Eleição de Trump expõe gafe de Serra na torcida dos democratas

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Publicado quarta-feira, 9 de novembro de 2016 as 14:54, por: CdB

Logo após assumir o posto mais alto no Ministério das Relações Exteriores, Serra concedeu entrevista à TV Cultura de São Paulo

 

Por Redação – de Brasília

 

A vitória do republicano Donald Trump na eleição para a Casa Branca causou ruídos no Palácio do Itamaraty. Ocupado pelo senador José Serra (PSDB-SP) desde a eclosão do golpe de Estado, em Maio deste ano, o instituto da diplomacia brasileira foi submetido a uma gafe sem precedentes. Em meio ao processo eleitoral norte-americano, Serra rasgou elogios à candidata derrotada, a democrata Hillary Clinton. E não poupou críticas ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

Temer, ao lado do senador José Serra (PSDB-SP), que ocupa o Ministério das Relações Exteriores: isolados
Temer, ao lado do senador José Serra (PSDB-SP), que ocupa o Ministério das Relações Exteriores: isolados

Logo após assumir o posto mais alto no Ministério das Relações Exteriores, Serra concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo. Nas suas declarações, já no cargo de representação oficial do país, mostrou-se refratário à vitória do empresário norte-americano.

Pesadelo para Serra

Questionado por jornalistas sobre o que achava da hipótese de o candidato de Trump chegar à Casa Branca, Serra foi enfático:

— Não acho que vai acontecer… Não pode acontecer.

Os EUA têm sido a tábua de salvação para o governo que assumiu o Palácio do Planalto, após a deposição da presidenta Dilma Rousseff (PT). O cineasta Oliver Stone fez uma visita ao Brasil para a divulgação de seu último filme, Edward Snowden. Na oportunidade, denunciou a participação do governo de Barack Obama ao golpe no Brasil. Stone foi categórico ao afirmar que o que aconteceu foi um golpe de Estado, com a participação direta dos EUA.

— É, verdadeiramente, a definição de um golpe de Estado. E os Estados Unidos apoiaram. Eles reconheceram o novo governo imediatamente — afirmou.

Quinta coluna

E Serra, articulado com os democratas na Casa Branca, deixou explícito que sua tarefa seria atrelar o Brasil aos interesses norte-americanos. Confessou até admirar os Clinton, conforme registrado em uma entrevista a um jornal conservador paulistano, em 22 de maio, dez dias após assumir a chancelaria.

— Tive uma experiência pessoal que foi muito importante, quando passei parte do meu exílio nos Estados Unidos. Nas Universidades de Princeton e Cornell. E comecei a conhecer a sociedade e a democracia norte-americanas muito de perto. Daria outra entrevista eu contar o impacto que tive ao viver o cotidiano e junto à base daquela sociedade — disse.

Antes de seguir para os EUA, Serra passou um tempo no Chile, durante o golpe de Estado do general Augusto Pinochet. Os militares derrubaram o presidente eleito Salvador Allende, também com apoio aos EUA.

Por telegrama

O presidente de facto, Michel Temer, por sua vez, escreveu um telegrama destinado ao presidente eleito dos EUA. No texto telegráfico, diz “estar certo” da possibilidade de trabalhar junto com o republicano “para estreitar ainda mais os laços de amizade e cooperação que unem nossos povos”, divulgou o Itamaraty.

“O Brasil e os Estados Unidos são duas grandes democracias que compartilham valores e mantêm, historicamente, fortes relações nos mais diferentes domínios”, escreveu o advogado que ocupa o Planalto.

No texto, obtido pela agência inglesa de notícias Reuters, Temer deseja a Trump “pleno êxito” frente ao governo dos Estados Unidos. Mais cedo, em entrevista a uma rádio de Minas Gerais, Temer afirmou que nada mudará na relação entre os dois países:

— A relação do Brasil com os Estados Unidos, assim como com os demais países, é institucional. Estou mandando cumprimentá-lo pela eleição, tenho certeza que não muda nada na relação Brasil e EUA.

Acordos comerciais

Temer afirmou, ainda, que os Estados Unidos tem uma “democracia sólida” e que “as coisas irão muito bem”.

— Evidentemente, quando alguém assume o poder, seja aqui ou nos Estados Unidos, especialmente nos Estados Unidos, onde as instituições são fortíssimas, é claro que o novo presidente que assume terá que levar em conta as aspirações de todo o povo norte-americano. Eu tenho certeza que lá as coisas irão muito bem — disse.

Em uma segunda entrevista, dessa vez para a rádio Jovem Pan, Temer relativizou as bravatas de Trump. Ele referia-se ao poder a ser exercido pelo futuro presidente norte-americano, conhecido por suas visões radicais contra acordos comerciais, imigrantes etc.

Impacto econômico

Ocupante do Ministério da Fazenda, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles lida com os fatos de maneira mais cautelosa. Ele afirmou que o país está preparada para lidar com os impactos econômicos após a eleição de Trump:

“O Brasil está preparado para lidar com qualquer volatilidade dos mercados resultante das eleições presidenciais nos EUA”.

Meirelles também destacou que a equipe econômica vem acompanhando a evolução dos principais indicadores. E os efeitos da eleição de Trump para o crescimento do Brasil, sobretudo nas projeções para 2017.