O general acha pouco

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Publicado Quinta, 20 de Dezembro de 2018 às 07:19, por: CdB

O general da reserva Augusto Heleno, futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que a quantia depositada pelo motorista Queiroz na conta da mulher do presidente eleito “é irrisória”. Sua desastrada declaração demonstra o quanto estará empenhado nessa função, em que ele será uma espécie de braço direito de seu chefe no Palácio do Planalto.

Por Jaime Sautchuk - de São Paulo Primeiro, porque poderia ser qualquer trocado, mas era roubado dos cofres públicos, o que, no meu código de ética, é ilícito. Não tem tamanho.
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O general da reserva Augusto Heleno
O esquema montado no gabinete do filho do presidente eleito na Assembleia Legislativa do Rio era de funcionários fantasmas, cuja função era juntar dinheiro pro deputado Flávio (eleito senador), mandante do crime. Era um sistema engenhoso, com nuances pra esconder as operações do fisco. Os depósitos eram feitos regularmente pelos demais funcionários em uma conta, mas os saques, na maioria em dinheiro, eram sempre em valores pouco abaixo de R$ 50 mil, pois a partir daí dispara um alarme do Banco Central, que então repassa informações aos à Receita. Quem comandava a treta era o motorista Fabrício Queiroz, que está sumido, dizem que morando em Portugal. As investigações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, dão conta de que, nos últimos anos, esse funcionário do parlamentar passou longos períodos em viagens àquele país. Mas, recebia seu salário como se estivesse trabalhando normalmente. Contudo, seu chefe se faz de desentendido e diz que não sabia dessas andanças do laranja. Sobre a movimentação anormal de R$ 1,2 milhão em um ano na conta do motorista, o deputado diz que “quem tem que dar explicações é ele, não eu”. Vale lembrar que vários outros deputados da Alerj já estão presos por crimes semelhantes, numa operação feita pelo Coaf por demanda da Lava Jato, sempre ágil em suas condenações, quando quer. Prender o motorista e forçar acordo de delação premiada seria o normal, pela regra utilizada em outros casos. Tenho lido e ouvido defensores da família com argumentos dos mais estapafúrdios, tipo “essa é uma prática histórica, que todo deputado usa” ou “era isso que o PT fazia pra formar caixa dois”. Como se o fato de haver outros criminosos da mesma laia, ainda que fosse verdade, eximisse o criminoso de culpa. Aliás, seu pai ganhou as eleições à Presidência da República justamente com o argumento de que iria acabar com toda e qualquer corrupção. É de se supor, portanto, que sua família também esteja na lista de corruptos e mereça sanções previstas em lei. Ademais, se R$ 24.000,00 é “quantia irrisória”, não sei em que mundo eles vivem, pois a mim e à esmagadora maioria dos brasileiros isso é um bocado de grana. Foi bem lembrado nas redes sociais, também, que pelo menos a metade dos 370 mil presos no Brasil está enjaulada por crimes que envolvem valores menores do que esse. O ex-juiz Sérgio Moro, enturmado no governo que ajudou a construir, desde antes do golpe de 2.016, vem agindo pra esfriar o caso. E se encaminha pra armações maiores. Já foi definida, por exemplo, a transferência do Coaf ao Ministério da Justiça, pasta que ele irá comandar a partir de janeiro, com a costumeira “imparcialidade”. O general Augusto Heleno, por sua vez, terá sob sua alçada, no GSI, toda a área de informação e de relações institucionais, que inclui as Forças Armadas. Terá que se esforçar pra manter o prestígio que angariou em funções como o comando das tropas da ONU no Haiti e de comandante do Exército Brasileiro na região Norte, a Amazônia. Suas opiniões sobre a mesada da família de seu chefe no esquema da Alerj são pouco abonadoras. Fica parecendo que ele acha que roubaram pouco até agora.   Jaime Sautchuk, é jornalista. As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil
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