Escândalo do leite condensado leva Jair Bolsonaro a agredir, mais uma vez, a imprensa

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Publicado Quinta, 28 de Janeiro de 2021 às 14:28, por: CdB

Levantamento feito pela Associação Contas Abertas junto ao portal Painel de Compras, do Ministério da Economia, mostra que os gastos do Poder Executivo apenas com leite condensado em 2020 foram bem maiores do que no ano anterior.

Por Redação - de Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) partiu para a ignorância em uma churrascaria, na noite passada, contra as críticas pela compra milionária de seu governo com alimentação e alegou que a despesa não foi destinada apenas para a Presidência da República, mas sim para atender o Exército e  ministérios, como os da Cidadania e Educação.

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Jair Bolsonaro xingou os repórteres que cobriam um evento do qual ele fazia parte, na noite passada, ao comentar o caso do leite condensado

— Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra p. que o pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado — agrediu Bolsonaro.

Levantamento feito pela Associação Contas Abertas junto ao portal Painel de Compras, do Ministério da Economia, mostra que os gastos do Poder Executivo apenas com leite condensado em 2020 foram bem maiores do que no ano anterior. Somaram R$ 18,5 milhões, volume 72,9% superior do que os R$ 10,7 milhões contabilizados em 2019.

Cotação

Conforme os dados da entidade, o Ministério da Defesa foi o órgão que mais gastou com esse produto que o presidente Jair Bolsonaro gosta de passar no pão. A pasta foi responsável R$ 17 milhões do total de R$ 18,5 milhões adquiridos pelo governo federal no ano passado. Esse montante é 82,8% superior aos R$ 9,3 milhões contabilizados em 2019 com o mesmo produto.

Considerando que uma lata da marca mais famosa no mercado custa de R$ 5 a R$ 6 — valor bem acima do que costuma ser uma cotação de compras governamentais — o governo teria comprado mais de 10,1 mil a 8,4 mil latas de leite condensado por dia.

Além do valor, chama a atenção o valor nutritivo dos alimentos comprados pelo Poder Executivo, na avaliação de Gil Castello Branco, secretário-geral da Contas Abertas.

— Essa dieta não é nada balanceada, todo mundo está perguntando quem é o nutricionista — ironizou.

Logística

Castello Branco lembrou que o governo gastou mais com batata frita do que com leite condensado, por exemplo, e as compras no ano passado, de R$ 1,8 bilhão, também incluíram os gastos com alimentação das tropas da Defesa e também os das universidades e dos hospitais federais.

De acordo com o blogueiro Luíz Müller, o terceiro filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirma que os R$15 milhões gastos em leite condensado, valendo R$ 162,00 a caixinha, seriam para alimentar soldados. “Deve ser o mesmo destino dos bombons a R$ 89,00 a unidade”, presume.

Com generais como Pazuello fazendo a logística e cartões corporativos sob ‘controle’ do Capitão, a lambuzeira que já é grande, tende a se ampliar se não apearem o Capitão e o General do Palácio que ocupam”, escreve Müller, que passa a reproduzir um “artigo sobre a pequena e empreendedora Padaria que vende Bombom de R$ 89,00 aos zelosos militares”.

Altos lucros

A padaria que fez parte da venda milionária de bombons ao governo de Jair Bolsonaro em 2020 – cerca de R$ 8,8 milhões – também fechou diversos contratos com o Ministério da Defesa, em especial com o Exército e Aeronáutica, ao longo do ano. Compras variam de R$ 20 a quase R$ 30 mil”.

De acordo com o Portal da Transparência do governo federal, a última venda da Estela Panificadora e Confeitaria Eireli, de Fernanda Borba Cavalheiro, foi realizada em 28 de dezembro de 2020 ao Comando do Exército. Ao todo, foram repassados R$ 7,5 mil pelos produtos do estabelecimento.

Entre pequenos repasses de R$ 200, R$ 300 e R$ 400, a maioria para o Ministério da Defesa, a padaria também fez vendas com lucros que chamam atenção. Em novembro do ano passado, por exemplo, foi fechado um repasse de R$ 29,8 mil só com o grupo de apoio do Comando da Aeronáutica em Curitiba. Uma outra venda de R$ 11 mil, em setembro daquele ano, também foi realizada com a Defesa. Desta vez, para o grupo de artilharia de Campanha do Exército.

Transparência

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) divulgou, na noite de terça-feira, que a empresa tem como sede uma casa simples na cidade de Campo Largo, Paraná. De acordo com a parlamentar, a empresa “vendeu em larga escala milhões de reais em bombons pro Governo, a princípio com R$ 89 a unidade. Ou uma caixinha”.

Ainda não se sabe, no entanto, se a padaria foi a única responsável pela venda milionária de bombons ou se outros estabelecimentos também fizeram parte do negócio. Os contratos da Estela Panificadora e Confeitaria Eireli vieram à tona junto com a informação de que o governo Bolsonaro gastou R$ 15 milhões com leite condensado em 2020. Todos os dados constam no Portal da Transparência do governo federal.

A empresa responsável pela venda do leite condensado, a “Saúde & Vida Comercial de Alimentos Eireli”, também teve fornecimento para as Forças Armadas. O contrato com esse setor totalizou cerca de R$ 12 milhões em 2020.

Desabafo

Diante da reação de Bolsonaro quanto à divulgação dos valores dispensados na compra de guloseimas, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), não poupou adjetivos, em mensagem no Twitter, nesta quinta-feira:

“Escroto, covarde, bandido miliciano, acha que com ofensas vai intimidar a imprensa e a todos nós que investigamos e denunciamos as safadezas dele e da família. Bolsonaro: futuro de vocês é Bangu 8!!”, escreveu o deputado.

Assista ao vídeo:

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