A evacuação do trabalho

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Publicado Terça, 17 de Outubro de 2017 às 06:20, por: CdB

Refletindo sobre a inacreditável ausência do tema sindical no simpósio internacional da USP sobre os 100 anos da revolução russa constato que tal desprezo é uma deformação presente nas produções acadêmicas aqui no Brasil e no mundo

Por João Guilherme Vargas Netto – de São Paulo:

A categoria “trabalho” foi evacuada no dia-a-dia do pensamento neoliberal hegemônico, seja nas pesquisas acadêmicas, seja na cobertura midiática, seja na literatura e nas artes e, sobretudo, no mundo econômico. O trabalho perdeu a centralidade nas teorias correntes e na ideologia dominante.

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A categoria “trabalho” foi evacuada no dia-a-dia do pensamento neoliberal hegemônico

Uma consequência disso é o abandono dos sindicatos como entidades fundamentais no arranjo societário capitalista. O pensamento hegemônico culturalista e individualista despreza a ação coletiva dos sindicatos; organizações históricas de resistência dos trabalhadores.

Há muitas razões justificativas de tal alienação. Mas seus efeitos convergem para uma visão deformada da vida em sociedade ofuscando o papel dos trabalhadores e de suas organizações. O descaso com os sindicatos, sua subestimação e até mesmo o ódio a eles é a contrapartida do abandono do trabalho; principalmente do trabalho industrial, como categoria estruturante de pensamento pós-moderno.

A força dos trabalhadores

Em 2007, John Womack Jr editou em espanhol pelo Fundo de Cultura Econômica do México o seu importante livro sobre a posição estratégica; e a força dos trabalhadores. Ao descrever nele as formas de fazer a história dos trabalhadores, Womack registra que “os historiadores acadêmicos se interessam agora em quase qualquer coisa que não seja o trabalho industrial”.

Para demonstrar isto recorre às aquisições da biblioteca da universidade de Harvard nos últimos dez anos; mais de duas vezes sobre gênero que sobre trabalho, 18 vezes mais sobre sexo que sobre trabalho industrial; e um terço mais sobre pornografia que sobre trabalho industrial.

Provocadoramente afirma que “resulta absurdo que careça de interesse estudar a história da atividade necessária; para que ocorra qualquer outra história humana. É histórica e materialmente interessante; o fato de que a espécie se extinguiria muito mais rapidamente sem trabalho do que sem copulação”.

João Guilherme Vargas Netto, é consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo

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