Soldados norte-americanos e policiais iraquianos invadiram na quinta-feira a casa e os escritórios partidários de Ahmad Chalabi, um ex-aliado de Washington, provocando novas turbulências na reta final para a devolução da soberania aos iraquianos.
Os Estados Unidos também lutam para conter a polêmica em torno de um bombardeio aéreo da quarta-feira, que segundo iraquianos matou dezenas de pessoas que participavam de uma festa de casamento no deserto, perto da fronteira com a Síria. Um general norte-americano disse que combatentes estrangeiros foram mortos e que “coisas ruins acontecem em guerras”.
Mas as imagens de mulheres e crianças mortas representaram um novo revés para o presidente George W. Bush, cuja reputação mundial já está prejudicada pelo escândalo do abuso a prisioneiros.
Em campanha para a reeleição e preparando um discurso a ser apresentado na segunda-feira sobre a transição iraquiana, marcada para 30 de junho, pediu a seus colegas republicanos que mantenham a confiança, apesar dos maus índices de aprovação popular ao presidente.
“Ele acredita no que está fazendo e vai manter a rota por suas crenças, não importa qual seja o custo político”, disse David Hobson, que participou de uma reunião a portas fechadas com Bush.
CHALABI EXPRESSA SUA IRA
Chalabi, que já foi visto no governo Bush como um possível líder nacional no Iraque, acusou os EUA após a invasão de suas instalações, enfurecido, de quererem prendê-lo por ter se manifestado a favor da entrega de mais poderes aos iraquianos.
Um juiz iraquiano, Hassan Muathin, disse que a invasão foi feita por causa de um mandado de prisão contra vários homens acusados de furtarem veículos do governo. Autoridades dos EUA dizem que se trata de uma questão interna do Iraque.
Chalabi disse que os soldados dos EUA e os policiais iraquianos isolaram o bairro onde fica a sede do seu Congresso Nacional Iraquiano e uma casa vizinha usada por ele, retirando computadores, arquivos, um exemplar do Corão e outros objetos pessoais.
“Eu estava dormindo, abri a porta e a polícia entrou na minha casa carregando pistolas”, disse Chalabi, membro do Conselho de Governo nomeado pelos EUA, a jornalistas.
“Que minha gente seja livre. É hora de que o povo iraquiano comande seus assuntos”, disse ele, deixando claro que há um impasse com Washington. Outros membros do Conselho de Governo também vêm demonstrando, nos últimos meses, descontentamento com as políticas norte-americanas no país.
Ninguém foi preso na ação, que aconteceu dois dias depois de o Pentágono anunciar um corte de cerca de 340 mil dólares por mês no financiamento do Congresso Nacional Iraquiano — pagamentos que eram feitos em parte como retribuição pelas informações estratégicas fornecidas pelo partido.
Chalabi vem tendo pouco apoio popular desde que voltou do exílio, na esteira da invasão norte-americana que derrubou o regime de Saddam Hussein, no ano passado.
HAVIA UM CASAMENTO?
Iraquianos e militares dos EUA deram relatos conflitantes sobre o bombardeio da madrugada de quarta-feira.
O general Mark Kimmitt disse que o alvo era “o suposto abrigo de combatentes estrangeiros”. “Recebemos disparos no terreno e reagimos com disparos. Estimamos que cerca de 40 pessoas foram mortas.”
Munif Abdullah, que disse ter testemunhado o ataque na aldeia de Wakr Al Deeb, mas não estava no casamento, afirmou à Reuters em um funeral em Ramadi, a capital regional, que “eles atingiram carros e casa, atingiram até as famílias que estavam fugindo”.
O general James Mattis, comandante da divisão dos marines que controla a área, duvidou dessa versão. “Quanta gente vai até o meio do deserto, a 10 milhas (16 quilômetros) da fronteira com a Síria, para fazer um casamento a 80 milhas (130 quilômetros) da civilização mais próxima?”
“Havia mais de duas dezenas de homens em idade militar. Não sejamos ingênuos. Coisas ruins acontecem em guerras.”