Na última semana, as negociações entre empresários argentinos e brasileiros do setor de eletrodomésticos reacenderam a discussões sobre o Mercosul. Estaria o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ameaçado por disputas comerciais? Subsecretário-geral do setor do Ministério das Relações Exteriores que trata da América do Sul, o embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares acredita que a formação de um mercado comum na região continua na lista de prioridades dos governos. Ele reconhece o episódio das últimas semanas como o sinal de que é necessário buscar novos caminhos para a integração.
“O problema com as geladeiras mostra que, em longo prazo, os setores industriais precisam encontrar algum tipo de entrelaçamento. A geladeira não deve ser totalmente argentina ou totalmente brasileira. Como produto complexo, ela pode ser fabricada em parte lá e, em parte, aqui”, defendeu Soares, em entrevista exclusiva à Agência Brasil. O diplomata participa da coordenação do Núcleo de Apoio da Presidência Temporária do Mercosul, este semestre a cargo do Brasil. “A integração deve ser feita por uma via saudável. Os países precisam investir na formulação de políticas industriais e em uma produção mais diversificada.”
Na avaliação do embaixador, entre todas, a parceria do Brasil com a Argentina é a mais estratégica para o país. Nela está “a base e plataforma” para a inserção dos sul-americanos no mercado internacional. A Argentina teria a mesma percepção. “Na negociação dos eletrodomésticos, teremos uma redução nas exportações brasileiras, mas existe uma cláusula garantindo: tudo tem que ser feito sem desvio de comércio. Ou seja, a Argentina não poderá comprar de outros países. O mercado será dividido meio a meio”, ressalta Soares.
Para ele, esse acordo é sinal de “boa fé”. “Com que outro país no mundo conseguimos acordo semelhante?”, questiona, para sublinhar o caráter “único” da relação entre Brasil e Argentina
O embaixador lembra que a atitude protecionista argentina está relacionada com o período de recuperação econômica do país. Segundo ele, a questão dos eletrodomésticos foi tema de debate há três meses na comissão bilateral que analisa mensalmente as relações entre os dois países. No início do ano, o setor têxtil também enfrentou as mesmas restrições.
– É natural imaginar que o empresário brasileiro quer vender sempre mais. Com isso, chegar a um acordo nem sempre é fácil – reconhece Soares – Há um interesse do governo em resolver a questão de forma positiva para o setor privado. Mas, definitivamente, não nos interessa o aniquilamento do parque industrial argentino.
Disputa das geladeiras é sinal de que Mercosul deverá integrar parques industriais, avalia Soares
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Publicado sábado, 17 de julho de 2004 as 11:00, por: CdB