Dilma admite que ela ou Lula nunca foram de esquerda, mas de centro

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Publicado Domingo, 06 de Maio de 2018 às 13:46, por: CdB

Para os segmentos capitalistas mais radicais, no entanto, as concessões dos governos petistas aos mais pobres tornavam os governos de Lula e Dilma alinhados ao socialismo.

 

Por Redação - de Buenos Aires e São Paulo

Por mais de uma vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que cumpre pena em Curitiba — e sua sucessora, a presidenta deposta Dilma Rousseff (PT), já sinalizaram ao mercado financeiro que não são de esquerda. Dilma foi mais longe, pouco antes da queda. Contratou o economista ultraliberal Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.

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Presidenta deposta, Dilma Rousseff transferiu uma fortuna aos cofres da Globo

Lula, por sua vez, orgulha-se de dizer que “os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro” quando ele esteve, por dois mandato, à frente do governo brasileiro. Sua tese era a de que, ao manter os cofres da elite financeira recheados, poderia levar adiante a política de integração social e combate à miséria no país.

Centro

Nesse sentido, criou programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, entre outros, para promover a distribuição de renda. As olhos dos segmentos capitalistas mais radicais, no entanto, estas concessões tornavam o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) alinhado ao socialismo. Com apoio internacional de fundações norte-americanas, em seguida, foi adiante o movimento que derrubou a presidenta Dilma. Em seu lugar, assumiu o então vice-presidente, Michel Temer.

Alinhado à extrema-direita, Temer não apenas restringiu os benefícios sociais; mas passou à prática o mais destrutivo plano de privatizações desde o governo tucano do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele foi eleito na chapa de Dilma Rousseff, em uma composição política com o atual MDB. A legenda disputa, agora, a posição de centro na soma política brasileira com o antigo aliado, diante da inflexão de Dilma Rousseff: o PT.

O diário argentino Página 12, em sua edição deste domingo, traz a entrevista de Dilma, em que avalia o papel da mídia conservadora no golpe de Estado, em curso. Ela aponta a liderança das Organizações Globo na formação da imagem junto ao eleitor médio de uma proposta de esquerda nos governos petistas.

Negociação

A realidade é a outra, diz a presidenta apeada do poder há dois anos. Ela e Lula seriam os verdadeiros representantes do centro. Do campo político que se alinha com o capitalismo, mas tenta suavizá-lo com medidas sociais mais generosas.

A Globo, segundo Dilma, passou a fazer política e criou um ambiente de caos no país. A concessionária de um lote de canais públicos de TV e seus associados patrocinaram uma verdadeira caçada a Lula, bem sucedida com a prisão dele, há exatos 30 dias.

— Ele (Lula) é a única pessoa que ocupa o centro da política. Lula não é uma pessoa que radicaliza. Sempre teve uma prática de negociação; de construção de consenso; de estabelecer diálogo. Se Lula não for candidato, o processo não será verdadeiramente democrático. Numa sociedade complexa como a brasileira; não é possível conviver sem construir relações de consenso e negociação — alega.

Retrocesso

Na linha da negação ao seu afastamento gradual, embora rápido, da Presidência da República; uma vez restrita ao Palácio Alvorada e despejada, definitivamente, logo em seguida, Dilma acredita que o golpe de 2016, em curso até agora, não deu certo. Sem oferecer, no entanto, uma evidência concreta de que o atual grupo no poder foi derrotado.

— Hoje não existe uma pessoa que conheça esse processo; e considere que houve alguma margem para o impeachment. Depois desse primeiro ato veio o golpe; o programa do atual governo. As reformas neoliberais com perda de direitos; e um grande retrocesso em questões fundamentais para o crescimento econômico do Brasil — argumenta.

Ultradireita

No entanto, pondera, o governo “ainda não conseguiu aprovar a reforma previdenciária no Congresso”.

— Eles não nos derrotaram. Eles queriam destruir o PT, eu e o presidente Lula. E qual foi o resultado? Que depois de toda a perseguição é claro não só que Lula é inocente; mas vai primeiro nas pesquisas. O PT é o partido que, como tal, tem o apoio mais popular: 20% contra 1% ou 5% dos demais — pontua.

A meta dos segmentos de ultradireita, no país, “é eliminar o PT da face da Terra”, predisse Dilma Rousseff, aos jornalistas.

— Ele (Lula) é inocente, portanto, é uma perseguição política. Eles o colocaram na prisão para impedi-lo de participar das próximas eleições. O partido conservador mais forte hoje é o partido da mídia. O partido de cinco grupos oligopolistas do Brasil. A direção dessa festa é a TV Globo. O partido da mídia e o partido judicial uniram-se para tirar Lula do processo eleitoral — acrescenta Dilma.

Crescimento

O conjunto conservador de meios de comunicação, que Dilma chama de “grande mídia”, na opinião dela é, hoje, a mais alta instância judicial do país. Ao longo dos governos de Lula e nos seis anos em que a presidenta ocupou o Palácio do Planalto, foram destinados mais de R$ 6 bilhões apenas para as Organizações Globo, segundo o site Transparência Brasil. Ao longo de seu período no governo, Dilma também passou a perseguir a mídia alternativa, a pedido do cartel midiático que domina o setor.

Sem o mea culpa do erro estratégico de tentar se alinhar à direita e aos meios conservadores de comunicação, Dilma passa a culpá-los, diretamente, pela queda do governo petista.

— Eles (a mídia conservadora) julgam; condenam e até se dão o prazer de dizer como os juízes do tribunal devem votar. Eles alcançaram um clima de catástrofe. Mas durou muito pouco porque mesmo na Justiça, onde o princípio da presunção de inocência; pedra angular do Estado democrático, não é respeitado, Lula consegue discutir as condições. Pergunta como eles o acusam. Reivindica seu direito de defesa. E as pessoas veem isso. Isso explica seu crescimento sistemático, mesmo depois de ir para a prisão — conclui.

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