Empiricus demite analistas e é acusada de manipular os fatos

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Publicado Segunda, 12 de Março de 2018 às 10:41, por: CdB

Empresa de avaliação financeira, a Empiricus demite quatro de seus analistas mais relevantes, nos últimos dias, em um rumoroso bate-bota pelas redes sociais.

 

Por Redação - de São Paulo

 

Quatro analistas demitidos da casa de análise Empiricus relataram nas redes sociais, segundo informações de um dos diário conservadores paulistanos, neste fim de semana, episódios de manipulação dentro da corretora. Os fatos levaram "assinantes manifestar preocupações". Para se ter a dimensão do posicionamento político da casa de análise e corretagem de valores, o melhor cenário para o país, segundo esses analistas, seria uma disputa entre o governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin, e o representante da ultradireita, deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

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Felipe Miranda, um dos donos da Empiricus, é citado negativamente por seus ex-funcionários Reprodução Reprodução

"Alguns deles chegaram a comentar sobre suposta pressão para citar alguma determinada ação na cesta de recomendações ou, até mesmo, falta de liberdade para alguma indicação”, diz o Estado de S. Paulo. O jornal lembra que a Empiricus esteve envolvida em uma outra polêmica quando recomendou aos assinantes a compra de ações da Alpagartas, uma empresa que pertencia aos irmãos Joesley e Wesley Batista. Na época, teria mandado aos investidores um presente: um par de Havaianas com a marca da casa de análise.

A Empiricus negou que isso tenha ocorrido, mas admitiu ter encerrado os contratos com quatro de seus analistas mais conhecidos. “Isso deu início a uma lavagem de roupa suja no Twitter e no Facebook. Num dos pontos mais chocantes da discussão, uma das demitidas acusou a Empiricus de obrigá-la a incluir, contra a sua vontade, a recomendação de compra de ações de uma construtora”, afirma Alexandre Aragão, repórter do site norte-americano de notícias BuzzFeed News, na sua edição para o Brasil

Leia, adiante, a reportagem:

"A Empiricus vende assinaturas de newsletters, análises do mercado financeiro e sugestões de investimentos. Seus analistas também costumam usar as redes sociais para dar recomendações de papéis e fundos.

O analista Ricardo Schweitzer, que trabalhou até o final de fevereiro na Inversa Publicações — empresa que tem sócios em comum com a Empiricus —, publicou tuítes sobre o assunto.

"Lançar uma corretora (a Empiricus confirmou, em 2017, interesse na possibilidade de comprar ou montar uma corretora) depois de sete anos bradando que análise e corretagem não podem se misturar é dar um tapa na cara de cada assinante. Teatro? Só se for tragédia grega”, escreveu Schweitzer.

Milionários

Ele também publicou um email, omitindo quem o enviou, em que o interlocutor pede que o analista faça propaganda de um novo produto da Inversa, chamado Clube dos 5.

"A ideia é escrever dois ou três parágrafos convidando os seus assinantes para ver o documentário O Segredo de 5 Milhões", diz a mensagem. Antes da demissão, Ricardo se recusou a fazer a propaganda.

"Marink Martins convida você a integrar agora o Clube dos 5, para atingir R$ 5 milhões em cinco anos, ou até antes, com a estratégia formadora de milionários em Wall Street", diz um locutor no vídeo citado na mensagem.

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Caio Mesquita, CEO da Empiricus, respondeu na mesma moeda — pelo Twitter. Sem citar nomes, ele escreveu: "Infelizmente a vitimização contaminou as novas gerações, enquanto caráter, lealdade e gratidão tornam-se cada vez mais raros”. “Temo pelo futuro", escreveu.

Gatilhos

Sócio da Inversa Publicações, mas não da Empiricus, Pedro Cerize também foi ao Twitter abordar a polêmica e citou Schweitzer: "Ricardo já não escrevia o (relatório) Top Shot há alguns meses. Deixava a cargo de seu assistente. Já organizava juntos com outros integrantes da @empiricus sua saída. Tentava de diversas formas criar ‘fatos’, como abaixo. E agora se coloca na posição de vítima.“, escreveu.

Outra analista demitida da Empiricus, Ariane Gil, publicou um texto após sua saída em que deixava de recomendar a compra de ações da Tecnisa e afirma ter sido pressionada a falar dos papéis, também sem citar nomes de quem a teria pressionado.

"Este sempre foi um call um tanto controverso, acompanhado por gatilhos dubitáveis. Uma dor de cabeça desde agosto do ano passado. Não fosse pela espontânea e escabrosa pressão vinda de cima para adicionar o papel à carteira com imediatismo, certamente seria rechaçada pela carência de consistência dos fundamentos à época", ela escreveu.

Em nota, a empresa nega — leia a íntegra ao final do post.

Suspensão

Marilia Fontes, que assinava uma das newsletters da Empiricus, publicou um texto no Facebook, mas sem críticas diretas à empresa. "Por conta das semanas finais da minha gravidez, não sei o quanto estarei online nas redes", ela escreveu.

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Alguns dos analistas demitidos já haviam sido punidos pela Apimec, entidade que representa e faz a autorregulação da atividade de analistas e profissionais de investimentos no Brasil.

Os casos incluem desde oferecer "garantia de retorno", ao misturar recomendações de investimento com emails de marketing, até imprecisões que geravam risco à integridade de participantes do mercado. Na primeira dessas ações, também foi punido com suspensão de 30 dias Felipe Miranda, um dos principais sócios da Empiricus.

O BuzzFeed News entrou em contato com Schweitzer; Gil, Fontes e Bruce Barbosa (outro demitido), mas nenhum deles quis dar entrevista.

Em nota, a Empiricus culpou os demitidos pelo próprio desligamento; mas se recusou a dar detalhes. "Não comunicamos as causas das demissões dos funcionários por respeito a eles próprios. Quanto às alegações dos demitidos, elas são totalmente inverídicas".

Em um post no site da empresa; a Empiricus anunciou que o economista Alexandre Schwartsman substituirá Marilia Fontes nas análises sobre renda fixa".

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