Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou que vai protocolar um requerimento para a convocação de algum representante do Facebook. Rodrigues voltou a criticar a tentativa de uso da rede social por Bolsonaro e aliados para a divulgação do tratamento precoce.
Por Redação - de Brasília
Defensores da cloroquina, os depoimentos dos médicos Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid foram esvaziados, nesta sexta-feira, com a retirada em grupo dos senadores independentes e de oposição. Os parlamentares deixaram clara a contrariedade ao “tratamento precoce” contra a covid-19, preconizado por governistas.
Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) recusou-se a fazer qualquer pergunta e os demais parlamentares de oposição adotaram a mesma linha.
— Essa irresponsabilidade não pode continuar. É uma reiteração do crime. Ele não pode chegar a tamanha irresponsabilidade. Os brasileiros estão morrendo. Ele tem pulsão por morte, mas precisa respeitar a memória de todos. Eu me recuso a fazer perguntas aos depoentes. Me recuso. Não dá para continuar nessa situação. A CPI tem o papel de dissuadir práticas criminosas — disse Calheiros, ao deixar o recinto.
Estudos clínicos
Já o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que vai protocolar um requerimento para a convocação de algum representante do Facebook. Rodrigues voltou a criticar a tentativa de uso da rede social por Bolsonaro e aliados para a divulgação do tratamento precoce.
— Por muito menos baniram Trump. O presidente (Bolsonaro) não pode comprometer a vida dos brasileiros — afirmou.
Zimerman, um dos depoentes, é infectologista e ex-presidente da Associação Gaúcha de Profissionais em Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar. Ele defende o “tratamento precoce” com o uso de remédios como a cloroquina —cuja ineficácia para a covid-19 já foi comprovada em estudos clínicos. Ele foi convidado para depor pelos senadores bolsonaristas Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (DEM-RO).
Alves, por sua vez, é diretor-presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP) e apontado como um dos coautores da nota informativa do Ministério da Saúde que dava orientações para o “tratamento precoce” da covid-19.
Investigados
Antes de iniciar a fase dos depoimentos, a direção da CPI comunicou que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e atual titular da pasta, Marcelo Queiroga; além do ex-chanceler Ernesto Araújo e outros envolvidos nos crimes investigados pela CPI passarão da condição de testemunhas para a de investigados.
Houve alguma resistência entre os senadores para que o ministro da Saúde fosse incluído na lista, pois alguns julgam que ainda é necessário um maior aprofundamento das investigações para indicar Queiroga. Ainda na noite passada, porém, Calheiros decidiu incluir o ministro Queiroga entre os investigados na CPI.
— Eu decidi incluir desde já por causa do que ele falou para o Tedros Adhanom [diretor da Organização Mundial da Saúde], falando em tratamento precoce e uso de cloroquina — adiantou Calheiros.
Derrota
Na condição de investigado, Queiroga fica sujeito a operações mais aprofundadas de quebra de sigilo e até de busca e apreensão pela CPI, junto com as demais 13 pessoas listadas pela comissão. A maioria delas é ligada ao presidente Jair Bolsonaro, o que representa uma derrota para o governo na CPI e expõe a articulação para enquadrar e responsabilizar o chefe do Planalto pelo descontrole da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Adiante, a lista dos investigados pela CPI da Covid:
- Arthur Weintraub - ex-assessor internacional da presidência da República;
- Carlos Wizard - empresário;
- Eduardo Pazuello - ex-ministro da Saúde;
- Elcio Franco - ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde;
- Ernesto Araújo - ex-ministro das Relações Exteriores;
- Fabio Wajngarten - ex-secretário de Comunicação;
- Francieli Fantinato - coordenadora do Programa Nacional de Imunização;
- Hélio Angotti Neto - secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde;
- Marcellus Campêlo - ex-secretário de Saúde do Amazonas;
- Marcelo Queiroga - ministro da Saúde;
- Mayra Pinheiro - secretário de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde;
- Nise Yamaguchi - médica oncologista;
- Paulo Zanotto - virologista;
- Luciano Azevedo - anestesiologista.