Por Redação, com ABr – de Brasília:
O novo diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), professor Marcelo Viana, tomou posse na quinta-feia, no Rio de Janeiro com o desafio de aumentar o nível de excelência da instituição e difundir a matemática no país. Ele disse que assume a instituição em um “momento de grande projeção nacional”, com o sucesso da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), que alcançou este ano 18 milhões de estudantes, em praticamente todos os municípios do país. E, ainda, projeção internacional, com a Medalha Fields, considerada Prêmio Nobel da matemática, concedida ao pesquisador do Impa Artur Ávila, no ano passado.
– O desafio é aumentar o nível. O Impa vem num crescendo desde a fundação, mas nós temos que ser mais ambiciosos, tanto em termos da projeção internacional, porque o objetivo não é ganhar uma Medalha Fields, é ter a cada oportunidade, a cada quatro anos, possíveis candidatos a ganhadores brasileiros. Nosso objetivo também tem que contribuir mais para a matemática brasileira, atuando mais em outros segmentos – afirmou.
Viana afirmou que, apesar de o Impa ser uma instituição pequena, tem uma capacidade muito grande de mobilizar outros setores para multiplicar o alcance das ações, como ocorre na organização da Obmep e de outras iniciativas educacionais. Ele cita estudo feito em 2012, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que reforça a urgência de se melhorar o ensino de matária, fundamental para o desenvolvimento tecnológico do país.
– Um estudo feito pela Unicamp questiona a situação da engenharia no Brasil, partindo do princípio de que, para ser engenheiro, você tem que ter um certo nível de proficiência em matemática. Eu concordo. Eles analisam o resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) para saber qual é o percentual de jovens brasileiros que atingem esse nível de proficiência. Menos de 4% dos nossos jovens de 15 anos tem conhecimento e desenvoltura em matemática que permitem que venham a ter profissões tecnológicas, de engenharia. Isso é um número catastrófico. Essa circunstância inviabiliza o próprio desenvolvimento tecnológico do país.
De acordo com o professor, os próximos anos serão de muita efervescência para o país na área de matemática, com a realização da Olimpíada Internacional no Rio de Janeiro, em 2017, e do Congresso Internacional, em 2018. Viana cita, também, o projeto de lei 2496/2015, já aprovado pela Câmara dos Deputados e em análise pelo Senado, que institui o Biênio da Matemática, em 2017 e 2018.
– Não são só os eventos, nós queremos que esse biênio seja um conjunto de iniciativas para disseminar o conhecimento da matemática, que é temida, incompreendida. Não é um problema específico nosso, mas, no Brasil atinge proporções catastróficas para o desenvolvimento do país. Nós queremos mudar a imagem pública da matemática, ajudar a mudar o modo como a matemática é ensinada nas escolas e trazer o país para um outro patamar. Se nós queremos chegar a um candidato à Medalha Fields a cada quatro anos, é preciso que toda a matemática no Brasil seja alçada a um patamar completamente diferente.
Outro projeto, para início em 2016, é a expansão física do Impa, com a construção do novo campus no terreno ao lado do atual, no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, que foi doado para a instituição. O ganhador da Fields, Artur Ávila, lembra que a situação econômica e política atual está complicada, o que pode dificultar os planos para o avanço da ciência do país. Mas que no longo prazo, o objetivo do Impa é liderar uma descentralização das instituições científicas brasileiras para estimular o conhecimento da matemática na população.
– As pessoas são desestimuladas com a matemática muito cedo, porque acham que não é para elas, que é uma coisa chata, e aí nem olham, nem aprendem e tentam evitar ao máximo. Isso vem um pouco de como foi apresentada no início a matemática para eles, seja na escola, ou como os pais falam sobre a matemática, ou como os amigos falam. A gente pode ter um efeito positivo nessa direção através de programas como as olimpíadas de matemática, mas de outras maneiras, como a matemática chega através das mídias. O Impa faz isso diretamente. O que eu faço para representar um pouco e falar, como eu falei na Flip (13ª Festa Literária Internacional de Paraty), para pessoas que não são de matemática, e tentar passar isso, que talvez as pessoas não gostem de matemática por não conhecê-la e dar uma chance para conhecer. De repente vão chegar à conclusão que é uma coisa que é para eles também.
Marcelo Viana substitui o professor César Camacho, que foi diretor do Impa por três mandatos, desde 2004. Viana é graduado em matemática pela Universidade do Porto e fez doutorado no Impa em Sistemas Dinâmicos. Preside o Comitê Organizador do Congresso Internacional de Matemáticos, marcado para ocorrer no Brasil, em 2018. Foi do Conselho Deliberativo do CNPq e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, além de ocupar cargos na International Mathematical Union, União Matemática da América Latina e do Caribe, na CAPES e na Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento.
Impa: novo diretor promete ampliar projeção da matemática
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Publicado sexta-feira, 18 de dezembro de 2015 as 14:21, por: CdB