Enquanto corre solta a discussão mundial sobre A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, o México está apenas começando a encarar o filme de Martin Scorsese sobre Jesus, proibido no país desde que foi lançado, em 1988.
País de forte tradição católica, o México proibiu a exibição de A Ûltima Tentação de Cristo porque o filme de Scorsese mostra Jesus como alguém de vontade fraca, que cede à tentação de ter relações sexuais com Maria Madalena.
O longa-metragem vai estrear nos cinemas mexicanos, finalmente, nesta sexta-feira.
A distribuidora de A Ûltima Tentação de Cristo disse esta semana que vai lançar “esta obra de arte para que o público mexicano possa tirar suas próprias conclusões e decidir por ele mesmo”.
A Ûltima Tentação vai estrear exatamente uma semana antes da estréia mexicana de A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, acusado por alguns grupos de ser anti-semita e excessivamente violento, mas elogiado pela Igreja Católica, grupos evangélicos e alguns críticos de cinema.
A proibição do filme de Scorsese comprovou a influência forte exercida nos bastidores pela conservadora hierarquia católica do México, apesar da tradicional separação entre igreja e Estado no país.
Em 2002, a igreja pressionou para que fosse proibido o filme O Crime do Padre Amaro, em que o galã Gael Garcia Bernal faz um padre que tem um caso com uma jovem.
Em 2000, a eleição de Vicente Fox pôs fim a sete décadas de governo unipartidário e ofereceu ao país uma nova promessa de democracia e liberdade de expressão.
Católico praticante, Fox se negou a proibir O Crime do Padre Amaro, mas concordou em adiar a estréia do filme até depois da visita do papa ao México.
Consta que a igreja teria ameaçado excomungar os protagonistas do filme e dito que qualquer mexicano que assistisse a ele estaria pecando. Mas a população lotou os cinemas, e Padre Amaro se tornou o filme de maior bilheteria da história do cinema mexicano.
Desta vez, a igreja aceita que os tempos mudaram. “Somos contra esse tipo de filme, mas não podemos negar o direito de quem quer vê-lo. Precisamos respeitar a liberdade de expressão”, disse à Reuters o padre José de Jesus Aguilar, na Cidade do México.
Aguilar disse que o retrato que Mel Gibson traçou de Cristo é respeitoso, mas que Scorsese mostrou um personagem fictício.
“Confiamos que os cristãos irão assistir a A Paixão de Cristo e deixar A Ûltima Tentação de Cristo de lado”, disse o sacerdote.
Estrelado por Willem Dafoe e Barbara Hershey, A Ûltima Tentação mostra Cristo como um Messias relutante, que luta contra suas emoções e seus vícios, como qualquer ser humano comum.
Não se prevê que o lançamento do filme chame muita atenção no México, onde 90 por cento da população se diz católica, mas muitos não vão à igreja. O filme de Gibson parece estar atraindo mais interesse.