Dilma larga política do “controle remoto” e apoia mídia democrática

Arquivado em:
Publicado Quarta, 03 de Maio de 2017 às 12:26, por: CdB

Dilma falou sobre o golpe que sofreu, sobre o presente e, principalmente, sobre um futuro no qual a democratização da mídia não seja mais “o controle remoto”, conforme defendeu ao longo de seus cinco anos no Palácio do Planalto

 

Por Redação - de Porto Alegre

 

A presidenta cassada Dilma Rousseff (PT) proferiu, na noite passada, uma aula pública no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mais de mil alunos e professores lotaram por completo o salão de atos da UFRGS. Dilma falou sobre o golpe que sofreu, sobre o presente e, principalmente, sobre um futuro no qual a democratização da mídia não seja mais “o controle remoto”, conforme defendeu ao longo de seus cinco anos no Palácio do Planalto.

— O presente nós perdemos. Não podemos perder o futuro — resumiu, ao final de sua fala.

dilma-ufrs.jpgDilma lotou um dos auditórios da UFRS. Ela proferiu uma aula inaugural na qual falou sobre a democratização da mídia

Dilma apontou aquele que entende ser o principal desafio do presente:

— Temos hoje uma tarefa central que é ampliar os espaços democráticos do país. Precisamos debater com a sociedade, falando a verdade. Na ditadura, a gente tem que lutar para mentir e isso não é fácil. Na democracia, é preciso falar a verdade e nós precisamos falar a verdade sobre o golpe, seus agentes e suas reais intenções.

Bolsonaro

A palestrante foi direto ao ponto.

— O leão não é manso — disse, na última frase da aula inaugural.

Ao longo de sua fala, Dilma Rousseff conectou as reais motivações do golpe parlamentar desfechado contra a democracia brasileira, seus protagonistas, a agenda política e os desafios atuais.

— Sempre que tivemos mais democracia nós ganhamos. Quando não temos democracia, nós perdemos. Por isso, precisamos ampliar os espaços de participação. Na passagem da ditadura para a democracia, nós tivemos uma transição por cima, que não julgou os torturadores e ocasionou graves danos com repercussões no presente. Quando o deputado (Jair) Bolsonaro (PSC-RJ) votou a favor do meu impeachment, ele votou também a favor da tortura e do torturador que me aterrorizou. Em um pais democrático, isso não aconteceria. Nós precisamos de um acordo por baixo no Brasil e só tem um jeito disso acontecer: eleições diretas para presidente da República — afirmou.

Dilma também chamou a atenção para os riscos que a democracia brasileira corre no presente.

— As pessoas perderam o seu voto e agora começaram a perder seus direitos. Com isso, o governo e a política começam a se tornar irrelevantes, abrindo caminhos para aventureiros, o preconceito e a intolerância. O aumento do nível de desigualdade torna a população mais refratária à democracia. Isso está acontecendo no mundo inteiro. O que está em crise é o sistema político que sustenta essa desigualdade. Com o atual sistema político, o Brasil é ingovernável. Esse sistema é marcado por uma fragmentação partidária. Nós não temos 25 programas distintos para o Brasil, mas temos 25 partidos representados no Congresso. Com exceção de alguns poucos que tem um programa, o restante vive para negociar cargos, emendas e benesses — disse.

Oligopolização

A presidenta também defendeu o direito de Lula se candidatar em 2018. E alertou para as tentativas de evitar que isso ocorra.

— Lula vem sofrendo uma sistemática tentativa de destruição que tem resultado no seu crescimento nas pesquisas. Eles ainda não têm candidato. Se não encontrarem um, tentarão evitar a realização de eleições em 2018 ou inviabilizar a candidatura Lula. Se a candidatura de Lula for inviabilizada porque ele pode ganhar a eleição, teremos algo que é antípoda da democracia – prevê.

Ela também criticou o papel que a mídia vem desempenhando neste processo. Em especial, a Rede Globo de Televisão que apontou como “um dos grandes lideres do processo do golpe" acusa. No início de seu governo, no entanto, ao invés de conceder uma entrevista coletiva para a mídia independente, preferiu fazer omeletas no programa da apresentadora Ana Maria Braga. Meses depois, a mesma apresentadora faz chacota com a entrevista.

Depois de passar seus cinco anos no Palácio do Planalto defendendo a ideia de que a democratização da mídia era “o controle remoto”, Dilma agora muda o discurso.

— A mídia é um setor como qualquer outro que também é afetado pela oligopolização. Para barrar isso, precisamos de uma democratização econômica da comunicação ou, para usar uma expressão do mercado, promover a livre concorrência neste setor. Mas as empresas de mídia não gostam da livre concorrência. Também não podemos aceitar que a mídia vire tribunal, fazendo condenações sem respeitar o direito de defesa e o devido processo legal — diz ela.

‘Giro à esquerda’

Outro ponto de inflexão no discurso da presidenta afastada no golpe de Estado, em curso, é o modelo político-econômico do país. A razão profunda do impeachment e do golpe, destacou, é a tentativa de enquadrar o Brasil no neoliberalismo, retomar e aprofundar o processo que foi interrompido com a primeira eleição de Lula. Essa tentativa de enquadramento, acrescentou, enfrenta hoje alguns dilemas e contradições.

— Se o governo ilegítimo entregar o pacote das reformas para a mídia e o mercado, ele deixa de ter serventia. Se não entregar, ele perderá sua legitimidade diante desses setores — afirma.

Na opinião da mandatária, que governou alinhada aos maiores bancos e conglomerados internacionais, tanto financeiros quanto industriais, o país ainda não estaria pronto para a implantação do socialismo. A opinião dela diverge do líder petista José Dirceu, solto da prisão por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Em carta de 14 páginas, escrita do cárcere no complexo médico penal de Pinhais à qual a reportagem do Correio do Brasil teve acesso, Dirceu afirma:

“Nada será como antes e não voltaremos a repetir os erros. Seguramente, voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política. Não se iludam vocês e os nossos. Não há caminho de volta. Quem rompeu o pacto que assuma as consequências”.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo