O atual ideário ‘oficial’ da globalização em nada mudou a essência dos velhos pressupostos das relações entre as metrópoles e suas colônias, e simplesmente amalgamou antigas práticas. Que dizer do fato de haver 500 cópias do Código Da Vinci sendo exibidas em 500 dos 2.000 cinemas brasileiros?
A globalização é um termo nada consensual. Os franceses, por exemplo, o rejeitam, preferindo usar o sinônimo mundialização. Na verdade, esta escolha semântica pouco muda, porque a troca de vocábulos não é capaz de contribuir para que se deslindem os enigmas econômicos-políticos de nosso tempo. O que é ainda menos consensual são os significados histórico-politicos dos dois termos.
As grandes mídias tendem a reproduzir a idéia de que as relações internacionais globalizadas, tal como hoje estão construídas, são aspectos positivos de um destino promissor. Nada poderia ser feito para mudar isto. Resistir à globalização seria fazer rodar a história em direção contrária ao tão decantado e desgastado ideal de progresso. Os grandes veículos destacam o que consideram como necessidades para todos, mesmo que estas, de fato, atendam minúsculas parcelas do tecido social daqui e dos países mais ricos.
Curiosamente, nestes países, a reação aos pressupostos da globalização é mais vigorosa. Nos Estados Unidos e na Europa ocidental, inúmeros movimentos, sobretudo juvenis, têm ido às ruas protestar contra as políticas externas dos seus países, em muitos casos, na defesa dos interesses das populações pobres dos países em posição subalterna. Em Seattle, Gênova e Paris, a crítica, a organização e a mobilização contra a globalização foram, até o momento, maiores do que na maioria dos países do chamado Terceiro Mundo. Na América Latina, ainda pouco se vê, com exceção do Fórum Social Mundial, dos casos recentes da Bolívia, da Venezuela e de manifestações esparsas em todo o continente.
Estes jovens, tanto no sentido físico como no espiritual, vivendo no Norte e no Sul, defendem a idéia que a humanidade é uma só família e que nações, governos ou empresas não são proprietários do destino humano. Propõem uma distribuição mais eqüitativa dos recursos naturais e tecnológicos, o fim da escravidão provocada pelos mecanismos financeiros e industriais transnacionais e um maior respeito à natureza. Estes movimentos não são uníssonos, por vezes portam paradoxos e idealizações pouco realistas, mas têm como ponto de convergência, a negação do consenso em torno da atual ordem internacional. Vêem a globalização de modo muito particular, buscando alternativas frente a um destino desenhado pelo poder e pelas mídias como inexorável.
A cortina de fumaça que os argumentos pró-globalização constroem é extremamente variada. Um destes confirma a idéia de que viveríamos, hoje, a era da informação ou da comunicação. O ideal do progresso, caro ao positivismo clássico que o inscreveu em nossa bandeira, teria que ser ironicamente aumentado para o lema ‘ordem, progresso e informação’. Neste capitalismo informacional, os pobres mortais, que formam a maioria da população, teriam que ser ensinados a consumir de tudo, inclusive a informação, por extensão a informática e os produtos chaves da economia de nossa época – automóveis, celulares, artefatos culturais de massa, serviços bancários – sobretudo dívidas – etc -, para serem integrados e pertencentes ou excluídos da nova ordem.
Obviamente, não há pertencimento sem exclusão. Se todos pertencessem, não seria necessário educá-los para comprar os produtos globalizados e aceitar esta ordem internacional como uma derivação da natureza. Não seria preciso reforçar diuturnamente a idéia – usando as grandes mídias para isto – de que não se deve opor qualquer resistência. Não seria necessário insistir em distinções sociais reforçadas, tanto no plano material como no universo simbólico. A miséria e todas as suas mazelas necessitam, de acordo com os mesmos pressupostos, ser enquadradas como problemas de incapac