No dia 24 de agosto de 1954, há 67 anos, o presidente Getúlio Vargas se suicidou. Em seus últimos dias de vida ele foi atormentado por uma grande pressão por parte do exército, do congresso nacional e da imprensa. Seu suicídio causou comoção popular repercutindo nas forças políticas da época. Segundo historiadores, com esta atitude drástica ele conseguiu adiar por dez anos um golpe militar que poderia eclodir em 1954.
Por Carolina Maria Ruy – de Brasília
No período em que Getúlio Vargas comandou e exerceu forte influência não apenas na política, mas nas bases estruturais da sociedade brasileira o país passou de uma fase predominantemente rural, para um país urbano e industrializado. Tal transformação não consistiu apenas em uma mudança no modo de produção e de trabalho. Ela atingiu um sentido mais profundo, na mentalidade e cultura do povo que, dotado de um novo referencial legal, jurídico, econômico e nacional, gestou, enfim, a concepção de cidadania e civilidade condizente com o caráter industrial que se estabelecia.A tensão
A tensão no governo se agravaria ainda mais após um episódio conhecido como o atentado da Rua Toneleiros, em 5 de agosto de 1954. No episódio o major Rubens Florentino Vaz, da Força Aérea Brasileira (FAB), foi morto a tiros em frente à residência do deputado federal, forte opositor de Getúlio, Carlos Lacerda. Seguiu-se ao caso uma forte suspeita de que o ataque destinava-se, na verdade, à Lacerda. E com a descoberta de que os autores do crime, Alcino João Nascimento e Climério Euribes de Almeida, eram membros da guarda oficial, as suspeitas recaíram sobre o próprio presidente. Com isso ele foi pressionado pela imprensa e por militares a renunciar. Em sua última reunião, em 23 de agosto, os ministros não apresentavam alternativa à crise política, articulando por trás dos acontecimentos, a instauração de uma ditadura militar. Naquele dia Getúlio fez o seguinte registro em sua agenda: “Já que o ministério não chegou a uma conclusão, eu vou decidir: determino que os ministros militares mantenham a ordem pública. Se a ordem for mantida, entrarei com pedido de licença. Em caso contrário, os revoltosos encontrarão aqui o meu cadáver”. E na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954, se suicidou com um tiro no peito. No dia 24 sua carta testamento, endereçada ao povo brasileiro, foi lida pelas rádios. As últimas palavras de Getúlio Vargas, inscritas na carta, tornaram-se parte emblemática da história do país: “E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.O povo
O povo, então, tomou as ruas do Brasil manifestando pesar pela morte do presidente e indignação e revolta contra seus adversários. O cenário transformara-se completamente. O clima para a deflagração do golpe, que antes fervilhava na alta cúpula, esfriara por completo. Muitos historiadores afirmam que o suicídio de Getúlio Vargas adiou um golpe militar que pretendia depô-lo. E ainda, que na esteira de sua popularidade foi possível eleger os presidentes Juscelino Kubitschek (1965) e João Goulart (1961). A história dos últimos dias de Getúlio Vargas é contada no filme Getúlio, de João Jardim, lançado em 1º de maio de 2014, dia do 60º aniversário de sua morte. Assista o trailer:Carolina Maria Ruy, é jornalista, pesquisadora e coordenadora do Centro de Memória Sindical (CMS). É autora do livro O Mundo do Trabalho no Cinema.
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