Dólar cai 4,26% mas pressão permanece sobre o Banco Central

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Publicado Sexta, 11 de Outubro de 2002 às 14:46, por: CdB

Uma saraivada de medidas do Banco Central para tirar a sobra de dinheiro do mercado freou hoje a escalada do dólar e levou a moeda a fechar a R$ 3,82 para venda e R$ 3,81 para compra, 4,26% mais barato do que o histórico fechamento de ontem, a R$ 3,99. O risco Brasil, por sua vez, cai 2,24% e opera a 2.220 pontos. Entretanto, apesar da queda expressiva, essa cotação ainda está nove centavos acima da que a moeda tinha na última terça-feira - o que mostra que o BC pode ter inibido pelo mercado, mas os pontos de tensão que provocaram a disparada - transição presidencial, iminência de guerra no Iraque e vencimentos pesados da dívida pública até dezembro - persistem. Segundo especialistas, as medidas do BC devem provocar um recuo modesto das cotações no início da próxima semana e evitar uma nova disparada do preço da moeda, mas é improvável que a tendência de alta se reverta antes da eleição, dia 27. Mas nesta tarde, conforme afirmaram operadores, a queda do dólar após o anúncio do BC - que em seu ápice chegou a 6,01%, com a moeda vendida a R$ 3,75 - só não foi maior porque havia poucos investidores no mercado. E também porque os mercados norte-americanos estarão fechados na próxima segunda-feira devido ao feriado do Descobrimento da América, o que leva os bancos internacionais a se cobrirem hoje para eventuais "surpresas" nos próximos três dias. Entre essas surpresas aguardadas, estão as primeiras pesquisas de intenção de voto para o segundo turno da eleição presidencial divulgadas após o primeiro turno. Na noite de hoje, o Datafolha inaugura essa nova rodada de levantamentos. Após a moeda norte-americana superar ontem a marca inédita dos R$ 4, o BC se viu obrigado a agir para conter a escalada do dólar, inflada pelas incertezas quanto ao cenário político e econômico após a transição presidencial, a iminência de guerra no Iraque que pressiona os mercados externos e os vencimentos sucessivos de dívidas do governo no último trimestre deste ano, que só em títulos cambiais chegam a US$ 12,8 bilhões. Todas as medidas anunciadas hoje pelo diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, visam reduzir a liquidez (quantidade de dinheiro disponível) do mercado e conter a compra de dólares. O BC aumentou a exigência do compulsório sobre depósitos à vista, a prazo e em poupança, uma medida que deve encarecer o crédito ao consumidor e elevar as taxas de juros, inibindo ainda mais o consumo mas reduzindo o dinheiro livre que os bancos têm para aplicar no câmbio. A autoridade monetária também aumentou para 100% a exigência de capital para investimentos em dólar e reduziu o teto para exposição cambial de 60% do patrimônio para 30%. A adequação aos novos limites deve ser feita até a próxima quarta-feira. "Acho que desta vez o BC pegou bastante bancos com as medias. Tem muito bancos pequenos que não têm patrimônio, para manter as posições que mantêm", observou José Roberto Carreira, gerente de câmbio da corretora Novação. O dólar já operava em baixa hoje com a venda de dólares no mercado à vista pelo BC logo no início da manhã e com a rolagem de US$ 501 milhões de uma dívida cambial de US$ 3,6 bilhões que vence no próximo dia 17, dos quais ainda restam 69% a alongar ou liquidar.

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