Eleições expõem divergências na extrema direita italiana

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Publicado Terça, 05 de Outubro de 2021 às 11:31, por: CdB

 

A aliança de "centro-direita", como é chamada pelos jornais italianos, é formada por dois partidos ultranacionalistas e um conservador moderado e esperava manter a onda de vitórias iniciada em 2018.

Por Redação, com ANSA - de Roma

As eleições municipais de 2021 na Itália expuseram as divergências na coalizão de direita que governa mais da metade das regiões do país e tem quase 50% das intenções de voto em âmbito nacional.
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Matteo Salvini e Giorgia Meloni, os aliados-rivais na extrema direita italiana
A aliança de "centro-direita", como é chamada pelos jornais italianos, é formada por dois partidos ultranacionalistas e um conservador moderado e esperava manter a onda de vitórias iniciada em 2018. No entanto, das seis capitais regionais que foram às urnas entre 3 e 4 de outubro, a coalizão de direita chegou no segundo turno apenas em três (Roma, Turim e Trieste), sendo que é favorita somente na última. Por outro lado, candidatos de centro-esquerda foram eleitos ou reeleitos como prefeitos em primeiro turno em Milão, Bolonha e Nápoles, além de ser os mais cotados à vitória no segundo turno em Roma e Turim. O resultado abaixo do esperado desencadeou um processo público de lavagem de roupa suja na coalizão conservadora, que é majoritária em âmbito nacional, mas também abriga uma intensa disputa interna para encabeçar a aliança. – Uma reflexão, sem inventar desculpas: se metade dos cidadãos escolhe não votar, certamente não é culpa deles, é culpa nossa. De nossos erros, nossas brigas e nossos atrasos. Que sirva de lição para mim e para nós – escreveu no Facebook o senador e líder do partido de ultradireita Liga, Matteo Salvini. Desde março de 2018, quando foi alçado ao cargo de ministro do Interior no primeiro governo de Giuseppe Conte, Salvini é o líder inconteste da coalizão, mas nos últimos meses vem sofrendo uma crescente pressão de sua aliada-rival Giorgia Meloni, deputada e presidente do partido Irmãos da Itália (FdI), que está à direita da própria Liga no espectro político e já aparece na frente na maioria das pesquisas nacionais.

Força Itália

O terceiro braço dessa aliança é o moderado Força Itália (FI), do ex-premiê Silvio Berlusconi, cada vez mais relegado ao papel de força acessória da extrema direita. Em cidades como Roma, a lista de vereadores do FdI recebeu até o triplo de votos da Liga. – Não estamos falando de uma derrota, mas de uma ótima afirmação do FdI, a qual pretendo reivindicar – declarou Meloni, que aspira a desbancar Salvini do comando da coalizão e tornar-se primeira-ministra no caso de eleições antecipadas. O plano de Meloni já está traçado: convencer os outros partidos a votar em Mario Draghi para presidente da República no início do ano que vem, o que deixaria o governo vago e abriria caminho para uma possível ida às urnas já em 2022, embora as eleições nacionais estejam previstas apenas para 2023. – A centro-direita está de acordo sobre o fato de que Mario Draghi seria um bom presidente da República e que, neste caso, poderíamos ter eleições imediatamente. Ou alguém pensa que podemos eleger Draghi para presidente e colocar outra pessoa no governo sem passar pelo voto dos cidadãos? – disse a deputada. Meloni, no entanto, foi desmentida rapidamente por fontes do Força Itália, que negaram a existência de qualquer acordo para colocar o atual premiê na chefia do Estado. O próprio Salvini, acossado pela ascensão de Meloni, não quer falar em antecipar eleições. – Hoje me ocupo de evitar aumentos de impostos. Todos falam de eleição para presidente da República, que será em fevereiro, mas estamos no começo de outubro. O que vai acontecer em fevereiro nós veremos mais para frente – disse o senador.

Demora

De acordo com Salvini, a derrota nas grandes cidades foi causada pela demora da direita em apontar seus candidatos, já que houve muitas divergências entre os três partidos. Em Roma, a coalizão apontou seu postulante a prefeito, Enrico Michetti, bancado por Meloni, apenas em junho, enquanto Roberto Gualtieri, do Partido Democrático (PD), venceu as primárias da centro-esquerda no mesmo mês, mas havia anunciado sua pré-candidatura já em março. Michetti vai para o segundo turno na liderança, com 30,14%, mas Gualtieri (27,03%) é favorito à vitória, de acordo com todas as pesquisas de intenção de voto. Já em Milão, os conservadores candidataram o desconhecido pediatra Luca Bernardo apenas em julho, e ele acabou perdendo de lavada para o prefeito Giuseppe Sala, reeleito com quase 58% dos votos.

Oposição

A ascensão de Meloni nos últimos meses pode ser explicada pelo fato de o FdI ser o único grande partido de oposição ao governo Draghi, concentrando em si o apoio de descontentes que vão desde desempregados e autônomos afetados pela pandemia até grupos antivacinas. Já Salvini e a Liga, que nadaram de braçada no campo conservador até 2020, agora enfrentam dificuldades para manter o discurso populista enquanto fazem parte do Executivo. Nesta terça-feira, um dia após o resultado das eleições, o partido já boicotou uma reunião do Conselho dos Ministros sobre um projeto de reforma fiscal. – É, por si só, um gesto grave, mas precisamos esperar o que diz a Liga para saber suas implicações – disse Draghi em coletiva de imprensa. Já Salvini alegou que os ministros da Liga tiveram pouco tempo para ler o texto, mas negou uma crise de governo. – Não há nenhum rompimento, pedimos apenas clareza. O governo deve esclarecer que não é o momento de aumentar impostos – declarou o senador.  
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