Haiti: problema do país não é só militar, mas social e econômico

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 11 de abril de 2005 as 17:47, por: CdB

Uma missão internacional, liderada pelo escritor argentino Adolfo Pérez Esquivel (Premio Nobel da Paz) e pela militante argetina Nora Cortiñas (Mãe da Praça de Maio), visitou o Haiti para concluir um relatório sobre a situação dos direitos humanos e da atuação da missão de paz da ONU. De acordo com o relatório preliminar, os problemas do país mais pobre das Américas não são apenas militares, mas também sociais e econômicos.

De acordo com a coordenadora brasileira da Missão Internacional de Investigação e Solidariedade com o Povo Haitiano, Sandra Quintela, o próprio general brasileiro Augusto Heleno Pereira, comandante das tropas militares da ONU, concorda que o problema do Haiti não é somente militar.

– Há uma reclamação geral da direção da Minustah sobre o não envio dos recursos internacionais para reconstrução do país. A ONU até agora só mandou a tropa militar e praticamente mais nada – protesta.

A brasileira Sandra Quintela é da direção da campanha Jubileu Sul-Brasil, que luta por uma revisão ou perdão da dívida externa.

A missão também é composta pelas entidades brasileiras Conselho Brasileiro das Igrejas Cristãs, Ordem dos Advogados do Brasil e Via Campesina. Segundo Sandra Quintela, o Haiti é um país dividido sobre a presença de tropas militares da ONU.

– É impressionante o antagonismo. Se você conversa com os órgãos oficiais, seja do executivo, do legislativo ou do judiciário, todos eles dizem que é necessária a presença militar no país. Mas quando você conversa com qualquer organização da sociedade civil, de mulheres, de direitos humanos, camponeses ou mesmo pessoas na rua, todos dizem que não estão em guerra e que não necessitam de ocupação militar – relata Quintela.

A representante do Jubileu Sul-Brasil afirma que os movimentos sociais haitianos questionam a política do governo provisório de utilizar quase todos os recursos para o pagamento da dívida externa do país.

– Quase 90% da dívida externa do Haiti é com agentes multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI. O governo não prioriza as dívidas social, ambiental e política com o povo haitiano, mas paga a dívida financeira. E os que emprestam condicionam o empréstimo ao pagamento da dívida – explica.