Entregadores de apps afirmam que greve é por tempo indeterminado

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Publicado Quinta, 14 de Outubro de 2021 às 09:58, por: CdB

 

A decisão dos entregadores de São Carlos, tomada em assembleia na noite de quarta-feira foi de dar uma trégua temporária. "Muitos alegaram estar passando por necessidades", explicou José Carlos*, um dos entregadores organizados na cidade.

Por Redação, com Brasil de Fato - de São Paulo

A onda de greves de entregadores de aplicativos, que começou no feriado de Nossa Senhora Aparecida em Paulínia (SP), Jundiaí (SP) e São Carlos (SP) e que inicialmente tinha término previsto, mudou de curso diante do silêncio por parte das empresas de aplicativos.

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Em contexto de alta no preço do combustível, entregadores reivindicam melhores taxas de entrega, o fim da coleta dupla e dos bloqueios de conta sem justificativa
"Nenhuma resposta, a greve continua!". A frase estampa a faixa pendurada em frente ao Jundiaí Shopping: o breque na cidade, que ia terminar no feriado de 12 de outubro, agora segue por tempo indeterminado, até que as reivindicações sejam negociadas. Em Paulínia, onde o serviço de delivery está travado desde o último dia 8, os trabalhadores dizem que seguirão de braços cruzados ao menos até a próxima sexta-feira. Nesse dia está marcado o início do breque dos entregadores de Bauru (SP). Greves também estão agendadas para começar em Niterói (RJ) e São Gonçalo (RJ) em 15 de outubro. Os trabalhadores não receberam ainda contato de nenhuma das empresas que os contratam, entre as quais iFood, Uber Eats, Box Delivery, Rappi e James Delivery. A decisão dos entregadores de São Carlos, tomada em assembleia na noite de quarta-feira foi de dar uma trégua temporária. "Muitos alegaram estar passando por necessidades", explicou José Carlos*, um dos entregadores organizados na cidade. – Então decidimos parar a greve por alguns dias, para a galera trabalhar e juntar uma grana e daqui a 15 dias vamos parar de novo – ressalta. Segundo ele, a organização é para que a próxima paralisação seja "mais radical". Até o ano passado, como foi o #BrequeDosApps em julho de 2020, os protestos da categoria tinham a característica de paralisação de um dia, com manifestações. Foi o que aconteceu na terça com um ato feito em Rio Claro (SP) das 14h às 17h. Porém, desde que entregadores de São José dos Campos (SP) fizeram um breque de seis dias em setembro, a estratégia de parar por um período mais longo e pré-definido passou também a ser adotada. Os entregadores de Jundiaí agora inauguram a greve sem data para acabar. – Um recado para o iFood: enquanto vocês não responderem, é indeterminado. Motoboy tudo fechado, tudo parado. Não dá para a gente rodar por R$ 5,31 se a gasolina está R$ 6 – afirma um grevista de Jundiaí em vídeo divulgado nas redes sociais, se referindo ao valor da taxa mínima de entrega paga pela plataforma. Além do aumento da taxa, o fim da coleta dupla e da suspensão da conta sem justificativa estão entre as demandas principais da greve. As plataformas de entrega na hora do almoço de quarta, com todos os restaurantes dos dois shoppings de Jundiaí aparecendo como fechados, demonstravam que o bloqueio seguia eficaz.

Posição do iFood

Ao Brasil de Fato o iFood não respondeu se pretende negociar com os grevistas. Em comunicado, informou que "respeita o direito constitucional e democrático da realização de manifestações". A empresa disse, ainda, que "adota uma conduta proativa em busca do diálogo, com uma equipe dedicada a escutar e conversar com os entregadores de todo o país". "Até o final do ano, realizaremos mais de 100 reuniões com os trabalhadores e suas lideranças para dar atenção às suas demandas e propostas para aprimorar o nosso relacionamento", afirma o iFood. João Nascimento*, entregador em greve de Paulínia, afirma que o movimento recebe apenas informações desencontradas por parte de contatos com os restaurantes da cidade. – Alguns falam que o iFood diz não estar sabendo de greve. Para outros restaurantes, o iFood diz que está negociando com a gente. Mas não entrou em contato com ninguém até agora – relata.

Plataformas tentam desmobilizar com promoções

– Trabalhar a gente quer, os apps que não querem deixar – expõe Ronaldo Silva*, que começou no serviço de entrega de comida durante a pandemia, em Jundiaí. Em relação ao diálogo feito nos bloqueios de greve, ao convencer colegas a pararem de coletar pedidos, Ronaldo explica que é difícil pois "todos temos contas para pagar". Mas avalia que as mobilizações têm funcionado: "Ou a gente se sacrifica ou a gente não vai conseguir resultado". As plataformas, no entanto, têm estimulado que essa conversa seja ainda mais desafiadora. Em Paulínia e Jundiaí, o iFood lançou uma promoção com um extra de R$ 5 para quem fizesse entregas no horário do jantar de quarta.

Solidariedade internacional

A organização dos entregadores de Jundiaí conta com um fundo de greve fomentado por doações voluntárias. A chave pix é divulgada nas redes sociais e é assim que eles têm se alimentado ao longo dos dias parados. O grupo está recebendo apoio de entregadores de outras regiões, como de São Paulo e do ABC paulista, e a solidariedade não se restringiu às fronteiras nacionais. Mateus Mendonça é brasileiro e vive na Inglaterra. Lá ele integra o IWGB Union, sindicato da Grã-Bretanha que organiza trabalhadores migrantes e precarizados. Com um contato estabelecido desde o ano passado, nessa mais recente onda de greves houve trocas de vídeos de apoio entre os entregadores da Inglaterra e do Brasil. Além disso, a organização britânica está vendo a possibilidade de coletar uma contribuição financeira para o fundo de greve. – Estamos fortalecendo essa relação, que é principalmente de apoio mútuo, solidariedade, compartilhamento de táticas e de conhecimento – descreve Mateus, ao explicar que grande parte dos trabalhadores de aplicativo em Londres são também brasileiros. – Quem sabe em algum momento – sugere, "conseguimos fazer uma inciativa conjunta simultânea". * Os nomes foram alterados para preservar as fontes.
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