Especialistas prevêem guerra civil no Iraque por muito tempo

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Publicado Quinta, 08 de Abril de 2004 às 13:21, por: CdB

As forças lideradas pelos Estados Unidos no Iraque correm o risco de serem engolidas por um conflito de guerrilha urbana para o qual não estão preparadas e que vai causar muitas mortes, afirmam especialistas militares. Mais de 1.400 fuzileiros navais norte-americanos, os marines, foram enviados para Ramadi e Falluja, duas cidades muçulmanas sunitas que têm concentrado a resistência contra a ocupação no último ano.

Ao mesmo tempo, outras forças que compõem as tropas lideradas pelos EUA, incluindo a britânica, a italiana, a espanhola, a polonesa e a ucraniana, lutam para conter um violento levante xiita que começou no domingo e que está se espalhando pelas cidades do sul do Iraque.

Os combates em Falluja e em Ramadi são particularmente intensos. Testemunhas contam que soldados norte-americanos, com o apoio de helicópteros e caças, se movimentam a pé, em grupos, para enfrentar guerrilheiros mascarados em confrontos de rua. No início da operação, batizada ``Determinação Vigilante'', 12 marines morreram e 20 ficaram feridos num ataque-surpresa à mansão do governador de Ramadi, ocupada pelas forças norte-americanas.

Foi um dos dias mais sangrentos para os marines desde o início da guerra que derrubou Saddam Hussein, há um ano. "A guerra urbana é o pior tipo de guerra para a infantaria, e é algo que os americanos tentaram evitar desde o começo'', disse Phillip Mitchell, especialista o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos de Londres.

"Significa ir de rua em rua, de casa em casa para derrotar o inimigo. Se é isso que vai acontecer, os americanos vão sofrer muitas, muitas baixas'', disse ele.

Forças de Prontidão

Nos últimos quatro dias de combate, não apenas em Ramadi e Falluja, mas em bairros xiitas de Bagdá e nas cidades de Nassiriya, Najaf, Kerbala, Kut, Basra e Amara, pelo menos 35 soldados norte-americanos e aliados foram mortos.

Centenas de iraquianos também morreram e muitos mais ficaram feridos, nos combates mais intensos desde a queda de Saddam Hussein. O comandante das forças norte-americanas no Iraque, o vice-general Ricardo Sanchez, disse em uma entrevista coletiva na quinta-feira que as operações em Ramadi e Falluja podem se estender por semanas.

"Sempre soubemos, antes de começar a campanha, que essa era uma possibilidade, e todo o Exército e os marines estão preparados para participar desse tipo de operação'', disse ele.
Mas alguns especialistas afirmam que os soldados estão mais bem treinados para operações de combate pesado, que usam mais força, e não para a guerrilha urbana. Também dizem que as Forças Armadas podem estar subestimando a determinação dos rebeldes, que mantiveram durante um ano inteiro a pressão sobre os 125 mil soldados norte-americanos estacionados no país.

Também há a preocupação com o fogo amigo, já que os soldados podem não ser capazes de distinguir adversários de aliados ou civis, o que pode incitar mais ódio e levar mais gente a pegar em armas. "Os americanos não tendem a ser muito bons na insurgência urbana, nem em termos de doutrina nem de treinamento'', disse William Hopkinson, especialista militar e pesquisador associado do Royal United Services Institute, na Grã-Bretanha.

"O tipo de batalha em que eles estão se envolvendo deve levar mais combatentes às ruas'', disse Hopkinson. Ele também está preocupado com as ramificações do levante xiita no sul do Iraque. Militantes leais a um clérigo radical tomaram o controle da cidade sagrada de Najaf, além de Kufa e Kut. Em algum momento, essas cidades terão de ser retomadas, o que significa confrontos pesados. Sanchez disse que as forças da coalizão já estavam sendo realocadas para se preparar para a batalha, e prometeu a destruição da milícia do radical xiita.

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