As mudanças que vinham ocorrendo na mobilidade urbana de São Paulo foram quase todas desfeitas nos meses que João Doria ficou no cargo de prefeito. Desfez longos trechos de ciclovias e calçadas, desativou quase uma centena de linhas de ônibus e por aí foi. Se JK prometeu (e cumpriu) avançar 50 anos em 5 na gestão pública, ele conseguiu retroceder 5 anos em 1 na capital paulista
Por Jaime Sautchuk – de São Paulo:
O engomadinho andou na contramão do que se pensa e se faz nas principais cidades do mundo, como Nova Iorque. Londres e Barcelona, por exemplo. Lá, o automóvel particular tem cada vez menos espaço, pois há muitos anos vigora a consciência de que os centros urbanos não comportam mais essas tralhas circulando. No mundo inteiro, é hora de tirar carros das ruas.

Aqui, o veículo individual ainda é o rei do pedaço. Mas, claro, deve-se levar em conta que não se trata de um problema apenas de transporte. É da cidade inteira e da região metropolitana. E só será resolvido se olharmos em primeiro lugar para os seres humanos que nelas vivem. A ordem de prioridade é pedestre, bicicleta, transporte público e, só depois, o veículo particular.
SP
São Paulo vinha demonstrando que as cidades, mesmo grandes, podem recuperar seu sentido comunitário; com áreas verdes e infraestrutura que permitam o caminhar a pé; a locomoção por ciclovias e outras alternativas para curtas distâncias. Tudo como parte de um sistema único, que engloba o transporte público, em plena harmonia.
No entanto, a meteórica gestão do tucano ignorou isso por completo. Parecia querer apagar; uma por uma, as realizações de seu antecessor no cargo, Fernando Haddad, do PT. Ocorre que, em mobilidade urbana, partidarismo não tem espaço — é colocar o público diante do privado, e pronto.
Obras públicas
Basta rememorar Jayme Lerner, prefeito nomeado de Curitiba, pela Arena; o partido oficial da ditadura, em 1974. Abriu corredores de ônibus, fez calçadões, faixas, ciclovias; enfim, fez de Curitiba uma referência em urbanidade, por muito tempo. São conceitos de modernidade, não simples obras públicas.
Pra completar, o engomadinho largou a cidade um ano e pouco depois de assumir a Prefeitura; após uma avassaladora vitória em 1º turno da eleições de 2016, com pesado apoio da grande mídia (a Globo, em especial); e até do juiz Sérgio Moro, do Paraná. É agora é pré-candidato ao cargo de governador do Estado, talvez pra ampliar o alcance de sua gestão desastrada.
Jaime Sautchuk, é jornalista.