB
Militar denunciado por atentado ao Riocentro não responde Comissão da Verdade
Militar denunciado por atentado ao Riocentro não responde Comissão da Verdade

O coronel Wilson Machado, dono do carro em que explodiu uma das bombas no atentado ao Riocentro, em 1981, compareceu  à Comissão Nacional da Verdade (CNV), mas se negou a responder às perguntas por afirmar que já prestou todos os esclarecimentos à Justiça. Segundo testemunhas e os dados levantados pela própria CNV, o, então, capitão estava no carro, se feriu com a explosão acidental e teve que ser socorrido, enquanto preparava o ataque ao show que reunia 20 mil pessoas.

Machado foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio doloso atentado duplamente qualificado, associação criminosa armada e transporte de explosivos, porém o processo foi declarado prescrito pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que, por dois votos a um, não reconheceu que era crime contra a humanidade, o que o impediria de prescrever mesmo 33 anos depois.

O militar reformado repetiu a estratégia de outros representados pelo advogado Rodrigo Roca, que compareceram à comissão ao longo da semana, mas se calaram diante dos questionamentos.

– Já prestei todos os esclarecimentos à Justiça Militar três vezes e fui julgado pelo Superior Tribunal Militar. Prestei esclarecimento ao Ministério Público duas vezes. Está tudo lá – afirmou ele, que destacou ter feito parte do destacamento de operações entre agosto de 1980 e abril de 1981, mês em que foi realizado o atentado, no dia 30.

Membros da comissão insistiram para que ele respondesse, e afirmaram que não se tratava de um processo judicial ou de um julgamento, mas sim de ouvir a versão dele para registro histórico. “Não estamos aqui por implicância ou por revolta com o ato por ele cometido”, chegou a dizer José Carlos Dias. Roca discordou e disse que os depoentes da comissão passam, sim, pelo crivo do judiciário e que, se eles comparecem e apresentam justificativa, é por uma questão de respeito.

Com o fim da sessão, Wilson Machado também ouviu perguntas da imprensa enquanto se retirava da sala, mas continuou calado. Já o advogado do militar mostrou irritação porque a imprensa não se retirou da sala como nas outras vezes: “Você deu sua palavra de homem e não cumpriu comigo”, chegou a dizer para o coordenador da comissão, Pedro Dallari, que afirmou que não havia sentido em retirar a imprensa da sala, já que nenhuma declaração seria dada por Wilson Machado. Roca disse ainda que nenhum de seus clientes voltará a “colaborar” com a CNV, pois Wilson foi vítima de “desrespeito e descortesia”: “Ele faltou com a promessa que fez a mim e a uma sala cheia de testemunhas”, afirmou, defendendo que o comparecimento, mesmo sem dar declarações, é uma colaboração.

O advogado também defende o general reformado José Antônio Nogueira Belham, cujo depoimento é considerado importante para a comissão, já que o militar comandava o Destacamento de Operações e Informações (DOI), do 1º Exército, em janeiro de 1971, quando o deputado federal Rubens Paiva foi morto por integrantes do DOI. Durante a sessão, ele havia se colocado à disposição para “compatibilizar as agendas”, já que a comissão não conseguiu ouvi-lo em Brasília, na semana passada, porque ele estava no Rio, nem na capital fluminense, nesta semana, porque ele alega estar em Brasília.

O coordenador da comissão afirmou que não faltou com sua palavra porque não fez perguntas a Wilson Machado na frente da imprensa, solicitando que falasse apenas para responder se diria algo ou não e para que dissesse suas palavras finais. Sobre a possibilidade de conduzir coercitivamente os próximos clientes de Roca, ele afirmou que não seria bom para ninguém: “Se um cliente dele se recusar a depor, a lei nos autoriza a condução coercitiva. Seria extremamente inadequado. Não seria bom nem para eles nem para a comissão”.

A colaboração de Wilson, na visão de Dallari, era importante para esclarecer a linha de comando por trás do atentado do Riocentro: “O Riocentro não foi um atentado feito por alguns lunáticos, foi organizado pelo regime militar em um contexto em que a utilização de atentados à bomba se deu de maneira sistemática no Brasil. Foram mais de 40, e o do Riocentro seria o mais trágico de todos. O esclarecimento de quem deu as ordens seria muito importante para a comissão“.