Evento sobre Aids em Paris tem como tema a desigualdade

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Publicado Domingo, 13 de Julho de 2003 às 21:14, por: CdB

A 2ª Conferência da Sociedade Internacional sobre a Aids (IAS) foi aberta neste domingo, em Paris, com vibrantes apelos para combater a "inaceitável" desigualdade entre o Norte e o Sul em relação à epidemia, com o acesso a remédios com preços baixos no mundo em desenvolvimento.
 
- O Brasil mostrou que a Aids não é um problema insuperável - afirmou o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, na abertura do Congresso, que até quarta-feira reunirá mais de 5 mil pesquisadores, médicos e outros especialistas de 120 países.
 
Fernando Henrique explicou que o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a adotar como "política oficial" o acesso gratuito e universal aos remédios antivirais para os infectados com Aids.
 
O ex-presidente afirmou que no Brasil, onde 125 mil pessoas se beneficiam desse programa, a taxa de mortalidade caiu em 50% e as internações, em 75%. Ele alertou, porém, que "a emergência está longe de terminar", já que o mal agora ataca grupos sociais vulneráveis, como pobres, jovens e mulheres.
 
Um fator crucial ao êxito do programa brasileiro, apoiado na "interação entre as iniciativas cidadãs e a política governamental", foi ter forçado uma forte queda dos preços dos remédios e promovido o uso de genéricos.
 
Cardoso disse que o sucesso do programa deu ao Brasil a força moral e política para fazer frente à denúncia dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. Washington cedeu diante do apoio da opinião pública a Brasília.
 
- Hoje, mais do que nunca, combater o HIV-Aids é um teste para a democracia, os direitos humanos e a ética global de compaixão e solidariedade - afirmou Cardoso, para quem a Aids na África é "o desafio mais urgente e complexo" da comunidade internacional e é preciso que os remédios sejam acessíveis a custos viáveis.
 
O acesso aos tratamentos no mundo em desenvolvimento, onde vivem 95% dos 42 milhões de pessoas afetadas hoje pelo vírus do HIV/Aids, é o tema da conferência, junto com uma revisão dos avanços científicos contra a doença.
 
- A desigualdade entre o Norte e o Sul no acesso aos cuidados é inaceitável no plano moral e humano - afirmou o presidente do congresso e da Agência Nacional francesa de Pesquisas sobre a Aids (ANRS), Michel Kazatchkine. Aplaudido pelo público, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, classificou essa desigualdade como "uma mancha inaceitável sobre a globalização".
 
Ele sugeriu aos Estados que destinem fundos para a pesquisa e expressou a esperança de que, na reunião de doadores ao Fundo Global contra a Aids, a tuberculose e a malária, que se realizará em Paris na próxima quarta-feira, a União Européia (UE) faça o gesto "indispensável" de dedicar um bilhão de euros por ano ao fundo.
 
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que acaba de finalizar uma viagem pela África, prometeu US$ 1 bilhão por ano, durante cinco anos, ao Fundo Global, sempre e desde que essa contribuição não supere um terço das contribuições totais.
 
O chefe de Estado francês, Jacques Chirac, que encerrará a conferência científica e a reunião de doadores, junto com o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, na quarta-feira, defende que a UE iguale sua contribuição ao Fundo à de Washington.
 
O prefeito de Paris também recebeu aplausos ao afirmar que os países emergentes, sobretudo os da África (na África subsaariana vivem quase 30 milhões de soropositivos), devem ter acesso aos remédios baratos e ter a possibilidade de fabricar versões mais baratas. Se a OMC não aceitar esse "instrumento de igualdade através da saúde e do direito à vida", será "uma mancha bárbara" sobre este começo de século, afirmou Delanoe.
 
Para rebater os argumentos econômicos sobre os custos do acesso dos países pobres aos remédios, o economista Jean-Paul Moatti disse que "não é apenas um imperativo moral, mas também

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