A Marcha pela Reforma Agrária foi o acontecimento mais marcante deste 2005. Como disse o companheiro Luis Basségio: “Foi um testemunho de organização, protesto e solidariedade”. Por questões de saúde, só pude fazer a marcha final em Brasília. Tive muita honra de ser convidado para falar na última tarde de formação (segunda-feira, 16, sobre “Mística e Movimento Popular”).
Ao iniciar a grande marcha desta terça-feira. 17, “rumo ao Congresso Nacional”, um companheiro da direção nacional me convidou para ir na primeira fileira, segurando com eles a faixa inicial da marcha. Era uma emoção ver a multidão aplaudindo, a chuva de papéis picados caindo de edifícios. Era comovente ver a organização e disciplina dos companheiros simplesmente juntos, em momentos de silêncio, em outros acompanhando as músicas do carro de som ou as palavras de ordem que pediam: “Reforma Agrária Já”, “mudança estrutural neste modelo econômico” e cidadania para todos os brasileiros.
Na praça diante da embaixada norte-americana, fechada como sempre e super-protegida por centenas de soldados, os manifestantes deixaram lixo, símbolo do que o imperialismo norte-americano impõe ao mundo. Ao chegar em frente ao Palácio do Planalto, todos sabiam que o presidente Lula iria receber naquela tarde 40 representantes do MST e dos participantes da marcha. Entretanto, foi triste ao ver o palácio fechado e protegido por milhares de soldados armados. Como se aquela marcha pacífica de mais de 15 mil pessoas fosse ameaça ao presidente da República ou a quem quer que seja. Os soldados nem queriam permitir que a marcha dobrasse na avenida diante do palácio. De repente, nós que estávamos à frente, segurando a faixa, vimos uma barreira de soldados, com cassetetes na mão, vindo sobre nós. Não deu tempo para nada. Ao meu lado, os companheiros não recuaram. Os soldados armados contra nós, desarmados. Ao meu lado, alguns lavradores tinham na mão foice e outros tinham facões. Nenhum brandiu estes instrumentos. Mantivemo-nos segurando a faixa inicial da marcha. Apesar de empurrões e agressões, conseguimos dobrar a estrada e conquistar o espaço para a marcha prosseguir. Levei no ombro esquerdo a cotovelada de um soldado, mas, apesar da dor que ainda sinto, o que me agrediu mais foi ver a insensibilidade de homens que deveriam defender o povo e não agredir cidadãos organizados que lutam pacificamente por seus direitos.
A marcha se desfez pela primeira vez, por uma hora, em frente ao edifício do Ministério da Fazenda para um ato público marcado pela alegria e descontração, além da brilhante palestra de Plínio de Arruda Sampaio que, em palavras extremamente simples, explicou a todos o que é modelo econômico, porque o modelo vigente no Brasil é injusto e qual a alternativa correta. Após uma hora, retomamos a marcha para o Congresso Nacional. Aí aconteceu o conlito mais grave. A Polícia Estadual buscava um pretexto para atacar. Queria, a qualquer custo, criar um incidente que alimentasse os jornais do dia seguinte. De fato, não podendo mais esperar, policiais que ocupavam um carro investiram sobre a multidão. Como os manifestantes não tinham espaço para ceder ao carro, o choque foi inevitável. Em horas assim, não há racionalidade nem se pode pedir juízo de ninguém. Assim mesmo, um jovem afirmou ter sido agredido porque viu dois soldados batendo em um lavrador caído no chão e foi socorrê-lo. Outros defendiam pessoas mais velhas e até uma senhora grávida que estava na marcha.
Esta foi a agressão que dói na alma: ver a polícia agredir o próprio povo, por puro ato de selvageria e prepotência, manifestação de uma luta de classes que alguns diriam superada ou que, hoje, toma outra cara. Não tomou não. Eu me senti na década de 70, em tempos da ditadura militar. Senti-me mais agredido ainda vendo no dia seguinte os grandes jornais trazendo como manchete: “Marcha do MST acaba em pancadaria”.
O Ato Público em frente ao Congresso foi belo e profundo. O MST, a V