Em meio ao acirramento dos confrontos, autoridades afrouxam regras para atuação das forças de segurança e banem máscaras nos protestos, o que poderia expor os manifestantes pró-democracia.
Por Redação, com Reuters – de Hong Kong
As autoridades de Hong Kong planejam, com duas medidas, elevar a pressão sobre os manifestantes pró-democracia que há quase quatro meses vão às ruas da região semiautônoma governada pela China.

O governo afrouxou diretrizes sobre o uso da força pela polícia e decidiu nesta sexta-feira banir máscaras, um dos símbolos dos protestos e um dos recursos dos manifestantes para se manterem anônimos, com base em uma lei de emergência da era colonial que não era usada há meio século.
– As pessoas estão se perguntando se Hong Kong pode voltar ao normal. Hong Kong ainda é um lugar onde podemos ter o nosso lar? – disse a governante Carrie Lam, na entrevista coletiva em que anunciou a proibição das máscaras. “Devemos conter a violência, que agora está por toda parte em Hong Kong.”
Segundo a agência de notícias Reuters, o afrouxamento das restrições ao uso da força entrou em vigor pouco antes dos confrontos na terça-feira, os mais violentos desde o início dos protestos e que acabaram ofuscando as celebrações na China marcando o aniversário de 70 anos do regime do Partido Comunista.
Com maior poder, a polícia disparou cerca de 1,4 mil bombas de gás lacrimogêneo, 900 balas de borracha e seis tiros. Os manifestantes atiraram bombas de fabricação caseira e empunharam paus.
Mais de 100 pessoas ficaram feridas, incluindo um estudante do ensino secundário que foi alvejado no peito. Foi a primeira vez que um manifestante foi baleado por munição letal. O jovem foi processado por atacar um policial e pode pegar até dez anos de prisão.
Nos documentos aos quais à agência inglesa de notícias Reuters teve acesso, o manual da polícia muda algumas diretrizes sobre como os agentes poderiam usar a força. O texto removeu uma frase que eximia os policiais de culpa por suas ações.
A polícia da antiga colônia britânica era elogiada pelo seu profissionalismo em comparação com outras forças de segurança na Ásia. Mas a opinião pública tornou-se cada vez mais hostil em relação a ela nas últimas semanas.
Os protestos começaram há cerca de quatro meses em oposição a uma lei, já derrubada, que permitiria que a chefe de governo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como para a China continental.
Lei
Os defensores da lei argumentavam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, Hong Kong poderia se transformar num “refúgio para criminosos internacionais”.
Os manifestantes, por outro lado, dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma Justiça politizada que não garante a salvaguarda dos direitos humanos.
Mesmo com a retirada da lei, as manifestações não dão mostras de que vão cessar, em meio aos temores de que o território perca autonomia.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”. É exatamente isso que os opositores à nova lei garantem estar agora em xeque.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o governo central chinês responsável apenas pelas relações externas e defesa.