O documentário “Os EUA contra John Lennon”, que está no primeiro dia da Mostra de Cinema de São Paulo, nesta sexta-feira, se debruça sobre o bed-in, quando John e Yoko deitaram-se e deixaram ser fotografados pela imprensa num cama de hotel, representava também caso de segurança nacional para o governo norte-americano naquela época.
Sob a Presidência de Richard Nixon, os Estados Unidos passavam pelos anos mais agitados da Guerra do Vietnã (1959-1975). E, para Washington, um homem que diz a um país que o seu líder está conduzindo à direção errada é alguém a ser detido. Este foi o caso do ex-Beatle.
A dupla David Leaf e John Scheinfeld não minimiza a importância de passar a atmosfera dos Estados Unidos no final dos anos 60 e começo dos 70, e torna o trabalho menos um “rockumentário” e mais um retrato do período, em que as figuras de contestação se multiplicavam e ainda contavam com um dos maiores rock stars da época em suas fileiras. A guerra ideológica estava sendo perdida, principalmente entre os jovens, logo quando a faixa entre 18 e 21 anos iria se juntar ao eleitorado norte-americano pela primeira vez.
John cantou Revolution, faixa de guitarras bem distorcidas e um grito primal inicial que foi só lado B do single de Hey Jude, e a partir daí se tornou mais e mais político. Sua persona encontrou eco em Yoko Ono (que aparece no documentário em um modelito à la Christina Aguilera), e aí Washington coçava mais e mais a cabeça sobre o que fazer com o rock star que, em vez de ficar quietinho cantando só sobre amor, conclamava o seu público a cantar sobre o amor, mas em oposição à guerra de então. Tudo isso vem embalado pelos principais clássicos do Lennon solo: Instant karma, Power to the people e Imagine.
Diversas personalidades que participaram do período são entrevistados em “Os EUA contra John Lennon” como Noam Chomsky e Tariq Ali; jornalistas como o âncora Walter Cronkite e o repórter Geraldo Rivera; ex-ativistas radicais e do movimento negro; e mesmo integrantes do governo Richard Nixon dão o outro lado da história.
Outro aspecto enfocado é a habilidade de Lennon para usar o seu status de pop star para passar sua mensagem. Sua lua-de-mel “aberta” à imprensa como forma de contestação, os gigantescos outdoors antiguerra em capitais pelo mundo, suas performances, tudo fazia parte de um plano para passar sua mensagem de uma forma diferente da de um discurso panfletário.
Horários de exibição:
Sexta-feira (20), às 19h – Memorial da América Latina
Sábado (21), às 23h40 – Espaço Unibanco 1
Domingo (22), às 22h20 – Cinesesc
Quinta-feira (02), às 17h30 – Unibanco Arteplex 2
Documentário mostra Lennon como ameaça à segurança dos EUA
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Publicado quinta-feira, 19 de outubro de 2006 as 18:52, por: CdB