O nome composto revela a pompa de quem nasceu, na visão dos pais, para ser um tipo predestinado, de casta superior: Augusto Heleno.
Por Luciano Rezende - de Brasília Augusto, na Roma antiga, era o título dado a alguns imperadores. Alguém que merece respeito, reverência. Um estadista. Heleno, por sua vez, é referente ao povo grego, “portador do dom da profecia” ou “o reluzente”.Bolsonaro
Em um determinado trecho da entrevista o general afirma que conversou com Bolsonaro em 2016, já manifestando apoio ao seu nome. Perguntou se ele tinha grana para competir, o que Bolsonaro lhe respondera que só dispunha das redes sociais. Será que nosso ingênuo general acha que o envolvimento de empresas na avalanche de fake news que elegeu seu candidato foi de graça? Mas talvez o mais cínico e irônico da entrevista foi o nosso "augustíssimo" Heleno afirmar que “sempre foi um poder moderador”. Será a mesma moderação que, semana passada, o fez dar murros na mesa e pedir a prisão perpétua de Lula? Ou terá sido a mesma moderação de quem, na entrevista, desabafou ser “um grande opositor do PT e de tudo o que o cerca”? Fizesse jus ao seu nome, o general Augusto Heleno se orgulharia de ter sido indicado à ONU no governo Lula para comandar a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), em 2004. Era uma época muito distinta da atual, onde as Forças Armadas começavam a desempenhar o papel protagonista na geopolítica internacional, pleiteando assento no Conselho de Segurança da ONU. Mas com certeza, esse papel ativo e altivo de nossas Forças Armadas, não é bem assimilado por quem se acostumou a comer nas mãos dos Estados Unidos, desde os tempos da ditadura militar brasileira. O general Heleno descreve o Haiti com desprezo, resumindo a capital, Porto Príncipe, como um lugar em que “porcos e pessoas disputavam restos de comida em valas de lixo”. Sobre os programas sociais nos governos Lula e Dilma, diz nunca ter acreditado neles. Com relação ao Bolsa Família, diz que o mesmo deve “ter uma porta de saída”, e acrescenta: “Quanto tempo quem trabalha vai sustentar quem não tem emprego ou coisa parecida?”.Crise
Heleno parece se esquecer de que hoje ele faz parte de um governo que prometeu tirar o país da crise. Mais que isso. Heleno foi um dos que incentivou a deposição da presidenta Dilma e desde então assiste o desemprego galopar e a economia descambar. Cabe a ele e ao seu presidente apresentar essa “porta de saída” ao invés de só reverberar seu ódio contra o PT. Ao falar de sua formação, Heleno aproveita para defender as posições do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Justamente quem se formou em escolas militares, sendo doutrinado a combater comunistas, vem a público manifestar sua oposição a professores pretensamente doutrinadores. Seria irônico, não fosse trágico. Heleno é o símbolo decadente desta última safra de generais formados nos estertores da ditadura militar. Nada mais natural que, na atualidade, apoie um presidente apologista de torturadores e envolto a escândalos de corrupção de todos os níveis, assim como no passado apoiou (e sente orgulho disso) o general Sílvio Frota, um contumaz anticomunista que foi contra a abertura política no governo Geisel. O pavilhão nacional, “augusto símbolo da paz”, é pisado por generais como Heleno que destila ódio e invoca sempre a guerra contra quem pensa diferente. Nossas Forças Armadas merecem uma nova geração de generais que seja capaz de dialogar ao invés de babar pelos cantos da boca e esmurrar mesas.As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil