Publicado Sexta, 06 de Setembro de 2019 às 09:37, por: CdB
Lula considera que a crise política atual e o governo Bolsonaro refletem vários interesses em jogo no país.
Por Redação, com RBA - de Brasília
A defesa da soberania nacional foi questão central na entrevista de duas horas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu aos jornalistas Mino Carta e Sérgio Lirio, de Carta Capital, gravada nesta semana e transmitida pelas redes sociais na noite desta quinta-feira.
Lula disse que o interesse maior dos setores financeiro e empresarial é desmontar a estrutura de direitos ao longo de décadas
- O que nós precisamos é alertar a sociedade do processo de destruição que está acontecendo no país, da entrega da soberania nacional - afirmou.
Lula afirmou que a soberania está relacionada ao conhecimento, e deu como exemplo a área de engenharia, e que para se tornar uma nação soberana é preciso acreditar que educação é um investimento. “Colocar pobre na universidade não é gasto, é investimento”.
Lula também defendeu que o Brasil não quebrou ao longo da crise dos últimos anos por conta de ter US$ 380 milhõe de reservas, um fundo que foi construído durante os governos do PT.
Sergio Lirio perguntou se Lula acredita que o governo Bolsonaro conseguirá privatizar a Petrobras. Lula afirmou que o povo brasileiro não sabe ainda o que significa a Lava Jato na economia, quantos milhões de pessoas perderam o emprego.
- É preciso informar as pessoas sobre o que está acontecendo no país - disse o ex-presidente.
Ele também comentou sobre a crise das queimadas na Amazônia.
- Quem está tocando fogo são os milicianos de Bolsonaro. Não são as pessoas sérias do país. Essa gente que só destrói, liberar armas, tirar radares, vai favorecendo os bandidos - completou.
Perguntado sobre o que pensa do fato de uma parte da população ainda apoiar os nomes de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, apesar dos diálogos revelados pela Vaza Jato, Lula disse que “a sociedade reage de acordo com a informação que ela tem. O PT e os governos do PT foram demonizados e saímos para um pensamento único. A sociedade está começando a enxergar o que está acontecendo. E ainda dizem que o desemprego é por conta da Dilma, mas isso começou quando eles começaram a boicotar o governo da Dilma”.
A Rede Globo é responsável por parte do ódio neste país, defendeu Lula.
- Mas o período do PT foi o melhor período de distribuição de renda, com investimento público, com crescimento da renda dos mais pobres, com investimento na educação. Agora o PT tem que ter paciência e ajudar a arejar a cabeça da sociedade - disse.
Lula também comentou sobre as perspectivas do julgamento de seu caso no STF.
- Como é que vive um ser humano sem ter esperança? Haverá um momento neste país em que será dito que eu fui vítima da maior canalhice. Tudo o que o Intercept diz, nós já dizíamos. Não tem novidade. Estou tranquilo e esperançoso. O STF vai entrar no mérito do processo”, afirmou e depois lembrou de quando disse para o então juiz Sergio Moro: “Você está condenado a me condenar - desabafou.
Mas Lula também comentou que tudo isso é secundário diante dos problemas do povo.
- Se estivesse comendo melhor, estudando melhor, mas o povo é prisioneiro de uma canalhice. Não sabem governar e só falam em corte - criticou.
- O Bolsonaro acredita em cada asneira que ele fala, porque ele é fanático, ele governa para turma dele - completou.
Lula considera que a crise política atual e o governo Bolsonaro refletem vários interesses em jogo no país. Lula disse que “o interesse maior dos setores financeiro e empresarial é desmontar a estrutura de direitos ao longo de décadas. Estamos voltando ao passado. A escravidão nunca significou progresso. Eles querem desmontar o estado de bem-estar conquistado no período pós-segunda guerra”.
- A verdade é que a Lava Jato virou uma instituição política e deixou de atuar contra a corrupção - defendeu.
Lula fez referência a um fato que precisa ser apurado numa operação após a Lava Jato. Ele disse que o que é tido como propina, possivelmente era evasão fiscal e que isso ainda terá de ser apurado, mas não deixou de destacar que Moro e o TRF4 são mentirosos e também que o STJ não julgou o mérito do seu caso.
- Mas eu acho que a verdade vai vencer - finalizou.
Depois de lembrar que chegou ao fim do seu mandato com 87% de aprovação, Lula disse que o sentimento de ódio que dominou as eleições de 2018 foi alimentado desde que ele saiu da presidência. “Esse ódio nós precisamos extirpá-lo, porque a sociedade não consegue construir um país nesse clima”.