No encontro, em um shopping de Brasília, teria ocorrido o pedido de propina de US$ 1 por dose. Uma vez revelados os fatos, Dias foi exonerado e terminou preso, durante seu depoimento à CPI.
Por Redação – de Brasília
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid ouviu, nesta quarta-feira, o depoimento do coronel da reserva Marcelo Blanco, que atuou no Departamento de Logística do Ministério da Saúde, sendo demitido em janeiro último. Blanco levou o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti ao então diretor de Logística, Roberto Ferreira Dias.
No encontro, em um shopping de Brasília, teria ocorrido o pedido de propina de US$ 1 por dose. Uma vez revelados os fatos, Dias foi exonerado e terminou preso, durante seu depoimento à CPI. Blanco, no entanto, nega que tenha havido qualquer pedido de suborno, mas foi acusado de apresentar documentos editados aos senadores.
‘Grupo do coronel’
Presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que o depoente apresentou suas conversas com o representante da Davati, Cristiano Carvalho, mas teria cortado parte das mensagens.
— Misteriosamente, a primeira mensagem que o Cristiano é de 16h39 e a conversa vai até 17h42. Porém, o senhor retirou parte das conversas, porque nós tivemos acesso às mensagens. Portanto, tem coisas que batem, outras não aparecem — denunciou Aziz.
Antes do recesso parlamentar, em 15 de julho, o representante de vendas da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho, afirmou à CPI da Covid, que o pedido de propina relativo à compra do imunizante teria partido do “grupo do coronel Blanco”.
Marcelo Blanco, no entanto, diz agora que apenas negociou a compra de vacinas da AstraZeneca com o policial militar Luiz Dominguetti para o mercado privado. Ele relatou que essas conversas ocorreram em fevereiro, um mês depois de ter deixado o Ministério da Saúde.
Diante das respostas de Blanco, alguns senadores se irritaram. Entre eles Aziz: “Coronel, aqui ninguém é bobo”, afirmou.
Narrativa
A certa altura do depoimento, ainda pela manhã, vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), precisou acionar a Polícia Legislativa para que retirasse do recinto o deputado federal Reinhold Stephanes Júnior (PSD-PR), aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Antes que a polícia chegasse, o parlamentar se retirou da sessão. Ao ser abordado por uma oficial, no entanto, reagiu de maneira desrespeitosa. O parlamentar estava ao fundo do auditório, gravando um vídeo para suas redes sociais, no qual afirmava que a “CPI faz um mal ao Brasil”. Na saída do plenário, o deputado criticou Randolfe, afirmando que se tratava de uma “prepotência e arrogância”.
— Querem construir uma narrativa para prejudicar o presidente — disse Stephanes Júnior, aos repórteres.
Visivelmente alterado, o parlamentar foi ríspido com os jornalistas. Disse que um deles era “petista” por ele ter questionado o motivo de ter entrado no plenário. Após o episódio, Randolfe Rodrigues afirmou que o caso seria encaminhado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para as devidas providências.
— Vimos um ato de desrespeito a essa comissão do deputado Reinhold Stephanes Junior. Garantiremos a todos os parlamentares, sejam senadores ou deputados, o livre acesso à CPI. Entretanto essa CPI não admitirá tentativas de tumultuar o trabalho dessa comissão ou ao mesmo tempo atos de provocação, de intimidação aos membros da CPI — afirmou.
‘Amenidades’
Na volta aos trabalhos, depois do almoço, o ambiente ficou tenso mais uma vez depois de Blanco afirmar que a conversa com autoridades do Ministério da Saúde envolveu apenas amenidades e um pedido de horário na agenda oficial de Dias, para que Dominghetti apresentasse proposta de venda da vacina.
— Nesse encontro só tratou da agenda. Não trataram de vacina nesse encontro, não que eu lembre — disse Blanco.
De pronto, o senador Omaz Aziz o interpelou:
— Aqui ninguém é moleque!