Estratégia e resistência: a receita na prova de mais de 6 horas

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Publicado terça-feira, 18 de janeiro de 2005 as 19:01, por: CdB

O que já era a etapa mais longa da Volta de São Paulo, com 239 quilômetros, acabou se esticando para 252, por alterações no percurso, e durando mais de 6 horas. O trajeto entre Atibaia e São Carlos, disputado em parte sob chuva, foi de pura estratégia e resistência.

Quem se deu melhor foi o paulista André Grizante, vencedor da etapa de hoje e novamente o líder do pelotão. Sua força muscular para vencer os sprint nos metros finais após 250 quilômetros valeu o troféu, mas Grizante contou, hoje acima de tudo, com o trabalho dos cinco companheiros da equipe Extra/Suzano.

De dentro do carro de apoio da equipe, dirigido pelo técnico Mauro Ribeiro, a reportagem da Agência Estado acompanhou os 252 quilômetros da etapa.

Eram pouco mais de 7 horas quando o pelotão de 128 ciclistas – três abandonaram a prova nos dois primeiros dias – largou do centro de Atibaia. “Ainda não houve muita batalha. Até aqui, o ritmo está rápido, mas, como há muito equilíbrio, as equipes estão cautelosas. Esperando para não fazer movimentação errada. Hoje é a primeira longa distância”, diz Ribeiro.

Sob chuva, ainda no início da longa prova, Elton Marroni, da equipe Cesc/Nossa Caixa, se destacou do pelotão. Renato Ruiz, um dos principais corredores da equipe de Ribeiro, veio ao carro buscar água.

“O Marroni escapou. Mas está tranqüilo, devagar ainda”, afirma o atleta, àquela altura descansado.

Pouco antes da metade, Ribeiro fala de Grizante, que até então não deixara o bloco principal e não retornara para buscar comida. “O Grizante está muito bem. O foco dele é nas etapas que o pelotão faz a chegada”, diz o técnico. “Meu plano para ele é investir em competições internacionais para ele ser testado, mais exigido, e descobrir onde precisa melhorar, onde está errando.” Em 2005, o time tenta vaga na Volta do Sul do Chile, de 20 de fevereiro a 6 de março, e negocia participação em uma prova nos Estados Unidos, em abril, e em quatro competições na França, em julho.

Passando por Iracemápolis, a mais de 80 km da linha de chegada Renato Ruiz, outra esperança do time e revelado na região, vem buscar sanduíches e reclama do ritmo lento demais. “As pernas estão um pouco frouxas, ainda não teve uma puxada forte.” Ribeiro devolve: “É normal.

Come e espera o final. Daqui a pouco a briga começa.” Os veículos das 22 equipes da Volta seguem em caravana atrás do pelotão fazendo o abastecimento e reparos mecânicos quando vem pelo rádio o aviso de que Patrique Azevedo se destacou e lidera a prova ao lado de dois concorrentes. Ribeiro se vê forçado a partir atrás de seu atleta. Ultrapassa o pelotão e vai refrear os ânimos do jovem ciclista.

“Maneira cara, tá muito longe. Vou precisar de você no final.” Minutos depois, Patrique volta ao grupo principal.

Ribeiro, que antes de se aposentar passou mais de dez anos competindo no circuito profissional europeu e é o único brasileiro a ter vencido uma etapa da Volta da França, em 1991, explica que as principais competições na Europa limitaram a duração das etapas em 220 km. “As etapas longas são importantes por exigir resistência. Mas é mais preferível uma corrida curta, dinâmica e espetacular que uma desgastante demais e com o mesmo vencedor. Quem ganha em 170, ganha em 250.” Ruiz aparece de novo. Come mais sanduíches e promete atacar. “Vou meter o pé. Agora o bicho vai pegar”, diz, a menos de 30 km do final. O ritmo se acelera, o grupo compacto vira quase uma fila indiana. O líder do dia, o camisa amarela Jorge Giacinti, argentino da equipe Memorial/Santos, perde a roda traseira e fica momentaneamente para trás, mas rapidamente volta para perto dos líderes.

Nos últimos 15 km, outro atleta da Extra, Daniel Soeiro, escapa do pelotão, junto com Marcio Pinto, rival da Data Ro/Blumenau. Na entrada da cidade, os dois são alcançados e forma-se um grupo de quase 70 ciclistas. A mais de 55 km/h, com as ruas lotadas por torcedores, os últimos 5 km são emocionantes. Grizante