TV, rádio e Internet: mais que mídias para informar e formas opiniões se tornam verdadeiros campos de batalha, em que muitas vezes as boas regras para se chegar à vitória são desprezadas.
Por Lalo Leal – de São Paulo:
Entramos em um novo ano eleitoral com mais dúvidas do que certezas. Há quem duvide até da possibilidade de termos eleições presidenciais em 2018. E não é para menos. Volta-se a falar em parlamentarismo, rejeitado duas vezes pelo voto popular em nossa história, mas que ressurge como um fantasma capaz de impedir o livre exercício presidencial, no temor de que este venha a ser conduzido por ideias e ações desenvolvimentistas e populares.
Outra alternativa, ainda que não impeça a eleição; é torná-la não representativa da vontade dos eleitores. Isso decorreria do impedimento; via judiciário, da candidatura Lula; líder consolidado em todas as pesquisas de intenção de voto.
Apesar dessas incertezas, os partidos já viraram o ano articulando estratégias eleitorais. Entre elas está a formação de coligações não só capazes de aumentar na; prática o tamanho dos apoios recebidos pelos partidos; mas também, e com grande interesse, de ampliar o tempo de determinado candidato; nos programas eleitorais obrigatórios no rádio e na televisão.
Crescimento
Apesar do crescimento e da influência cada vez maior da Internet, o rádio e principalmente a TV; ainda têm um peso quase decisivo nas eleições brasileiras. Exemplo recente é a vitória de João Doria no primeiro turno; para a prefeitura de São Paulo; um produto midiático cuidadosamente embalado para atender os anseios dos eleitores; incentivados pela própria mídia, de alguém refratário à política tradicional e com perfil de gestor empresarial.
É bom saber o que está em jogo. A propaganda eleitoral começa no dia 31 de agosto e vai até 4 de outubro; três dias antes do primeiro turno. São dois tipos de propaganda: dois blocos com duração de 12min30s; exibidos à tarde (das 13h às 13h12m30s) e à noite (das 20h30 às 20h42m30s); nas terças, quintas e sábados, e as inserções; peças de propaganda do tipo “comerciais” de TV; de 30 segundos ou um minuto de duração; veiculadas entre os programas das emissoras das 5h às 24h, num total de 14 minutos diários.
A luta
A luta por esse espaço é feroz. O tempo de cada partido ou coligação de partidos no rádio e na TV; é determinado pelo tamanho de cada um deles. Dai a formação de conglomerados partidários muitas vezes não muito homogêneos do ponto de vista programático.
Segundo análises realizadas ao final do ano passado, divulgadas pela Folha de S.Paulo; o PMDB; e seus aliados do chamado “centrão” teriam 39% do total de tempo de propaganda no rádio e na TV; quase 5 minutos em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos. Em seguida, mas com bem menos tempo, viria o PT com 13% (1min35s), o PSDB com 10% (1min18s); e o PDT com 4% (33s); isso se não conseguirem fazer coligação com algum outro partido.
Claro que existem outros fatores a interferir nas decisões de voto, como por exemplo os debates televisados entre os candidatos. Mas eles também reverberam no horário eleitoral obrigatório. A gafe de um candidato ou uma proposta considerada impopular são exploradas ao máximo; pelos adversários em seus programas levando, muitas vezes, à reorientação do voto do eleitor.
Internet
E há ainda a Internet, com suas redes sociais, sendo usadas cada vez mais profissionalmente nas disputas eleitorais. No caso brasileiro ela ainda não se equipara à TV como força de persuasão mas; dentro dos seus limites; tem mostrado influência. Basta lembrar o candidato derrotado em 2010 para a presidência da República, José Serra; chamando de “blogueiros sujos” os responsáveis por blogs e sites que veiculavam notícias que não o agradavam durante a campanha eleitoral.
De lá para cá multiplicaram-se as empresas prestadoras de serviços aos partidos e candidatos para manter e alimentar as redes sociais. Aí não há o limite legal de tempo como ocorre com o rádio e a TV; além de permitir o surgimento dos “perfis falsos” atuando a favor ou contra determinados candidatos.
Manipular a opinião pública
Segundo reportagem da BBC, uma dessas agências contratou cerca de 40 pessoas para fazer a manutenção dos perfis falsos. O objetivo é manipular a opinião pública, o que vem sendo feito desde 2012; mas que ganhou dimensão maior a partir da eleição de 2014.
A estratégia é simples. Criam-se personagens na Internet com uma série de características; que os tornam aparentemente reais. Surgem figuras com rosto e uma história pessoal: de onde é, se é casado, se tem filhos; e quais são seus gostos, hobbies e profissão. Dessa forma, se manifestam sobre assuntos variados; muitos deles domésticos e triviais, entremeando-os com opiniões políticas e eleitorais; geralmente apoiando um ou outro candidato.
Um tipo de atuação comum, segundo a reportagem; era deixar comentários em sites de notícias e votar em enquetes; como as regularmente lançadas pelo site do Senado. “Às vezes, 10 pessoas ficavam votando em determinada opção durante oito horas por dia”; diz um dos entrevistados pela BBC que atuou numa dessas assessorias de comunicação.
Cabe ressaltar que a criação de perfis falsos é crime de falsa identidade. A reforma eleitoral proibiu “a veiculação de conteúdos de cunho eleitoral”; por meio de “cadastro de usuário de aplicação de Iinternet; com a intenção de falsear a identidade”. Vamos torcer para que a lei seja realmente aplicada em 2018. Os perfis falsos, se prosperarem; contribuirão ainda mais para distorcer a necessária liberdade de escolha do eleitor.
Lalo Leal é jornalista.