O PSB “não aprovará medidas ou apoiará medidas que produzam diminuição ou supressão de direitos salvo se estes representarem privilégios”. É o que diz o texto da carta assinada por Carlos Siqueira e endereçada a Temer
Por Redação – de Brasília e Rio de Janeiro
Governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) está prestes a fazer um estrago na base de apoio ao governo do presidente de facto, Michel Temer. Na manhã desta terça-feira, Câmara fez duras críticas críticas ao peemedebista. Afirmou que “esperava mais” de seu governo e, na sequencia, reforçou que o partido tende a desembarcar do golpe, em curso.
Câmara, vice-presidente do partido, reclamou da “falta diálogo do governo com a sociedade civil e gestores públicos”.
— Eu esperava mais (de Temer). Esperava que Temer conseguisse fazer um governo de união nacional mais ampla — afirmou, em entrevista à Rádio Jornal, do Recife.
Economia pífia
Para Câmara, o peemedebista faz governo “muito mais voltado para o Congresso”.
— Evidentemente que ele precisava aprovar medidas importantes, mas é preciso ampliar o leque de discussões e soluções junto aos governadores, prefeitos e à sociedade civil. Ele precisa fazer aquilo que disse que iria fazer: um governo de união nacional — disse.
Na quarta-feira, após reunião do diretório nacional, o PSB anunciou que vai medir mais cautelosamente o apoio a medidas do governo em relação à economia.
O PSB “não aprovará medidas ou apoiará medidas que produzam diminuição ou supressão de direitos salvo se estes representarem privilégios”. É o que diz o texto da carta assinada por Carlos Siqueira, presidente da legenda. Durante a reunião, importantes diretórios regionais já cogitam desembarcar do governo Temer. um deles é o do Rio Grande do Sul. A saída da base aliada, porém, precisa ser discutida em reunião da executiva nacional.
Descartável
O governo quer conter esse movimento do PSB para evitar que outros partidos aliados façam o mesmo tipo de ameaça, visando garantir benefícios federais. O PSB tem 34 deputados e 6 senadores.
“A partir do dia 1° de janeiro, Michel Temer é uma carta descartável, que pode ser jogada fora do jogo, porque sua substituição já poderá ser por via indireta.” A previsão é do cientista político, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSB Roberto Amaral.
Na opinião de Amaral, Temer “vai ser descartado” com base em uma de duas justificativas. “A primeira é o aumento das denúncias contra ele nas delações da Odebrecht, porque ele está sabidamente envolvido; a outra é a eventual decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de cassar a chapa Dilma-Temer. Pesam sobre ele essas duas espadas de Dâmocles”, diz Amaral. “Apesar da maioria que o governo tem no Congresso, e está demonstrando isso nas votações, é um governo fraco. O que se pode esperar é uma crise mais profunda em 2017”.
Jaburu
Na semana passada, o assessor especial do presidente, José Yunes, entregou sua carta de demissão. Ele foi citado na delação premiada do executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Segundo a delação, a um emissário teria levado dinheiro vivo diretamente ao escritório de Yunes para campanhas do PMDB, em 2014. O dinheiro seria parte dos R$ 10 milhões que Marcelo Odebrecht teria destinado ao partido, supostamente a pedido de Temer durante um jantar em maio de 2014, no Palácio do Jaburu.
Yunes foi o sétimo nome forte de Temer a deixar o governo. Antes saíram os ministros Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Henrique Eduardo Alves (Turismo), Fábio Medina Osório (Advocacia Geral da União), Marcelo Calero (Cultura) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo).
Para Roberto Amaral, o presidente está vulnerável ao julgamento do TSE previsto para o primeiro trimestre de 2017. “É o golpe dentro do golpe, com a tentativa da eleição indireta para seu substituto. O que o PSDB mais tem medo é de eleição direta. Ele foge dela como o diabo da cruz”.
Renúncia
Amaral lembra que os dois nomes correndo para disputar, segundo a imprensa, seriam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro da Justiça e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim. “Fernando Henrique é o puro sangue do PSDB, e Nelson Jobim teria a vantagem de acalmar o PMDB.”
Segundo essa visão, ressalta o cientista político, Jobim mantém boas relações com o PT, com Lula e com a atual oposição ao presidente da República.
Conforme previsão do artigo 81 da Constituição Federal de 1988, vagando os cargos de presidente e vice-presidente da República, realiza-se nova eleição direta 90 dias depois de aberta a última vaga. Porém, se a vacância acontecer nos últimos dois anos do mandato, a eleição é indireta, no Congresso Nacional.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada no dia 11 de dezembro, 63% dos brasileiros querem a renúncia de Temer. Na sequencia, a maioria pede pela realização de eleição direta. Mas a possibilidade é virtualmente irrealizável, devido ao mandamento constitucional, já que o presidente precisaria renunciar até o fim deste ano.