Haiti vira barril de pólvora

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Publicado quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004 as 20:22, por: CdB

A situação nas cidades do Haiti piorou nesta quinta-feira com o agravamento da guerra civil e deixou o país vulnerável como um barril de pólvora na América Central. Os Estados Unidos e França vão enviar uma força militar para avaliar o problema de perto e o presidente Jean-Bertrand Aristide disse que dará a vida pelo país para não ser deposto por forças paramilitares. Os rebeldes que assumiram o controle de uma cidade declararam um país independente, nomeando um governo e um presidente.

Eufóricas, cerca de 20 mil pessoas frustradas com o governo de Aristide assistiram à declaração na praça principal de Gonaives, no Oeste. O líder rebelde Buter Metayer, antes aliado do presidente Aristide, chegou ao local saltando e com os braços erguidos, como se fosse um boxeador.

De terno branco e óculos de aros dourados, ele comandou a multidão, que gritava: “Sozinhos somos fracos, juntos somos fortes, juntos somos a resistência.” Os rebeldes batizaram o seu país de Artibonite, o nome da região ao redor de Gonaives, dedicada ao cultivo de arroz. Metayer foi o grande responsável pela expulsão da polícia na cidade. Nos confrontos, 50 pessoas, entre civis guerrilheiros, inocentes e militares morreram nos confrontos que se iniciaram semana passada.

Em Washington, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, disse pela primeira vez que os Estados Unidos estão abertos à possibilidade de que Aristide renuncie para pôr fim à crise, que desde 5 de fevereiro se transformou em uma rebelião armada. Relutante em enviar forças policiais ao país, mas aparentemente incapaz de mediar a crise, Powell disse que a saída de Aristide não faz parte de nenhum plano de paz possível.

_Mas, se for alcançado um acordo que se mova em outra direção, está bem – disse ele à rádio ABC.

O presidente

O ex-padre Aristide, outrora visto como um herói da democracia, mas agora acusado de corrupção e violência política, deixou claro que não pretende abandonar o poder. Aristide extinguiu o Exército em 1994, logo após voltar ao poder, com a ajuda dos EUA, após três anos afastado por um golpe

_Não há dúvida de que estou disposto a morrer se isso for necessário para defender o país – afirmou ele a centenas de policiais em uma cerimônia que homenageou mais de 12 oficiais mortos no Palácio Nacional da capital.

Aristide disse aos policiais que “com a força pacífica, a força moral, a força cívica, a força constitucional e a força democrática” será possível derrotar a rebelião. “A guerra custa muito. A paz pode custar mais ainda”, disse ele.

O estopim

Os homens de Metayer deram início à rebelião no dia 5, quando expulsaram a polícia, após vários meses de violência desencadeada pelo assassinato do líder original da milícia, Amiot Metayer, irmão dele. Guy Philipe, ex-chefe regional de polícia que foi para o exílio depois de ser acusado por Aristide de tramar um golpe, voltou ao Haiti para se unir à rebelião e foi nomeado chefe das Forças Armadas de Artibonite.

Muitos soldados exilados estão voltando ao país para ajudar na rebelião e derrubar Aristide.