Explosão suicida abala moradores de subúrbio calmo de Madri

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Publicado Domingo, 04 de Abril de 2004 às 11:59, por: CdB

Assim como a maioria dos meninos de 12 anos, Rubén Capa adora filmes de ação, mas não gostou tanto quando ouviu tiros de verdade e uma explosão na rua onde mora, no tranquilo subúrbio de Leganés, no sul de Madri.

Rubén mora a poucas quadras do prédio onde quatro homens detonaram explosivos e se mataram, quando se viram cercados pela polícia no sábado à noite. Um policial morreu na explosão.

O governo disse que os quatro estavam entre os organizadores das explosões de 11 de março em trens de Madri, nas quais morreram 191 pessoas.

``Eu estava brincando no meu quarto com amigos quando ouvi tiros. Olhei pela janela e havia carros de polícia por toda a parte...Então eu ouvi a explosão'', disse Ruem na manhã de domingo, em uma esquina perto do local da explosão.

``Foi realmente assustador. Eu me afastei da janela e me escondi no quarto.''

A exemplo de muitos moradores do bairro dos arredores da capital espanhola, ele se sente, ao mesmo tempo, atração e repulsa pelo local da explosão, onde dezenas de bombeiros ainda trabalhavam duro para remover os destroços.

O drama voltou a levar o luto e a ansiedade à Espanha, já que aconteceu somente três semanas após os atentados de 11 de março.

Quando as pessoas começavam a recuperar o senso de normalidade, a polícia desativou na sexta-feira uma bomba colocada nos trilhos de um trem de alta velocidade que liga Madri a Sevilha. O governo também relacionou os suicidas da explosão de sábado a este ataque frustrado.

``Isso dá muito medo. O que vai acontecer agora? Houve o 11 de março, depois o trem de alta velocidade e agora isso. Isso não pára'', disse Rubén.

Centenas de moradores de Leganés observaram o trabalho de limpeza por trás do cordão de isolamento, enquanto caminhões levavam montanhas de destroços e a polícia patrulhava o local.

``Não acredito que eles estavam morando aqui e ninguém de nós sabia o que estavam fazendo. Que repugnante. Nos estamos indignados, com medo, desamparados. Nenhum de nós esqueceu o 11 de março'', disse Yolanda, de cerca de 50 anos, com lágrimas nos olhos.

A explosão destruiu diversos andares, e os níveis superiores do edifício pareciam estar amparados precariamente em pilares de concreto.

As pessoas olhavam hipnotizadas para o local e falavam sobre rumores de que a polícia estava vasculhando a piscina atrás dos prédios em busca de restos de um dos suicidas.

O ministro do Interior, Ángel Acebes, confirmou depois que os restos de um dos homens foi encontrado na piscina.

``Nenhum lugar é seguro. Se isso aconteceu aqui, poderia ter acontecido em qualquer lugar'', disse German Rodríguez, que também mora na região.

Alguns moradores estão preocupados com o impacto que os eventos da noite de sábado terá nos relacionamentos em Leganes, uma comunidade multirracial. Pelo menos três dos suicidas eram árabes, como a maioria dos suspeitos dos ataques de 11 de março.

``O pior ainda está por vir porque há gente de muitos grupos étnicos neste bairro e algumas pessoas vão levar a culpa, mesmo que não a tenham'', disse um homem que se identificou como Luis.

Mas outros acreditam que a comunidade ficará unida.

``Não vejo porque isso deverá mudar algo. Estes quatro eram terroristas, eles eram loucos, mas isso não significa que outros estrangeiros são terroristas. Estamos unidos nesta cidade'', disse Rodriguez.

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