O épico Cruzada, superprodução de Ridley Scott sobre a disputa entre muçulmanos e cristãos pela posse de Jerusalém, no século XII, está sendo elogiado pelo público árabe por não repetir os estereótipos de Hollywood que associam o Islã ao terrorismo e por incentivar a moderação.
– O filme vai claramente contra o fanatismo religioso. Tudo que vai contra o ódio, o fanatismo e a oposição sistemática entre esses dois mundos é bem-vindo – disse o escritor libanês Amin Maalouf, autor de As Cruzadas Pelo Olhar Árabe.
Alguns líderes religiosos temiam que um filme sobre as cruzadas, termo usado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, para descrever a sua “guerra ao terrorismo”, pudesse alimentar a idéia de confronto entre o Ocidente e o Islã depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
– O objetivo do filme é fechar as feridas, não reabri-las – disse o crítico egípcio Tarek Al Shenawy.
Alguns historiadores acusaram Scott de ter sido simpático demais a Saladino, o líder curdo do Exército muçulmano, responsável pela captura de Jerusalém, em 1187, das mãos dos cristãos. Um acadêmico britânico se referiu ao filme como sendo “a versão da história segundo Osama bin Laden”.
Maalouf acha que de fato o filme é duro demais com os Cavaleiros Templários, uma ordem de monges cruzados guerreiros.
– Também havia pessoas no lado árabe que queriam a guerra a todo custo – afirmou ele por telefone, da França.
– Minha impressão é de que as sequências históricas são bastante fidedignas. O espírito daquela época está lá.
Alguns grupos muçulmanos elogiaram o Saladino criado por Scott, mesmo diretor de Gladiador. Os cinéfilos árabes consideram que o filme pode ajudar a melhorar a reputação do Islã, prejudicada por filmes que colocam vilões muçulmanos contra heróis norte-americanos.
– Os árabes e muçulmanos normalmente aparecem como selvagens sedentos de sangue nas produções de Hollywood. Cruzada é mais justo; os árabes e muçulmanos aparecem muito melhor – disse Deana Elimam, egípcia de origem norte-americana que vive no Cairo.
Shenawy acha que Saladino, interpretado pelo ator sírio Ghassan Massoud, teria mais impacto se Scott tivesse dado mais visibilidade ao papel.
– Você vê lampejos do seu heroísmo. O filme não percebe todas as aspirações, mas não podemos pedir a Ridley Scott que mostre tudo. Basta que ele apresente uma imagem que tenha algum equilíbrio.
Mas o filme não recebe elogios unânimes no Oriente Médio. O acadêmico libanês As’ad Abu Khalil, radicado nos EUA, criticou a cena em que o protagonista Balian (Orlando Bloom) ensina os árabes a cavarem poços para irrigarem suas terras.
– Fiquei bem descontente quando o herói do filme, com o típico ‘gênio’ ocidental, ensina aqueles árabes inferiores a escavar a terra em busca de água, como se não tivessem feito isso durante séculos – escreveu o professor em seu site.
– Isso lembra o mito ocidental de que a imigração sionista faria ‘o deserto florescer’ na Palestina.
Cruzada conquista o público no mundo árabe
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Publicado segunda-feira, 9 de maio de 2005 as 15:17, por: CdB