Os recentes escândalos envolvendo figuras de destaque do Banco Central e do Banco do Brasil prometem dar fôlego à artilharia da oposição na volta dos trabalhos do Congresso na próxima semana.
“São casos preocupantes, alguns escabrosos. E eles serão alvo de comentários e discursos em plenário. A oposição vai pedir explicação porque há muito o que se explicar”, afirmou à Reuters José Agripino, líder no Senado do oposicionista PFL.
No Banco Central, o diretor de Política Monetária Luiz Augusto Candiota caiu na quarta-feira por acusações de evasão de divisas e sonegação fiscal, de acordo com documentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Banestado divulgados pela revista IstoÉ.
O próprio presidente da instituição, Henrique Meirelles, está sendo investigado pelo Ministério Público por deixar de declarar renda à Receita Federal. Ele alega que morava no exterior.
Também o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, segundo nova denúncia da revista IstoÉ desta sexta-feira, está sendo investigado pela CPI do Banestado por sonegação fiscal e evasão de divisas.
Casseb já teve de explicar esta semana o episódio de compra pelo banco de 70 mesas a mil reais cada para um show da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano cuja arrecadação era dirigida à compra da nova sede do PT em São Paulo. A churrascaria Porcão, onde o show foi realizado, devolveu o dinheiro ao BB.
“São assuntos de momento, mas como os parlamentares estavam de recesso houve apenas um acompanhamento à distância. Ainda não se criou o clima que esses eventos merecem”, disse Agripino.
O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), presidente da CPI do Banestado que investiga os casos do diretor BC e do presidente do BB, defendeu que toda a diretoria do Banco do Brasil seja afastada e disse que a oposição vai cobrar ações do governo.
“É uma imoralidade, um erro grave e o governo tem dado explicações cínicas. O governo está debochando do povo”, afirmou Antero.
Mesmo o senador petista Eduardo Suplicy admite que a divulgação desses fatos vai esquentar a primeira semana de trabalhos do Congresso, mas acredita que o desempenho da economia protege o governo de um desgaste político.
“Felizmente os dados da economia mostram que há uma recuperação moderada, que a taxa de desemprego está caindo. Um ou outro problema na administração é normal, é claro que é preciso resolvê-los”, afirmou Suplicy.
Suplicy defendeu que o presidente do Banco Central compareça à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para prestar esclarecimentos.
“Os outros assuntos precisam de mais explicação, mas, por exemplo, o assunto Candiota já é passado. E nós do governo estaremos preparados para o debate”, acrescentou Suplicy.
Na semana marcada pela demissão de Candiota, suspeitas contra Meirelles e envolvimento de Casseb em novas acusações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava em vista a três países da África.
De lá, disse que Meirelles é seu homem de confiança no BC e que a demissão de Candiota em nada alteraria os rumos do banco. O presidente já retomou os trabalhos no Brasil nesta sexta-feira.
Ministros-chave que poderiam atuar no campo de defesa também estavam fora, casos de José Dirceu (Casa Civil), que foi a Cuba, e Aldo Rebelo (Coordenação Política), que estava na China.