Enterros na Bolívia podem gerar novos protestos

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Publicado quarta-feira, 15 de outubro de 2003 as 13:21, por: CdB

A convulsão social na Bolívia continua aumentando, um mês depois de iniciadas as manifestações contra o presidente do país, Gonzalo Sánchez de Lozada. Embora os protestos tenham diminuído de intensidade, nesta quarta-feira uma multidão se prepara para assistir ao enterro dos mortos nos últimos dias, o que pode levar a mais protestos.

As caravanas se dirigiam à localidade de Ventilla, nos arredores de El Alto, para enterrar as vítimas da violência, que estão sendo qualificadas como “mártires do povo”. “Milhares de pessoas vão enterrar nossos mortos e juraremos continuar lutando até botar ‘Goni’ (apelido de Gonzalo) pra fora do palácio e derrubar seu governo”, declarou um dos manifestantes ante as câmaras de televisão.

Segundo fontes humanitárias, somente na segunda-feira 28 pessoas morreram nos choques com as forças policiais em El Alto e La Paz. Até agora, desde que os índios aymaras, que se opõem à exportação do gás e exigem a renúncia de Lozada iniciaram os protestos, mais de 70 pessoas já morreram em confrontos.

Os focos de tensão, radicados durante os últimos dias em La Paz e El Alto, se espalharam também para Oruro (Sudeste), Sucre (Sudeste), Cochabamba (Centro), Potosí (Sul) e Santa Cruz (Leste), o departamento mais pujante do país e habitualmente alheio aos protestos sociais. Na cidade de Cochabamba, onde ontem à noite houve fortes choques entre manifestantes e policiais, a greve começa a ser sentida com o fechamento do comércio, a suspensão das aulas e a paralisação do transporte. Em Oruro, Potosí e Sucre, a capital constitucional e sede do Poder Judicial do país, os protestos dos dias anteriores ameaçam repetir-se nesta quarta-feira.

Na combativa região cocaleira do Chapare, as hostes de Evo Morales, líder da oposição política e chefe do Movimento Al Socialismo (MAS), ainda não conseguiram controlar a estrada que liga o Leste ao Oeste do país, devido a um forte dispositivo militar e policial. Enquanto isso, na frente da crise política o presidente falava sobre o pedido de seu aliado Manfred Reyes Villa, chefe da populista de direita Nova Força Republicana (NFR), de convocar um referendo sobre o futuro do gás natural, como uma maneira de solucionar a crise social. Mas o referendo, mecanismo solicitado também pelos sindicatos e pela oposição, não está previsto na Constituição.