França: acidente nuclear teria sido abafado

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Publicado sexta-feira, 4 de março de 2016 as 10:27, por: CdB

 

 

Incidente na instalação atômica de Fessenheim, em 2014, teria sido mais grave do que anteriormente divulgado, reportagens mostram documentos que comprovariam o uso de boro em desligamento emergencial de um dos reatores

 

Por Redação, com DW – de Paris:

 

Tanto a autoridade nuclear francesa, ASN, e a companhia que gerencia os dois reatores atômicos de Fessenheim, a também francesa EDF, supostamente não divulgaram a real gravidade do incidente ocorrido em 9 de abril de 2014, quando um dos reatores teve que ser desligado após a descoberta de vazamentos de água em diversos pontos.

Reportagens do diário alemão Süddeutsche Zeitung e da emissora pública alemã WDR afirmaram, nesta sexta-feira, que o incidente em Fessenheim, que fica na Alsácia, diretamente na fronteira com a Alemanha, poderia ter se tornado um dos “acidentes nucleares mais dramáticos da história na Europa Ocidental”.

Usina atômica francesa de Fessenheim, na Alsácia, próximo à fronteira com a Alemanha
Usina atômica francesa de Fessenheim, na Alsácia, próximo à fronteira com a Alemanha

Eles estão baseando suas afirmações num documento enviado pela ASN ao então chefe da instalação de Fessenheim em 24 de abril de 2014. A carta e a subsequente resposta revelam que o reator não tinha como ser desligado de forma normal, pois barras de controle estavam emperradas. O reator foi desligado por meio de adição de boro às caldeiras de pressão, um procedimento sem precedentes na Europa Ocidental, segundo um perito.

– Eu não sei de nenhum reator na Europa Ocidental que teve de ser desligado após um acidente com a adição de boro – disse o perito e consultor do governo da Alemanha sobre segurança de reatores nucleares, Manfred Mertins, aos meios de comunicação alemães.

As reportagens afirmam que o relatório oficial da ASN não contém informações sobre a adição de boro nem sobre hastes de controle emperradas. A gravidade do incidente também não foi comunicada à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Os reatores de Fessenheim entraram em operação em 1977 e 1978 e são os mais antigos da França. O governo francês tem dito repetidamente que fechará a unidade depois de fortes críticas de políticos franceses, alemães e suíços.

A Alemanha também entrou recentemente numa disputa com a Bélgica sobre o reator nuclear belga Tihange, também próximo da fronteira entre os dois países. Ele foi fechado em março de 2014, mas voltou a operar em dezembro do ano passado, apesar das preocupações com rachaduras em suas caldeiras de pressão.

A energia nuclear ainda é responsável por suprir três quartos da demanda energética da França. O governo, no entanto, aprovou no ano passado uma legislação que visa cortar a dependência do país em energia atômica.