Dodge planeja encerrar Lava Jato e deixar Dallagnol por conta do STF

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Publicado Sábado, 10 de Agosto de 2019 às 14:20, por: CdB

Para não se indispor com os colegas de Ministério Público Federal, Dodge poderá encerrar toda a operação Lava Jato.

 
Por Redação - de Brasília e São Paulo
  O procurador Deltan Dallagnol está um passo mais perto de ser afastado do cargo de coordenador da força tarefa da Operação Lava Jato e, esta, poderá ser encerrada nas próximas semanas. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tem sido pressionada a determinar essa medida a partir de Brasília, embora tenha dito que o procurador seria “inamovível”.
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Raquel Dodge se pronunciou, pela PGR, sobre o vazamento de dados pela Intercept
Diante da declaração de Dodge, que não estaria disposta a se indispor com os colegas de Ministério Público Federal, o passo mais curto para se livrar do problema, segundo apurou a colunista Monica Bergamo, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, seria encerrar toda a operação.

Vazamento

Desta forma, caberia ao Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre o futuro de Dallagnol. Termina no dia 9 de setembro o prazo para sua continuidade. “As apostas de procuradores de Curitiba e de Brasília são que ela manterá a força-tarefa —mesmo depois do vazamento de mensagens em que Dallagnol fala mal dela e incentiva a divulgação de informações que poderiam desgastá-la. A análise, no entanto, não é consensual”, escreveu Bergamo. Cada vez mais pressionado, Dallagnol adquiriu o hábito de se referir a si mesmo na terceira pessoa. “Essa afetação narcisística idiota se chama ileísmo. Em geral, é coisa de gente que se acha tão importante que precisa de um distanciamento para falar de si”, descreve o blog Diário do Centro do Mundo (DCM).

Procuradores

Dodge, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, teria um discurso para o público, em que defende o colega do MPF; e um outro, para interlocutores mais próximos, no qual não se conforma com as pesadas críticas do procurador, segundo vazamentos de informação na mídia conservadora. Os procuradores da Lava Jato viam com desconfiança Dodge desde que se tornou candidata ao posto máximo do Ministério Público brasileiro. Segundo os dados vazados à agência norte-americana de notícias Intercept Brasil, os integrantes da força-tarefa, em Curitiba, desconfiam que Dodge seria aliada do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, alvo de supostas investigações ilegais por parte dos procuradores. A procuradora-geral tem sido avaliada como um obstáculo à Lava Jato, tanto por determinar a redução no orçamento do grupo quanto por ser responsável pela relutância em encaminhar ao STF os acordos de delações premiadas que envolvem autoridades com foro privilegiado. Seu mandato expira no dia 17 de setembro, uma semana depois que o prazo de validade da Lava Jato.

‘Rússia’

Uma das delações ainda não encaminhadas pela procuradora-geral ao STF é a do empreiteiro da OAS Léo Pinheiro, que incrimina o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em depoimento do caso do tríplex de Guarujá, no litoral paulista. A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva baseia-se, integralmente, nessa delação, por falta de provas para mantê-lo encarcerado. “Russia acabou de perguntar se evoluiu LP”, questionou em 28 de junho de 2018 o procurador Athayde Ribeiro Costa, no chat OAS-Curitiba, referindo-se a um questionamento do então juiz Sergio Moro, apelidado de “Russo” pelos procuradores, sobre a delação de Léo Pinheiro. Ao que a procuradora Jerusa Viecili responde: “Pessoal, advogados de outros potenciais colaboradores ligando querendo saber da evolução das negociações. Brasilia precisa resolver nossas pendências, senão esse povo todo vai fazer acordo com a PF”. Ela referia-se ao fato de que as defesas poderiam buscar a Polícia Federal, em vez do MP, para fechar uma delação premiada.

Janot

Os integrantes da Lava Jato reclamaram que Dodge sairia de férias, entre 3 e 17 de julho, sem resolver “pendências” relacionadas ao acordo. No dia seguinte, o coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol propõe aos demais pressionar Dodge “usando” a mídia “em off”. O plano de Dallagnol seria passar a informação a jornalistas, sem se identificar. “Podemos pressionar de modo mais agressivo pela imprensa”, adiantou. “A mensagem que a demora passa é que não tá nem aí pra evolução as investigações de corrupção", reclama. “Dá saudades do Janot”, conclui.
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