Golpe para voltar à ditadura?

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Publicado Sexta, 10 de Abril de 2015 às 14:00, por: CdB
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Colunista alerta - nas manifestações de protesto haverá gente interessada em nos levar de volta à ditadura

Com a aproximação do protesto programado para o dia 12 de abril é bom que os genuinamente contrários aos rumos tomados pelo governo prestem muita atenção nos golpistas e suas palavras de ordens. Na internet circulam até vídeos com aulas práticas ensinando como se deve agitar em favor do caos, criando as condições de uma intervenção militar. Políticos, como o deputado Jair Bolsonaro, comemoraram com entusiasmo o aniversário do golpe de primeiro de abril.

Golpe constitucional? Fico imaginando. Quem sabe à moda do senado romano ao convocar Júlio César e lhe entregar o poder absoluto para que Roma continuasse saqueando o resto do mundo. Mas não é preciso ir tão longe. Nos idos de 1964, não se pode esquecer a cena patética do Congresso Nacional, como se fosse um dia de festa, aplaudindo a posse do ditador Castelo Branco. Duvido que a maioria dos manifestantes tenha ideia das atrocidades cometidas durante a ditadura. Se tivesse, não teria elan para ir as ruas a pedir outro período de arbitrariedades e também de corrupção que não podia ser denunciada sob pena de ir parar nas masmorras do DOI-CODI, da Operação Bandeirantes que o antecedeu ou nas garras dos sádicos integrantes do CENIMAR.

É possível que esses manifestantes sequer tenham ouvido falar do livro A CASA DA VOVÓ do jornalista Marcelo Godoy, lançado em dezembro passado. E, se ouviram, foi por parte de gente que muito bem poderia integrar a elite de torturadores da ditadura. Ou admirador da tenente Neusa, uma das depoentes no livro e que confessa não ter se arrependido de nada que fez. “Fazia com satisfação e faria tudo de novo”, disse a tenente.

E o que fazia a tenente? Nada de mais. Coisas corriqueiras na época: matava. Nas palavras dela: “A gente matava e recolhia. Tinham de morrer mesmo”. Mas o importante a destacar, mais do que essa deformação de uma agente da ditadura, é a determinação dos comandantes e dirigentes militares ao condenarem à morte, sem apelação, os banidos por causa dos sequestros de diplomatas e os que fizeram curso de guerrilha no exterior. Quer dizer, o DOI-CODI, sob o comando de coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, não atuava apenas um órgão repressor, mas também como um tribunal com direito sobre a vida e morte dos que denominavam subversivos e terroristas.

A CASA DA VOVÓ – Uma biografia do DOI-CODI, do jornalista Marcelo Godoy, com depoimentos, entre outros, de 25 agentes da repressão. O livro é fruto de 10 anos de pesquisas do jornalista do Estadao. A propósito, Casa da Vovó foi a maneira carinhosa que os torturadores da laia da tenente Neusa tratavam a sede do DOI-CODI em São Paulo.

Infelizmente, na manifestação programada para o dia 12, haverá muitas bandeiras pregando a volta de tudo isso aí, confirmando a falta de escrúpulo da ultra direita e a inocência perversa dos que vão às ruas manipulados por ela.

Tarcísio Lage, jornalista, escritor, começou na Última Hora de Belo Horizonte no início dos anos 60. Com o golpe de 1964 teve de deixar a cidade e o curso de Economia na UFMG.  Até 1969, quando foi condenado pela Injustiça Militar, trabalhou em várias redações do Rio e São Paulo. Participou da tentativa de renovação da revista O Cruzeiro e da reabertura da Folha de São Paulo, em 1968. Exilado no Chile no final de 1969, trabalhou, em seguida, em três emissoras internacionais: BBC de Londres, Rádio Suiça, em Berna, e Rádio Nederland, em Hilversum, na Holanda, onde vive atualmente.  As Tranças do Poder é seu último livro.

Direto da Redação é um fórum, editado pelo jornalista e escritor Rui Martins

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