Eleição presidencial ainda este ano ganha apoio na Câmara e Senado

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Publicado segunda-feira, 2 de maio de 2016 as 11:21, por: CdB

Diante do avanço do golpe institucional, parlamentares do PCdoB também passaram a apoiar a consulta aos eleitores sobre a necessidade, ou não, da realização de eleição presidencial antecipada

 

Por Redação – de Brasília

Ao passo que o golpe de Estado, em curso no país, ganha novos contornos no Senado, a frente de partidos que se posiciona contra o pedido de impedimento da presidenta Dilma Rousseff amplia o esforço na direção de novas eleições, para este ano. Aumentam as chances, segundo parcela das legendas que rejeitam o impeachment sem que fique caracterizado o crime de responsabilidade, de se iniciar uma campanha pelas eleições, em outubro, à Presidência da República. Estes parlamentares, que apoiam o sufrágio ao invés do golpe de Estado, calculam que a maioria dos congressistas será favorável a uma solução negociada à imposição de um governo impopular.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não se pronunciou quanto a possibilidade de novas eleições

Pressionada pela ação que, em uma semana, será decidida no Senado e significará o afastamento da presidenta por, no mínimo, 180 dias, a ala favorável às novas eleições começa a se pronunciar. Os principais ministros do governo, como Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), passaram a defender a realização de eleições presidenciais e buscam, agora, o consenso com os sindicatos e os movimentos sociais. O vice-presidente Michel Temer, prestes a assumir o Palácio do Planalto, porém, é radicalmente contrário à ideia:

— Seria fugir da responsabilidade. Essa, sim, é uma proposta golpista — disse Temer, na semana passada. A opinião de Temer, no entanto, será facilmente descartada em um cenário no qual deputados e senadores favoráveis à medida decidam por mudar o comando da nação.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não se pronunciou quanto ao apoio, ou não, às novas eleições. Mas o senador petista Paulo Paim (RS), que conversou com o líder petista, semana passada, acredita ser necessário um tempo a mais para que a ideia seja avaliada. Segundo afirmou, ainda não há, na Câmara e no Senado, número suficiente de votos para aprovar a proposta.

— Diria que no PT cresce o apoio, porque eu e os senadores Jorge Viana (PT-AC) e Lindbergh Farias (PT-RJ) a estamos apoiando. As pesquisas dizem que a população quer novas eleições. Se isso tudo for verdadeiro, que deixemos o povo eleger presidente e vice numa grande concertação — disse Paim, a jornalistas.

Segundo afirmou, nesta manhã, não há 3/5 dos votos para a aprovar uma PEC, ou seja, 308 votos na Câmara e 49 votos no Senado, em duas votações em cada Casa.

— Percebemos que o impeachment está caminhando e decidimos no meio do caminho encontrar uma alternativa. Claro que hoje não tem voto. Sabemos. Só é viável se houvesse um grande entendimento entre Executivo e Congresso — acrescenta o senador.

A favor da eleição

Diante do avanço do golpe institucional, parlamentares do PCdoB também passaram a apoiar a consulta aos eleitores sobre a necessidade, ou não, da realização de eleição presidencial antecipada e em que prazo. Estes parlamentares defendem a ideia de um plebiscito, em outubro deste ano. O processo de impeachment chegou ao Senado no dia 18 de abril. O afastamento de Dilma por 180 dias até o julgamento final do caso deve ser votado no dia 11 de maio.

— Um golpe está em curso no Brasil, ele é contra o povo e a nação. O governo que emergir dessa agressão à democracia não terá legitimidade para enfrentar os problemas do país. É necessário encontrar saídas que apontem para o retorno da normalidade democrática. Neste sentido acredito que devemos dialogar com amplas forças nacionais em torno da proposta de um plebiscito que convoque imediatamente novas eleições — destaca a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE).

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), também avaliou, em conversas com jornalistas, que a população deve opinar, em um momento grave da vida política do país.

— Temos de consultar o eleitor se ele quer eleição direta ou não para a Presidência da República. Temer não pode assumir o poder sem qualquer legitimidade ou voto popular. É um absurdo querer usar o impeachment, sem existir crime de responsabilidade, como um instrumento de eleição indireta de presidente — disse.

O principal objetivo dos golpistas, na tentativa de assumir os destinos da União, é levar adiante um projeto político neoliberal com a retirada de direitos sociais e trabalhistas, em uma direção que os eleitores rejeitaram, nas urnas, em 2014.

— Dilma com muita humildade tem dito que aceita o encurtamento do seu mandato, com a nova eleição, desde que seja respeitada a soberania do voto. O plebiscito tem mais valor, porque cabe ao povo definir se deve haver eleição antecipada ou não — diz a vice-líder do governo, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Editorial do CdB

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No dia seguinte à votação na Câmara, quando foi consolidada a tentativa do golpe de Estado, o Correio do Brasil, em editorial assinado pelo editor-chefe, jornalista Gilberto de Souza, posicionou-se favoravelmente à realização de eleições diretas para a Presidência da República, como alternativa à ameaça golpista.

Leia, adiante, o editorial publicado no dia seguinte à votação, na Câmara:

Após a derrota na Câmara dos Deputados, na noite de domingo, o governo da presidenta Dilma Rousseff inicia seu naufrágio de forma gradual e constante, no reverso da distensão imposta pela resistência armada à ditadura. A abertura política, em curso desde então, encerra-se mais uma vez em um par de meses, no máximo. Com o apoio da maioria do Congresso e a pressão dos empresários, donos dos meios de comunicação, da indústria e dos bancos, Dilma seguirá o seu calvário até que, por duas votações, seja a última a apagar a luz do governo petista. O ciclo de plenitude democrática encerra-se, 13 anos após a eleição do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, no ocaso do mais amplo período de liberdade, em séculos de domínio senhorial.

O PT, errático desde um de seus principais líderes colocar a Rede Globo como aliada de um governo popular, segue entre manter a política de alianças — inerte após estocada de morte pela traição na Câmara dos Deputados —, ou a luta à esquerda, ao lado das forças progressistas e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fiel escudeiro da presidenta Dilma ao longo de sua queda. Inepta no trato político, a presidenta deixou ao encargo de líderes da tal ‘base aliada’ a negociação de sua sobrevida, no Parlamento. Despida de carisma, oratória e sagacidade, Dilma é pajeada por um séquito de duendes ineptos, sem nomes próprios para não fulanizar a análise, prontos a auxiliá-la na tarefa de, supostamente, governar o Brasil.

Por um profundo sentimento de amor à democracia e à liberdade, movimentos sociais brasileiros — desde gigantes como o Movimento dos Trabalhadores Sem-terra (MST) ou o Movimento dos Trabalhadores Sem-teto (MTST), até a Frente Brasil Popular (FBP), da esquerda organizada, que produziram verdadeiros espetáculos pela liberdade, em manifestações por todas as cidades brasileiras —, a maioria que elegeu a presidenta Dilma, em 2014, mantém o combate contra o golpe de Estado, em curso. Mas estes guerreiros já avisam que a luta é pela democracia, ainda que signifique uma resistência mais alentada, por anos a fio, até 2018 e depois. A segurança jurídica, da economia e dos direitos humanos estarão lançadas por terra, após a queda de Dilma Rousseff, o que demanda mais do que a defesa a uma pessoa e seu mandato, mas ao Estado democrático e de direito.

O bombardeio midiático, até que o governo Dilma seja derradeiramente sepultado, seguirá em volumes ainda mais altos. Qualquer voz dissonante, segundo o manual das emissoras, jornais e revistas da mídia conservadora, precisará ser calada a qualquer preço. Os movimentos sindicais estão ameaçados de morte. O fascismo corre solto pelas redes sociais. Imaginar que o Senado se traduz em uma instância segura para a democracia seria crer no Supremo Tribunal Federal (STF) como defensor da cidadania e da Constituição. Balela. Não há mais quartel para a democracia, no Brasil, senão as urnas, em novas eleições, convocadas para outubro deste ano.

Dilma, no entanto, deveria se afastar da vida pública. Com o desempenho político e a desenvoltura administrativa exibidas ao longo dos últimos cinco anos, tentar reconduzir ao cargo a presidenta prestes a ser afastada significaria um gasto extremo de recursos, uma energia que sequer o PT e todos os seus aliados dispõem, no momento. Mas passaria a faixa ao sucessor. Ao convocar novas eleições, em um curto período, Dilma poderia surfar na ebulição política do país com um argumento que a direita não resistiria, porque acredita viver seu melhor momento, em meio ao fracasso do maior adversário eleitoral:

Quem vencer, que fique desde já acertado, toma posse e governa até 2020.